ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

23/Jul/2020

China deverá continuar importando soja dos EUA

Apesar de o acirramento das tensões entre Estados Unidos e China ter provocado alguma aversão ao risco nos mercados financeiros, o efeito não foi o mesmo na soja, cujos futuros negociados na Bolsa de Chicago terminaram em alta nesta quarta-feira (22/07) após novas compras do país asiático nos Estados Unidos. Mesmo com os atritos entre as duas nações se intensificando nas últimas semanas, a China continuou presente no mercado norte-americano adquirindo soja, uma vez que a disponibilidade do Brasil começa a diminuir, com consultorias estimando que restem apenas entre 5% e 10% da safra 2019/2020 ainda por negociar no País. Em uma nova escalada de desentendimentos, o governo norte-americano fechou o consulado chinês em Houston (Texas), com a justificativa de proteção à propriedade intelectual norte-americana diante do suposto roubo de informações privadas.

Segundo o porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, o país não vai tolerar violações de soberania e intimidação da população pela China, da mesma forma que não tem tolerado as injustas práticas comerciais, o roubo de empregos nos Estados Unidos e outros comportamentos odiosos. A China prometeu retaliar e, segundo o jornal estatal Global Times, a resposta deve ser inesperada" e causar "dor real" nos norte-americanos. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que os Estados Unidos devem revogar sua decisão errônea e que a China certamente reagirá com contramedidas firmes. Para a soja, entretanto, há ceticismo sobre a possibilidade de a China deixar de comprar nos Estados Unidos. Nesta quarta-feira (22/07), o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) relatou, pelo sétimo dia útil seguido, vendas avulsas de soja norte-americana. Um volume expressivo foi destinado à China, de 715 mil toneladas.

Do total, 66 mil toneladas devem ser entregues no ano comercial 2019/2020, enquanto 649 mil toneladas têm entrega prevista para o ano comercial 2020/2021. Também foram reportadas vendas de 211,3 mil toneladas de soja para destinos não revelados com entrega prevista para o ano comercial 2020/2021. Nos sete dias úteis, o volume negociado de soja pelos Estados Unidos totalizou 2,881 milhões de toneladas, sendo 2,013 milhões de toneladas para a China. A China continua ampliando importações de soja para garantir suprimento durante a pandemia do novo coronavírus e recuperar rebanhos após a peste suína africana (PSA) e dificilmente poderia prescindir do Estados Unidos nos próximos meses. A expectativa é de que o volume previsto pelo USDA para a importação chinesa, de 96 milhões de toneladas, possa ser atingido ou até superado, para o ano comercial 2019/2020, que termina em setembro.

Considerando o que a China já importou desde outubro do ano passado, ainda precisaria comprar em torno de 10 milhões de toneladas dos Estados Unidos para fechar o seu programa, já que a tendência agora é de oferta brasileira mais escassa. Por mais que exista esse cenário de animosidade, a China precisa comprar soja nos Estados Unidos. Se as tensões sino-americanas se intensificarem, o efeito pode ser sentido na negociação da temporada 2020/2021, com a colheita da nova safra dos Estados Unidos. A China vai ter que comprar soja norte-americana, principalmente nos meses de outubro, novembro e dezembro. Em janeiro, já começa a entrar a safra brasileira, aí a China vai voltar a comprar no Brasil, onde já adquiriu volume grande da safra 2020/2021 até o momento. O anúncio do fechamento da embaixada não parece ter afetado o fluxo comercial. A venda para a China reportada nesta quarta-feira (22/07) pelo USDA de 715 mil toneladas provavelmente foi fechada na terça-feira (21/07), mas circularam rumores no mercado de que compradores chineses estariam cotando preços para novas cargas de milho e trigo nos Estados Unidos.

A parte comercial não foi afetada, pelo menos nesse primeiro momento. De toda forma, é preciso aguardar para ver se vai ter retaliação, mas, até o momento, não teve nenhum reflexo de a China parar de comprar. No caso específico da soja, a China não vai conseguir comprar muito mais do que já adquiriu do Brasil. Ou compra dos Estados Unidos ou não compra de ninguém. Para a safra 2020/2021, o volume contratado para exportação pela China de soja dos Estados Unidos até 9 de julho era de 4,6 milhões de toneladas, contra 126 mil toneladas em igual período do ano passado e 1,6 milhão de toneladas na média de cinco anos. Os atritos entre os dois países podem ter algum impacto no mercado de soja se a China optar por retaliação comercial, o que parece improvável considerando as rusgas recentes entre os dois países. Às vezes as retaliações podem ficar, por reciprocidade, no mesmo campo, como no caso de Hong Kong, em que houve cancelamento de vistos dos dois lados.

