ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

22/Out/2020

Atrasos no Brasil sustentam os prêmios e futuros

A demanda da China pela soja dos Estados Unidos e a percepção de que o país asiático terá de recorrer por mais tempo ao produto norte-americano após os atrasos no plantio no Brasil têm dado sustentação aos preços futuros da oleaginosa na Bolsa de Chicago. O contrato mais líquido, para janeiro, voltou a subir nesta quarta-feira (21/10) e acumula ganhos de mais de 4% em um mês. Analistas não descartam correções no curto prazo, mas avaliam que, em um cenário de estoque limitado nos Estados Unidos, quaisquer novas ameaças climáticas à safra da América do Sul ao longo do período de plantio e desenvolvimento abrem espaço para altas adicionais dos futuros na Bolsa de Chicago e dos prêmios pagos pela safra 2020/2021 do País. A China comprou em 2020 grandes volumes de soja do Brasil para suprir as suas necessidades e recorreu aos Estados Unidos principalmente para entrega no último trimestre, aproveitando a “Fase 1” do acordo comercial entre as duas nações.

O normal seria, depois que passar esse período, entrando a safra do Brasil, a China se voltar para os embarques do País, porque é a janela de exportação do Brasil e a China já comprou volumes para a safra 2020/2021. O problema é que, com atraso no plantio da soja no Brasil, fica a dúvida de quanto o Brasil vai conseguir exportar em janeiro. Normalmente, os embarques de janeiro são compostos pelo que sobra da safra anterior e pelos primeiros lotes formados da nova temporada. Mas, em 2021 não vai ter soja da safra anterior, porque praticamente acabou a soja do Brasil. os compradores oferecem preço cada vez mais alto e não conseguem originar o grão. Ou seja, não tem estoque de passagem, e a soja vai demorar para chegar em janeiro. Mesmo que os produtores brasileiros consigam plantar rapidamente daqui para frente, se as previsões de regularização das chuvas se confirmarem, o atraso inicial reduz o volume que deve ser escoado nos primeiros meses de 2021. O que se espera com isso é que a China continue comprando nos Estados Unidos para embarque até fevereiro, caso contrário o país asiático pode ficar descoberta, sem soja no começo do ano.

O prolongamento da demanda chinesa nos Estados Unidos aperta ainda mais os estoques norte-americanos. Em seu último relatório de oferta e demanda, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) reduziu a previsão de estoque final do país em 2020/2021 de 12,52 milhões de toneladas para 7,90 milhões de toneladas, após o relatório trimestral de setembro mostrar uma virada de ciclo mais apertada do que o esperado e com ajustes na expectativa de área colhida e demanda na atual temporada. O número representa queda de 44% ante a safra 2019/2020. Se houver problema climático capaz de causar quebra de safra no Brasil, a China precisaria importar mais dos Estados Unidos, que estão com estoques reduzidos. Isso causaria uma pressão ainda maior nos estoques norte-americanos, puxando a Bolas de Chicago para cima. No Brasil, do fim de setembro para cá, os preços estão subindo, mas as vendas são escassas. Por vezes não tem nem mesmo indicação nominal de preço porque não tem mais mercado para 2020. Isso é um sinal de que terá pouca soja na virada do ano.

Como os preços internacionais subiram muito nos últimos 30 dias, a China pode frear as compras nos Estados Unidos, mas sem interrompê-las totalmente. A China fica numa situação complicada, pois se não comprar agora e a safra do Brasil quebrar, o preço pode subir mais ainda e vai ter menos soja. É bastante factível a possibilidade de a Bolsa de Chicago esticar ganhos caso se mantenha a combinação de demanda chinesa por soja dos Estados Unidos e incerteza sobre a safra no Brasil. Do lado da oferta, se tiver problema de clima na América do Sul, haveria espaço para novas altas. Do lado da demanda, só o fato de a safra brasileira atrasar, mesmo que ela ainda possa ser recorde, significa que os Estados Unidos vão ter uma janela de exportação maior, até janeiro, e que pode crescer ainda mais a demanda pela soja norte-americana, e isso poderia dar mais suporte aos preços. A percepção de que os Estados Unidos seguirão exportando bons volumes é reforçada pelo forte apetite chinês por grãos para ração.

