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16/Set/2020

Biodiesel: usinas contra diesel verde da Petrobrás

A audiência pública convocada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) para discutir, nesta quinta-feira (17/09), propostas de especificação, controle de qualidade e comercialização do chamado "diesel verde" promete ser explosiva. De um lado, a Petrobras requer a inclusão de seu novo combustível, que batizou de "diesel renovável" no programa RenovaBio, que determina a mistura de óleos orgânicos ao diesel fóssil em proporção que chegará a 15% em 2023. De outro lado, os fabricantes de biodiesel, que acusam a estatal de tentar tomar à força e usando expedientes enganosos um mercado que não é seu. No contra-ataque, a Petrobras investe no convencimento dos técnicos da agência reguladora que o mercado é aberto a todos. E tenta incluir o seu novo combustível no mandato de regulamentação do biodiesel, que segue cronograma de elevação gradual ao diesel pelos próximos anos. Os argumentos são de que produtores estariam tentando ressuscitar práticas do coronelismo para manter reserva de um mercado que caminha para ser o negócio do futuro: o uso de combustíveis menos poluentes.

No campo de batalha que se formou, sobra artilharia pesada. Segundo a União Brasileira do Biodiesel e do Bioqueresene (Ubrabio) e a Associação dos Produtores de Biodiesel (Aprobio) fizeram duras críticas à Petrobrás, afirmando que se trata de uma mistura de petróleo com óleo vegetal e que não é diesel verde. Em julho, a Petrobras anunciou ter concluído, na Repar, refinaria que fica em Araucária, no Paraná, e que integra a lista das oito unidades que serão vendidas, os testes em escala industrial do diesel renovável. Produzido num processo de hidrogenação (reação química com moléculas de hidrogênio), o combustível já sai da refinaria com até 5% de mistura de óleo de soja, o que reduz a emissão de gases. Os testes, para os quais foram usados 2 milhões de litros de óleo de soja na produção de 40 milhões de litros de óleo diesel, indicaram também que o combustível melhora o desempenho dos motores. O biodiesel tem um efeito colateral por apresentar alto teor de parafina, que pode cristalizar a bomba ejetora ao ser submetida a baixas temperaturas.

Ocorreu, por exemplo, em julho do ano passado, quando uma fila de caminhões se estendeu por mais de 2 quilômetros da BR 277, no Paraná. A Polícia Rodoviária revelou o motivo: o frio, com temperatura negativa, cristalizou o combustível e causou panes simultâneas. Ao longo do dia, com a elevação da temperatura, os veículos voltaram a funcionar. Entre os usineiros e a Petrobras, a situação está complicada. O combustível que está sendo apresentado pela petroleira como uma solução inovadora e classificada pelos produtores de biodiesel como a remasterização do HBio que foi patenteado pela estatal em 2006 e teve o projeto abandonado pelo governo Dilma por ser muito oneroso. Era a mesma coisa há 14 anos e o governo afirmou que era inviável daquela forma. Por isso, o programa de biodiesel cresceu. É até preocupante uma companhia do tamanho da Petrobras dizer que isso é inovação. Não houve aperfeiçoamento nem mudança de tecnologia.

Assusta a Petrobras querer entrar no mercado de biodiesel com uma coprodução, afirma a Aprobio. A entidade defende a separação tecnológica, alegando que o biodiesel é um produto da primeira onda de biomassa e os biocombustíveis avançados, como o diesel verde, pertencem à segunda onda. Na Europa, Estados Unidos, Canadá, Cingapura, sustenta, eles têm mercados, nomenclaturas e precificação distintos. A Petrobras quer que o Brasil seja o único país do mundo a misturar tudo. Querem tomar o mercado de biodiesel dos produtores, diz a Aprobio. A Petrobras não vai desistir facilmente de garantir sua participação neste mercado. A nova estratégia comercial da empresa inclui entrar no mercado no qual já transitam 51 usinas de biodiesel. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.