ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

05/Out/2020

Tendência é de alta para preços da soja no Brasil

A tendência é de novas altas dos preços da soja no mercado interno, com o dólar em patamares mais elevados e acentuada escassez de oferta doméstica. Os preços atingiram recordes reais para soja em grãos e derivados, com a forte escassez interna. A disputa entre esmagadores e exportadores coloca preços no interior acima dos portos. Estamos com mais 60% da safra 2020/2021 comercializada com preços e margens similares à 2019/2020. As vendas antecipadas deverão mitigar pressão de baixa no período de colheita 2020/2021. Há relatos de negócios no interior de diversos Estados no patamar de R$ 160,00 por saca de 60 Kg, enquanto nos portos a cotação atinge a casa de R$ 158,00 por saca de 60 Kg. O ritmo acelerado de processamento e a aquecida demanda, especialmente externa, reduziram rapidamente os estoques domésticos de soja e derivados, mesmo em um ano de recorde de produção. Agora, a disputa acirrada pelo produto restante e os valores altos da paridade de exportação, sustentada pelo dólar valorizado, estão alavancando as cotações domésticas, que operam nas máximas nominais e se aproximam dos recordes reais.

As indústrias esmagadoras enfrentam dificuldades nas aquisições de soja para recebimento ainda em 2020, o que tem limitado a produção de derivados e refletido em preços de farelo e óleo de soja significativamente elevados no Brasil. Esse cenário, por sua vez, tem desafiado as indústrias alimentícias quanto ao repasse do custo do óleo e, no caso dos avicultores e suinocultores, dos maiores gastos com farelo de soja. Atento à firme demanda global por soja e derivados, o governo da Argentina informou, no dia 1º de outubro, redução na taxa de exportação, que deve passar de 33% para 30% neste último trimestre do ano. No Brasil, as indústrias alimentícias relatam não conseguir competir com as de biodiesel nas aquisições do óleo. Este coproduto está sendo ofertado acima dos R$ 7.000,00 por tonelada, cenário não visto desde 2002. O valor do óleo de soja (posto em São Paulo com 12% de ICMS) registra avanço de 3,1% nos últimos sete dias, indo para R$ 7.031,48 por tonelada. Esta média é a máxima nominal da série iniciada em julho/1998, e a maior, em termos reais, desde dezembro de 2002, quando atingiu recorde (valores deflacionados pelo IGP-DI). Em setembro, o óleo de soja teve média de R$ 6.348,30 por tonelada, expressivos 18,4% superior à de agosto e 74,5% acima da de setembro/2019, em termos reais.

Avicultores e suinocultores procuram mudar a composição das rações, no intuito de reduzir o custo, mas muitos relatam não ter sucesso. Isso porque grande parte das indústrias de etanol indica que a produção de DDG (grãos secos por destilação), que é uma opção na substituição do farelo de soja, já está praticamente vendida até dezembro deste ano. Ressalta-se que o DDG não substitui completamente o farelo de soja na ração para aves e suínos, devido ao menor teor de proteína, mas é uma opção complementar. Nos últimos sete dias, os preços de farelo de soja registram alta de 5,0%. De agosto para setembro, os preços deste coproduto subiram expressivos 11,5%. Nas regiões de Campinas (SP), Mogiana (SP), Ijuí (RS), Passo Fundo (RS), Rio Verde (GO), Triângulo Mineiro (MG), Ponta Grossa (PR) e no norte do Paraná, os valores do farelo são os maiores, em termos reais, desde setembro/2012. O lado preocupante para os consumidores é que esse cenário altista pode continuar na próxima temporada 2020/2021.