Após uma primeira metade do ano em que a China buscou reforçar as reservas para se proteger de riscos logísticos ligados à pandemia, agora é a recomposição dos rebanhos suínos com a recuperação da peste suína africana (PSA) que alimenta o ritmo de importação de soja. A China está mantendo uma reação muito acelerada da produção de suínos e têm que garantir soja no exterior. Segundo o Itaú BBA, a demanda firme da China por soja pode estar relacionada também ao modelo escolhido para reformulação do rebanho suíno no país. É possível que a genética utilizada tenha uma conversão alimentar inferior, por isso acaba consumindo um pouco mais de ração. Daí essa necessidade adicional de soja também. É bem possível a alta na Bolsa de Chicago, já que, além da revisão para baixo dos estoques de passagem nos Estados Unidos, os rendimentos agrícolas da safra norte-americana são menores do que a expectativa inicial e o USDA tem reportado diariamente novos avisos de vendas dos Estados Unidos para exportação. Isso deixa o balanço norte-americano um pouco mais apertado e acaba colocando pressão na próxima safra da América do Sul.

Todo esse atraso que o Brasil está tendo este ano no plantio acaba adicionando volatilidade para o mercado. Se as chuvas indicadas nos mapas se confirmarem, os produtores brasileiros têm capacidade de maquinário para semear rapidamente. Agora, assumindo que seja possível avançar no plantio, o mercado ainda vai ficar atento ao clima no desenvolvimento. É importante lembrar que se trata de um ano de La Niña, que pode causar estiagem na Região Sul do Brasil e na Argentina. Além disso, o atraso da semeadura principalmente na Região Centro-Oeste pode levar a uma concentração do plantio e, por consequência, do desenvolvimento das lavouras. No caso de períodos de adversidades ao longo do ciclo, elas podem atingir uma parcela maior da produção do que se o plantio tivesse ocorrido de forma mais alongada. Qualquer choque climático pode vir a ter um impacto maior no total a ser produzido no Brasil. É isso que tem contribuído para dar um pouco de sustentação aos preços na Bolsa de Chicago.

À medida que o plantio avançar, seria normal uma correção nos preços, mas a evolução da safra brasileira seguirá no radar dos investidores. O mercado vai ficar bastante sensível a qualquer sinal de intempéries que possam vir a afetar a safra, primeiro por causa dessa concentração da produção no Brasil, e, segundo, porque o balanço global depende da safra da América do Sul. Além do suporte aos preços na Bolsa de Chicago, o atraso no plantio no Brasil, que compromete a disponibilidade esperada para o País no começo do ano, pode dar impulso aos prêmios pagos no Brasil, já que estende o período de entressafra. Isso deve deixar os prêmios no início do ano no Brasil em patamares bastante fortes, portanto o preço no mercado doméstico seria firme também em janeiro. Mesmo com a retirada da tarifa de importação de soja de fora do Mercosul, a conta ainda não fecha para trazer grandes volumes de soja dos Estados Unidos e a janela para importar é relativamente curta até janeiro.

Os prêmios para a safra 2020/2021 já estão acima de igual período do ano passado. Os prêmios para março no Porto de Paranaguá (PR) estão entre US$ 0,89 e US$ 0,93 por bushel acima da Bolsa de Chicago, ante US$ 0,23 a US$ 0,28 por bushel há um ano. Os prêmios para fevereiro estão ainda mais firmes, na faixa de US$ 1,20 e US$ 1,38 por bushel, contra US$ 0,33 a US$ 0,39 por bushel um ano antes. O Brasil vai virar o ano com estoque reduzido e existe a possibilidade de atraso na entrada da soja no mercado. A safra brasileira já está muito vendida. Tudo isso está influenciando no prêmio mais alto para fevereiro. Há espaço para o prêmio subir mais, uma vez que o balanço mundial depende do que vai acontecer na América do Sul e anos de La Niña podem trazer perdas. Se tiver quebra, por exemplo, no Rio Grande do Sul, a situação de oferta de soja ficaria bem mais apertada no mundo, e poderia haver prêmios mais elevados. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.