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31/Mar/2021

Cerrado: estudo indica empresas ligadas ao desmate

Estudo do The Chain Reaction Research (CRR), think tank com sede nos Estados Unidos que faz análises de risco de sustentabilidade, aponta que a Bunge foi a trading mais exposta ao risco de originar soja de fornecedores que desmataram áreas no Cerrado em 2020. O estudo não faz diferença entre desmatamento ilegal e legal (autorizado pela legislação brasileira). Para a Bunge, o CRR considera que o risco de exposição ao desmatamento é alto em 13.154 hectares, nos quais há relacionamento de compra confirmado com produtores em áreas desmatadas. Já o risco médio, relacionado ao relacionamento de compra confirmado com o fornecedor, mas não para a propriedade onde ocorreu o desmatamento, inclui 14.054 hectares. Outros 64.283 hectares teriam risco baixo, o que significa propriedades com desmatamento em um raio de 25 Km dos silos da companhia no Cerrado. Com isso, o risco total da empresa seria de 91.491 hectares. Depois da Bunge, o segundo maior risco apontado é da Cargill, em 44.644 hectares.

Outras tradings que têm risco calculado pelo estudo são LDC, Cofco e ADM. A área total com risco de exposição ao desmatamento para a Bunge é, contudo, 14% maior do que a das outras quatro empresas somadas. O relatório também calcula o risco de empresas de carne e varejo, mas este é bem menor do que para as tradings. O levantamento foi feito identificando fornecedores diretos de tradings e relações de compra com grupos produtores de soja no Cerrado. A Aidenvironment, parceira do CRR, desenvolveu um conjunto de dados geoespaciais internos para avaliar o risco de sustentabilidade dos produtores de soja, tradings, frigoríficos e varejistas no Brasil. Entre 2018 e 2020, a Aidenvironment monitorou focos de desmatamento para identificar e relatar eventos mensalmente. Os alertas foram rastreados até as cadeias de fornecimento de commodities para determinar os atores por trás do desmatamento. O projeto determinou ligações da cadeia de abastecimento entre produtores e tradings de soja por meio de registros públicos, pesquisas documentais e conjuntos de dados de parceiros locais no Brasil.

O desmatamento do Cerrado em 2020 totalizou 734.010 hectares, um aumento de 13,2% em relação a 2019, com base em dados do Prodes, de monitoramento por satélite dos Biomas. Desse total, 207.813 hectares foram desmatados em fazendas que já possuíam áreas de plantio de soja desde 2017. O CRR estimou, com isso, que 28,3% do desmatamento total do Cerrado em 2020 estava relacionado à expansão da oleaginosa. Mais da metade do desmatamento causado pela soja no Cerrado (110.333 hectares) está relacionada a produtores de soja proeminentes. O estudo aponta 10 empresas e grupos produtores de soja com desmatamento no Cerrado em 2020, e a SLC Agrícola lidera o ranking, com 10.152 hectares desmatados. No próprio levantamento, contudo, o CRR afirma que a derrubada da vegetação do Cerrado nas fazendas da SLC parece estar em linha com o Código Florestal do Brasil. O documento reconhece que o Código Florestal exige que proprietários privados no Cerrado preservem apenas 20% a 35% da vegetação nativa, enquanto na Amazônia esse percentual pode chegar a 80%.

A SLC teria se comprometido em setembro do ano passado a conter o desmatamento do Cerrado e transferir a produção apenas para áreas já desmatadas e informado que a política entraria em vigor após a conversão de 5 mil hectares de vegetação de Cerrado, limite que já teria sido ultrapassado. Entre os principais clientes da SLC estão Cargill e Bunge. As tradings citadas no estudo, como membros do Soft Commodities Forum (SCF), se comprometeram com uma estrutura comum para relatar e monitorar o progresso de cadeias de suprimentos transparentes e rastreáveis para a soja no Cerrado. No entanto, ainda não está claro como as promessas do SCF se relacionam com seus compromissos de excluir a conversão de toda a vegetação nativa do Cerrado e de implementação de mecanismos eficazes de não conformidade. O próprio estudo reconhece que nenhuma das tradings incluídas na análise apoia o Manifesto do Cerrado, carta pública de 160 empresas pedindo que as multinacionais parem de comprar soja de áreas desmatadas (legal ou ilegalmente) no Cerrado após 2020.