Por enquanto, não houve retaliação no campo comercial, mas há sempre uma preocupação de que isso possa acontecer. Entretanto, a China precisará de soja norte-americana. A China já vem intensificando as compras de soja dos Estados Unidos da safra 2020/2021. O Brasil já está com oferta extremamente restrita de soja, e a Argentina exporta pouco grão. No período que costuma ser mais forte de exportação dos Estados Unidos, a China não vai ter onde originar soja em outros lugares. Mesmo com os atritos sino-americanos, o Brasil dificilmente repetirá em 2020 o recorde de exportação de 2018. As projeções giram em torno de 80 milhões a 81 milhões de toneladas em 2020, abaixo dos 83,3 milhões de toneladas de dois anos atrás. O Brasil deve embarcar de 80 milhões a 81 milhões de toneladas, e a China vai levar por volta de 60 milhões de toneladas. Para exportar além de 80 milhões a 81 milhões de toneladas, o País teria que aumentar volume de importação.

Caso de fato o Brasil importe volume maior para abastecer consumidores internos e liberar a produção nacional para exportação, a soja viria principalmente do Paraguai. Até o fechamento de julho, a estimativa é de que o percentual comercializado da safra brasileira deve passar de 90%. É um número bastante forte para esta época, fruto do câmbio atrativo, que contribuiu para a aceleração das vendas. Teoricamente, o quadro de oferta e demanda não suporta uma exportação acima de 80 milhões de toneladas. Se a China precisar comprar soja, vai ter que comprar dos Estados Unidos, porque no Brasil não tem. O mercado interno está bem agressivo, oferecendo preços mais altos para conseguir originar soja. O Rio Grande do Sul, que teve quebra de safra e exportação firme no primeiro semestre, está precisando comprar de outros Estados e fala-se de importação da Argentina mais para o fim de ano. O recorde de exportação de 2018 não dever ser superado, a menos que a disputa sino-americana reverta as exceções abertas pela “Fase 1” do acordo comercial.

Só se a China elevar muito os prêmios para levar soja no fim do ano. Mas, não há motivo para fazer isso, já que pode comprar dos Estados Unidos sem tarifa. Em 2018, era o auge guerra comercial, a China chegou a pagar no Brasil prêmio de +US$ 2,00 por bushel acima da Bolsa de Chicago para não comprar dos Estados Unidos. Mas, naquela época, os chineses podiam elevar o prêmio porque a soja no Brasil não sairia tão cara quanto a norte-americana com a tarifa. Agora não, essas compras que a China tem feito nos Estados Unidos são sem tarifa, porque os importadores pedem ao governo a isenção por conta da “Fase 1” do acordo comercial e compram soja norte-americana barata. A estimativa é de que um bom percentual da produção brasileira 2019/2020 (entre 90% e 95%) já estaria comercializada. O que significa que, mesmo que a China quisesse buscar mais soja no Brasil, esbarraria na disponibilidade restrita. O mercado interno também está com dificuldade de comprar soja.

Além de a safra já estar muito vendida, ainda teria a competição com indústrias, que estão preocupadas com a disponibilidade de soja para os próximos meses e pagando prêmio para tentar originar. Ainda é cedo para revisar a previsão de exportação do Brasil de 80 milhões de toneladas em 2020, mas não está descartada essa possibilidade se houver retaliação comercial da China aos Estados Unidos. Independentemente desse novo capítulo da tensão entre os dois países, a expectativa já é de um balanço bem restrito no Brasil. Conforme os dados mais recentes do Agrostat, computados até junho, o Brasil, exportou em 2020 64,4 milhões de toneladas. A Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) espera exportações de 8,8 milhões de toneladas em julho. A estimativa se baseia no volume efetivamente embarcado até 18 de julho, somado à programação de embarques até o fim do mês. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.