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05/Out/2020

Grãos: preços são definidos por demanda chinesa

A forte demanda chinesa por soja dos Estados Unidos nas primeiras semanas de setembro, mês que marcou o início da safra 2020/2021 no país, levou os contratos futuros de segunda posição de entrega do grão a alcançarem a maior média mensal desde maio de 2018 na Bolsa de Chicago. A alta em relação à média de agosto desses papéis chegou a 10,64%. Em relação a dezembro, o avanço foi de 8,04%, e ante setembro de 2019, chegou a 12,1%. Em boa parte de setembro, os contratos foram negociados acima da barreira de US$ 10,00 por bushel, o que animou os exportadores norte-americanos e, mais ainda, os brasileiros, que também têm o câmbio jogando a favor de suas vendas. A publicação “Estudos sobre a Realidade Argentina e Latinoamericana (Ieral)”, da Fundación Mediterranea, confirmou que os principais países exportadores de soja do mundo (Brasil, Estados Unidos e Argentina, nessa ordem), estão absorvendo a alta em Chicago e que, no momento, conseguem negociar a matéria-prima a valores médios 10% superiores aos de agosto e 25% maiores que os de abril e maio.

No caso do milho, que nos Estados Unidos e na Argentina disputa áreas de plantio com a soja e que, no Brasil, a maior parte do cereal é plantado na 2ª safra, depois de colhida a oleaginosa, os preços obtidos atualmente pelos exportadores são também 10% mais elevados que os praticados em agosto, e na comparação com abril e maio a alta chega a 16%. Os papéis de segunda posição de entrega do milho encerraram setembro com valor médio 9,83% maior que o de agosto, no maior patamar desde fevereiro deste ano. Ante dezembro, portanto, ainda houve retração de 3,95%, e ante setembro de 2019 a baixa foi de 0,72%. Essa escalada de preços responde mais à pressão da demanda, que é basicamente gerada por uma aceleração das importações chinesas nos últimos meses. E existem outros países menores do Sudeste Asiático que também estão empurrando os preços para cima.

No caso da soja, a média das importações da China foi de 10,3 milhões de toneladas entre junho e agosto, um fluxo recorde que, anualizado, resultaria em compras de 123,6 milhões de toneladas. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), na safra 2019/2020 o país asiático importou 98 milhões de toneladas, e em 2020/2021 o volume deverá atingir 99 milhões. No mercado de milho, as importações da China, onde a produção é robusta (serão de 260 milhões de toneladas em 2020/2021, segundo o USDA), ainda são pouco expressivas. Foram 7 milhões de toneladas em 2019/2020 e o volume deverá se manter estável na atual temporada. De qualquer forma, compras chinesas do cereal norte-americano também ajudaram a sustentar as cotações do milho na Bolsa de Chicago em setembro. A dúvida é quanto a persistência dessa necessidade da China por soja, já que é difícil saber qual será de fato a expansão do consumo no país e quais os seus planos para o acúmulo de estoques de grãos, indispensáveis para garantir a oferta de rações.

A China está reconstruindo sua produção de suínos depois dos estragos causados pela peste suína africana (PSA) e, ao mesmo tempo, a demanda continua forte na cadeia do frango. Enquanto isso, os exportadores disputam a clientela chinesa, numa corrida em que os norte-americanos, que ficaram para trás nas últimas safras por causa das disputas comerciais entre os dois países, tentam recuperar o terreno perdido para o Brasil. As disputas geraram as primeiras retaliações mútuas quando a peste suína africana começou a se alastrar na China, e começaram a arrefecer já em meio ao projeto chinês de recuperação da cadeia de suínos. Embora estejam ampliando as vendas de soja à China, os Estados Unidos veem no Brasil um oponente difícil de ser batido. Indiretamente, a pandemia resultou em uma taxa de câmbio mais favorável para o Real, o que aumentou a competitividade do País e ajudou a embarcar quantidades recordes de soja para a China no primeiro semestre do ano.

Das principais “soft commodities” exportadas pelo Brasil e referenciadas na Bolsa de Nova York, foram pequenas as variações entre as médias mensais de setembro e agosto dos contratos futuros de segunda posição de entrega, embora tenham sido registradas oscilações expressivas em alguns pregões do mês passado. O suco de laranja fechou setembro com um valor médio 2,8% menor que o do mês anterior, mesmo sem novidades do lado dos fundamentos de oferta e demanda. Empurrado por notícias sobre o clima no Brasil, o café subiu 1,1% na comparação. Sob a influência do petróleo, o preço médio do açúcar recuou 2,66%. O algodão, por outro lado, teve alta de 2,03% na Bolsa de Nova York.

Após uma colheita relativamente pequena nos Estados Unidos na safra 2019/2020, por problemas climáticos e pelo desestímulo dos produtores do país por causa das disputas comerciais entre China e Estados Unidos, os estoques norte-americanos de soja somavam 14,2 milhões de toneladas no dia 1º de setembro, quando começou oficialmente a safra 2020/2021 no país, 42% menos que no início do ciclo 2019/2020, informou o USDA. Os estoques de milho, por sua vez, somavam 50,8 milhões de toneladas, uma queda de 10% na mesma comparação. E os estoques de trigo também recuaram, 8%, para 60 milhões de toneladas. Os números para soja e milho ficaram bem abaixo das expectativas dos traders, o que motivou a alta dos preços desses grãos na Bolsa de Chicago no dia 30 de setembro. O cenário pode resultar em novas valorizações das cotações. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.