A Bunge informou que não teve acesso prévio ao estudo para verificar as fontes ou a metodologia utilizada, mas afirmou que os números não correspondem à realidade das compras da empresa no Cerrado. Por meio da política Global de Não-Desflorestamento, a Bunge está comprometida em alcançar cadeias de fornecimento livres de desmatamento até 2025. Esse é o compromisso mais ambicioso nesta escala no setor e a empresa vai continuar a usar sua posição de mercado para liderar o progresso da indústria nessa direção. Esse compromisso se estende a todas as regiões em que a Bunge opera, incluindo fornecimento direto e indireto. A Bunge informou que não compra soja de áreas desmatadas ilegalmente e que monitora 8 mil fazendas no Cerrado, alcançando mais de 11,6 milhões de hectares, que correspondem a 96% da soja comprada diretamente no bioma. O monitoramento usa tecnologia de satélite de última geração e é capaz de identificar mudanças no uso da terra e plantio de soja em cada fazenda de onde a soja é originada.

A empresa informou ainda ter 100% de rastreabilidade nessas fazendas. Embora o compromisso de eliminar o desmatamento das cadeias de suprimento inclua um prazo para 2025, alguns produtores já não estão na cadeia de fornecimento da empresa. A Bunge reconhece o importante papel que pode desempenhar, mas acredita que qualquer solução duradoura e escalável vai demandar participação e engajamento com nossos parceiros ao longo da cadeia de fornecimento, de produtores a clientes, com compensação aos produtores que no fim das contas terão que abdicar de seu direito de produzir na terra que possuem e preservam. Esse é o motivo pelo qual a Bunge trabalha por meio de associações, e iniciativas como o Soft Commodities Forum, e em parcerias indiretas com seus pares na cadeia de fornecimento para garantir sucesso em toda a indústria. A Cargill informou estar firmemente comprometida em eliminar o desmatamento (incluindo a conversão legal) de suas cadeias de abastecimento até 2030. Os esforços estão sendo acelerados para alcançar esse compromisso.

A Cargill, junto com a indústria, agricultores, governos locais e clientes, afirma ter a responsabilidade de transformar a cadeia de abastecimento de alimentos e está interagindo com as partes interessadas todos os dias para fazer progresso. A Cargill está acelerando esforços na América do Sul para um fornecimento 100% livre de desmatamento e conversão no menor tempo possível. A empresa está focada no bioma Cerrado e o compromisso com a mudança começa com o engajamento dos agricultores. A empresa trabalha para identificar mecanismos inovadores baseados no mercado para fornecer incentivos aos agricultores para que não desmatem quando têm o direito legal de fazê-lo. É preciso ajudá-los com um conjunto mais amplo de recursos para melhorar continuamente suas práticas agrícolas e a resiliência das comunidades locais. A SLC Agrícola informou que encerra o ciclo de abertura de novas áreas em todas as suas fazendas a partir da safra 2020/2021.

Esse encerramento do ciclo de expansão, via transformação de áreas, deverá ocorrer ainda dentro deste ano e possibilitará a divulgação de compromisso com a não abertura de novas áreas para a produção agrícola. Nos próximos anos, mesmo sem essa conversão, a SLC será capaz de alcançar as metas de produção e rentabilidade. A abertura de novas áreas em 2020 atingiu 11 mil hectares, restando para 2021 uma área a ser aberta de 1.600 hectares, que ainda depende de liberação. A finalização dessa prática se mantém em linha com o foco da companhia que, desde 2015, é de crescimento asset light, voltado para a operação exclusivamente em áreas maduras. A SLC reforçou que a abertura de áreas pela empresa sempre foi feita de forma legal, respeitando todas as normas e com as devidas licenças, com o objetivo de garantir a produção de alimentos. A empresa afirma preservar 33% da área total de suas fazendas e contar com mais de 97 mil hectares de áreas nativas. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.