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05/Ago/2020

Biodiesel: diesel verde deveria substituir o fóssil

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), todo esforço para produção do diesel verde no Brasil deve ser direcionado para reduzir a importação do diesel fóssil, e não para substituir o biodiesel, um programa que vem dando certo e que não está concentrado em uma única empresa. Até o final do ano, a Petrobras deverá ter o sinal verde da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para comercializar o diesel verde, ou HVO (óleo vegetal hidrogenado), um produto que pode concorrer com o biodiesel se as futuras regras não colocarem restrições ao seu uso na mistura obrigatória que impulsionou a indústria do biodiesel no País. O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) nasceu em 2003 e começou a ser implantado em 2004, com enfoque na inclusão social e no desenvolvimento regional. A partir de 2008, a mistura ao diesel passou a ser obrigatória, inicialmente em 2%, subindo 1% anualmente até atingir 12% este ano, com meta de chegar a 15% em 2023.

Um Projeto de Lei foi protocolado este ano para elevar a mistura para 20% a partir de 2028. O HVO deve trilhar o mesmo caminho que o biodiesel trilhou. São mais de 60 usinas de biodiesel no Brasil, enquanto o HVO só tem um produtor. Para a produção do HVO é preciso um processo de hidrogenação que pode ser feito em refinarias de petróleo, hoje ainda monopólio da estatal brasileira. No mês passado, a Petrobras anunciou que teve sucesso nos testes de produção do diesel verde, projeto iniciado em 2006 pelo então diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, preso posteriormente na Operação Lava Jato. Chamado na época de HBio, a tecnologia brasileira foi patenteada em 2006, mas ficou na prateleira até este ano. Para divulgar o produto, a Petrobras comparou o diesel verde ao biodiesel, afirmando que o seu produto é mais estável que o biodiesel, melhora o desempenho dos motores, evitando problemas como entupimentos de filtros, bombas e bicos injetores e que reduz as emissões de gases efeito estufa em 15% a mais do que o biodiesel.

As afirmações incomodaram a indústria do biodiesel. Em vez de pleitear o espaço do biodiesel, a produção de diesel verde deveria ajudar o País a reduzir as importações de diesel fóssil, que consome divisas e encarece o produto ao consumidor interno. Em 2019, a Petrobras importou uma média de 70 mil barris diários de diesel. De acordo com o Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), a importação de diesel foi responsável, em média, por 20% do abastecimento de diesel no mercado interno de 2013 a 2019. O diesel verde também é mais caro para ser produzido do que o biodiesel, além de demandar muita energia. A Abiove rebate também o questionamento sobre a qualidade do biodiesel, afirmando que não procede a ideia de que traz problemas aos motores, como dá a entender a divulgação da Petrobras, lembrando que o setor tem um selo de qualidade (Bio+) que garante as melhores práticas da indústria.

A produção de biodiesel é pulverizada e isso traz uma forte competição, garantindo a qualidade. Isso faz também um preço mais acessível ao consumidor. Ainda em fase de consulta pública na ANP, que vai até 2 de setembro, a proposta de produção do diesel verde no Brasil prevê uma mistura ternária, ou seja, incluir o novo produto junto ao diesel fóssil e ao biodiesel, o que será classificado de diesel B (diesel A + mistura). A consulta foi suspensa no início de maio pela ANP, por conta da pandemia de Covid-19, e retomada em meados de julho. A minuta em análise na ANP garante a manutenção da mistura compulsória de biodiesel, sendo proibida a mistura apenas do HVO ao combustível fóssil. Se aprovada, os dois produtos poderão conviver pacificamente, pois há espaço para os dois biocombustíveis no mercado brasileiro. É preciso que o assunto seja bem discutido em audiências públicas para que o diesel verde passe por tudo o que o biodiesel passou. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.