Isso porque mais da metade da safra de soja (202020/21) já foi vendida e, agora, os produtores já estão cautelosos nas novas vendas, devido ao clima quente e seco, que geram incertezas quanto ao volume de soja a ser produzido. Tomando-se como referência o principal porto de formação de preços, Paranaguá (PR), a paridade de exportação indica preços de soja a R$ 140,42 por saca de 60 Kg para embarque em fevereiro/2021; de R$ 136,40 por saca de 60 Kg para embarque em março/2021; de R$ 135,12 por saca de 60 Kg para abril/2021; de R$ 136,00 para maio/2021; de R$ 137,58 por saca de 60 Kg para junho/2021 e de R$ 138,41 por saca de 60 Kg para julho/2021. Para 2022, a soja está sendo ofertada acima dos R$ 126,00 por saca de 60 Kg, com cálculos feitos com base no dólar futuro negociado na B3. No mercado spot, as negociações ocorrem de forma esporádica, diante do baixo excedente interno. Nos últimos sete dias, o Indicador da soja Paranaguá ESALQ/BM&F, referente ao grão depositado no corredor de exportação e negociado na modalidade spot (pronta entrega), no Porto de Paranaguá, apresenta alta de 0,9%, cotado a R$ 152,24 por saca de 60 Kg.

Esse é o maior valor nominal da série iniciada em 2006 e está apenas um pouco abaixo do recorde real, de R$ 153,40 por saca de 60 Kg, registrado no dia 31 de agosto de 2012. A média mensal deste Indicador em setembro/2020 foi de R$ 141,20 por saca de 60 Kg, a maior desde setembro/2012, quando atingiu recorde real, de R$ 144,75 por saca de 60 Kg. A média ponderada da soja no Paraná, refletida no Indicador CEPEA/ESALQ registra valorização de 2,9% nos últimos sete dias, a R$ 149,01 por saca de 60 Kg. De agosto para setembro, a média avançou significativos 11,6%, sendo a maior em termos reais desde 2012. Nos últimos sete dias, os valores da soja registram avanço de 3,7% no mercado de balcão (preço pago ao produtor) e de 4,2% no mercado de lotes (negociação entre empresas). Entre as médias de agosto e setembro, as altas foram de expressivos 12,7% no mercado de balcão e de 12,3% no de lotes. Os preços da soja no Brasil também são influenciados pela significativa alta na Bolsa de Chicago.

A valorização externa está atrelada às expectativas de maior demanda da China e, consequentemente, à redução no estoque norte-americano. Até o dia 24 de setembro, os Estados Unidos haviam escoado 4,8 milhões de toneladas de soja, 53,71% a mais que no mesmo período de 2019. Esse cenário fez com que os preços futuros de soja e derivados voltassem a operar nos níveis de antes da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. O contrato Novembro/2020 da oleaginosa apresenta valorização de 2,4% nos últimos sete dias, a US$ 10,23 por bushel. Na média de setembro, o contrato de primeiro vencimento subiu expressivos 10,4% sobre agosto e 13,8% sobre setembro de 2019. Os preços em setembro foram os maiores nominais desde maio/2018. Referente ao farelo de soja, o contrato com vencimento em outubro/2020 registra alta de 3,4% nos últimos sete dias, a US$ 380,29 por tonelada.

Na média do mês de setembro, os futuros de farelo de soja foram os mais elevados desde agosto/2018, com aumentos de 11,1% sobre agosto/2020 e de 10,3% sobre setembro/2019. Quanto ao óleo de soja, a valorização é de 0,9% nos últimos sete dias, indo para US$ 719,80 por tonelada. Entre agosto e setembro, este produto se valorizou expressivos 5,6%. Em relação ao mesmo período de 2019, os preços futuros do óleo de soja estão, neste ano, 15,6% superiores, em termos nominais. Em setembro/2020, a média do óleo de soja é a maior desde novembro/2017. O clima segue favorecendo a colheita nos Estados Unidos. Dados do relatório de acompanhamento de safras do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), divulgado no dia 28 de setembro, indicam que 20% da área com soja já havia sido colhida, avanço de 14% em uma semana e acima dos 6% do mesmo período de 2019. A colheita norte-americana também está acima da média dos últimos cinco anos, que é de 15%. Fontes: Cepea e Cogo Inteligência em Agronegócio.