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26/Ago/2020

Disponibilidade interna indefinida no fim do ano

Segundo a Cargill, com volume recorde de exportação nos últimos meses, o mercado de soja mostra em agosto sinais de adequação para garantir a disponibilidade interna de grão, farelo e óleo para o fim do ano. A safra foi muito boa, mas não recorde, e os volumes de exportação foram recordes. O ritmo de embarques de soja em grão ao exterior até o momento é alto, mas insustentável nos próximos meses, já que o estoque de soja brasileira está diminuindo e o grão está ficando menos competitivo no mercado internacional. Dentro de 30 dias, começará a entrar no mercado a nova safra norte-americana. É o momento que o mercado muda do Hemisfério Sul para o Hemisfério Norte como principal fornecedor. Os estoques que ficaram no País tendem a abastecer as necessidades locais até a chegada da próxima safra, que deve começar a ser plantada mês que vem.

No mercado interno, a demanda também é firme, puxada pelo uso do farelo para ração, com o bom momento do setor de proteína animal, e de óleo para biodiesel, apesar das polêmicas recentes sobre a mistura no diesel. O cenário não é folgado para o fim do ano, mas o mercado está fazendo o possível para garantir que essa oferta de soja esteja disponível. Para a safra 2020/2021, pode haver crescimento de área plantada no Brasil, com substituição de cana-de-açúcar por soja em áreas do norte do Paraná, São Paulo e Triângulo Mineiro (MG) e conversão de áreas de pastagem em soja em Goiás e Mato Grosso. A venda antecipada da oleaginosa por parte de produtores pode estar em um percentual recorde. Tal fato é atribuído a uma relação de troca por insumos atrativa. Após o ritmo acelerado de vendas da safra 2020/2021 até o momento, a expectativa para os próximos meses é de comercialização de produtores um pouco mais lenta.

O País tende a se aproximar da colheita com um percentual de soja negociado ainda um pouco acima da média histórica, mas menos descolado da média de comercialização do que agora. O ano de 2020 para o setor exportador de grãos do Brasil tem sido favorável, superando a expectativa em termos de volume e competitividade. Por um lado, houve interesse de países importadores em antecipar compras para garantir oferta e se precaver contra problemas de logística durante a pandemia de Covid-19. Por outro lado, a recuperação da produção de carne suína da China após a peste suína africana (PSA) e o aumento da produção de frango chinesa contribuíram para o maior apetite do país pela oleaginosa. Mesmo em momentos em que a China buscava menos soja no Brasil, outros destinos demandavam o grão brasileiro, diante dos valores atrativos do produto do País em dólar. A desvalorização do Real trouxe agressividade na ponta vendedora, no caso o produtor brasileiro, em negociar grãos, com preços em reais altos.

Paralelamente, o produtor argentino, principal concorrente no Hemisfério Sul, evitava negociar a sua safra logo após a colheita devido ao receio da inflação e ao aumento das tarifas de exportação. Além disso, a logística brasileira funcionou bem, com a conclusão do asfaltamento da BR-163, operação eficiente de ferrovias e um outono seco sem muitas chuvas no País, que permitiu agilidade nos carregamentos. Foi uma combinação positiva, que fez o Brasil exportar volumes recordes de soja praticamente todos os meses desde fevereiro. A Cargill afirma não ver risco para as exportações brasileiras com o fato de China ter adquirido grãos dos Estados Unidos. A China precisa tanto do Brasil quanto dos Estados Unidos para o seu suprimento de soja. As ofertas dos dois países são complementares. O maior risco para o agronegócio brasileiro está relacionado à falta de alinhamento entre a realidade do setor e a percepção no exterior no que tange à sustentabilidade.

A Cargill anunciou recentemente o mapeamento georreferenciado de 100% de sua cadeia de suprimentos no Brasil, o que permite à empresa identificar e localizar todos os fornecedores diretos e indiretos, e calculou, pela primeira vez, a participação estimada de sua soja no Brasil cultivada em terras livres de desmatamento e conversão (95,68%). A percepção é de que há interesse do governo em conversar sobre o que a empresa escuta de clientes de outros países. É positiva a preocupação de outras empresas além do segmento do agro sobre a imagem do Brasil no exterior. Ter grande parte da economia consciente de que esse cenário atual não é sustentável para a visão de País de longo prazo é o primeiro grande fator a forçar mudança. Com isso, a fase 2 é, em parceria com o governo, fazer a mudança acontecer. O Brasil precisa mostrar um Código Florestal amplamente implementado e em execução. É preciso sair do discurso e ir para a prática. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.