15/Mar/2021
A tendência é de alta dos preços da soja no Brasil, com cotações futuras em Chicago sustentadas ao redor dos US$ 14 por bushel, dólar em patamares elevados no Brasil, atraso dos embarques do grão brasileiro, quebras na safra da Argentina e demanda externa e interna aquecidas, com parte expressiva da atual safra brasileira já comercializada. Os futuros de soja negociados na Bolsa de Chicago (CBOT) fecharam praticamente estáveis na sexta-feira (12/03). O mercado foi influenciado pelo avanço do dólar ante o Real, que tende a estimular as vendas externas brasileiras, e pela perspectiva de uma safra recorde no Brasil, apesar dos atrasos na colheita. O vencimento maio da oleaginosa cedeu 0,25 cent (0,02%), para US$ 14,13 por bushel. A Bolsa de Buenos Aires cortou em 2 milhões de toneladas sua estimativa de produção da oleaginosa no país em 2020/2021, para 44 milhões de toneladas. Segundo o relatório da Bolsa, o saldo negativo das precipitações em fevereiro, junto com as altas temperaturas durante o período de enchimento de grãos nas lavouras implantadas mais cedo, causou perdas irreversíveis no rendimento esperado nas principais zonas de cultivo.
Apesar dos atrasos na colheita, a perspectiva é de uma safra recorde no Brasil. A estimativa da nossa Consultoria é de produção de soja no País em 2020/2021 de 135,3 milhões de toneladas, 8,4% acima da temporada anterior, cuja colheita foi de 124,8 milhões de toneladas. Os preços da soja registram oscilações expressivas, influenciados pelas variações do dólar e por divulgações de relatórios de oferta e demanda. Na terça-feira (09/03), a moeda norte-americana atingiu R$ 5,78, mas recuou nos dias seguintes, indo para a faixa dos R$ 5,56. Do lado da oferta e demanda, o relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indicou aumento na oferta agregada mundial. Além disso, a lentidão da colheita no Brasil, a necessidade do cumprimento de contratos, especialmente ao mercado internacional, dificuldades logísticas e a paridade de exportação também resultaram em oscilações nos valores domésticos.
Assim, enquanto no dia 9 de março, o Indicador da soja Paranaguá ESALQ/BM&F, referente ao grão depositado no corredor de exportação e negociado na modalidade spot (pronta entrega), no Porto de Paranaguá, atingiu o maior valor nominal da série, cotado a R$ 179,30 por saca de 60 Kg, nos dias seguintes cedeu 4,5%. No balanço, o Indicador registra recuo de 0,4% nos últimos sete dias, cotado a R$ 171,32 por saca de 60 Kg. No interior do País, os valores seguem firmes. Nos últimos sete dias, as altas são de 1,3% no mercado de balcão (preço pago ao produtor) e de 0,9% no mercado de lotes (negociações entre empresas). Neste caso, a sustentação vem da receita com os derivados, que segue mantendo atrativo o esmagamento desde o início de 2020. Nos últimos dias, as valorizações do óleo de soja mais que compensaram as quedas nos preços do farelo. No Porto de Paranaguá (PR), a paridade de exportação de soja indica preços a R$ 171,97 por saca de 60 Kg para abril; de R$ 173,52 por saca de 60 Kg para maio; de R$ 175,53 por saca de 60 Kg para junho; de R$ 177,71 por saca de 60 Kg para julho e de R$ 181,14 por saca de 60 Kg para agosto.
Para 2022, a paridade sinaliza preços de R$ 157,00 a 162,30 por saca de 60 Kg, considerando o dólar futuro negociado na B3. Segundo o relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), divulgado no dia 9 de março, em termos mundiais, a oferta foi estimada em 361,8 milhões de toneladas, 0,2% acima do relatório anterior e 6,7% superior à safra passada. Da oferta, 323,6 milhões de toneladas devem ser esmagadas (com crescimento de 4% sobre a temporada passada), 21,3 milhões de toneladas devem ser direcionadas ao consumo humano (+4,7%) e 26,5 milhões de toneladas, para ração animal (+4,8%). Com isso, os estoques mundiais devem ceder, e a relação estoque/consumo total deve cair para 22,6%, a menor desde 2012/2013. O USDA projeta que 166,9 milhões devam ser transacionados entre países em 2020/2021, sendo que as exportações do Brasil podem cair frente às do ano anterior e as dos Estados Unidos, subir 33,8%. A China deverá esmagar 98 milhões de toneladas.
O consumo global de óleo de soja deve ser recorde, de 59,92 milhões de toneladas, em decorrência da menor produção global de óleo de palma, principal concorrente do coproduto de soja. A produção global de óleo de soja deve crescer 4,0% na temporada atual, estimada em 60,59 milhões de toneladas, um recorde. As transações também devem ser históricas, estimadas em 12,4 milhões de toneladas. A China é a maior demandante de óleo de soja, devendo consumir 18,51 milhões de toneladas na safra 2020/2021, um recorde. Os Estados Unidos são o segundo principal consumidor do óleo, com a demanda estimada em 10,66 milhões de toneladas. No país, 65% do produto deve ser destinado ao setor alimentício e 35%, ao industrial. O Brasil é o terceiro maior demandante mundial de óleo de soja, e o USDA indica que o consumo nacional chegue em 7,95 milhões de toneladas, um recorde. O setor industrial deve ser responsável por 52,2% do consumo nacional e o alimentício, pelo restante. Esta é a segunda safra seguida em que o consumo industrial ultrapassa o alimentício no País. Na Argentina, o consumo de óleo deve diminuir 10,6%, estimado em 1,94 milhão de toneladas, diante da menor demanda do setor de biodiesel. Na Argentina, 74,6% da produção de óleo deve ser destinada ao setor industrial e apenas 25,4%, ao alimentício.
Diante disso, na Bolsa de Chicago, os contratos futuros de óleo de soja operam nos maiores patamares nominais desde 2012. No Brasil, o óleo de soja (posto em São Paulo com 12% de ICMS incluso), o preço é o maior em cinco meses. O maior processamento de soja, no intuito de suprir a demanda de óleo de soja, consequentemente gera maior oferta de farelo de soja. A produção global deste subproduto deve somar 254,14 milhões de toneladas na safra 2020/2021. O lado bom é que o consumo global de farelo de soja deve crescer 4%. As exportações da Argentina (principal abastecedor global de farelo de soja) deve ser a menor das últimas três temporadas, estimadas em 27,4 milhões de toneladas. O consumo doméstico no país vizinho deve ser recorde, de 3,25 milhões de toneladas. Um cenário similar ocorre no Brasil, onde o consumo doméstico é previsto em volume recorde, de 19,5 milhões de toneladas, mas a exportação deve ceder 4%, estimada em 16,8 milhões de toneladas. Com isso, os Estados Unidos (terceiro maior exportador global) adquiriram uma maior fatia nas exportações de farelo, podendo embarcar volume recorde nesta temporada, de 12,92 milhões de toneladas. O consumo norte-americano também está previsto em volume histórico, de 34,74 milhões de toneladas na safra 2020/2021. Fontes: Cepea e Cogo Inteligência em Agronegócio.