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29/Jun/2020

Cerrado: queda na expansão em áreas desmatadas

Estudo encomendado pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e elaborado pela Agrosatélite, por meio da análise de imagens de satélites adquiridas desde o início dos anos 2000, apontou a expansão da soja no Cerrado por meio do desmatamento diminuiu de 215 mil hectares anuais de 2001 a 2006 para 73 mil hectares ao ano de 2014 a 2018. No período mais recente do estudo, de 2013/2014 a 2018/2019, a contribuição total da expansão da soja com desmatamento no Cerrado (360 mil hectares) ficou bem abaixo dos dois períodos anteriores analisados (1,34 milhão de hectares de 2006/2007 até 2013/2014 e 1,29 milhão de hectares de 2000/2001 a 2006/2007). Do segundo para o terceiro período houve uma queda bastante intensa da área de soja expandindo com desmatamento. Já a expansão de área de soja no Cerrado sem desmatamento (por conversão de áreas usadas para outros fins) foi de 4,72 milhões de hectares de 2013/2014 a 2018/2019, de 5,96 milhões de hectares de 2006/2007 a 2013/2014 e 3,57 milhões de hectares de 2000/2001 a 2006/2007.

A redução do ritmo de expansão da soja em áreas desmatadas para esse fim está ligada à relação risco-retorno da abertura de terras. Converter vegetação nativa para produção agrícola tem um risco muito grande. É preciso de um tempo para fazer a recuperação de solo. É um investimento muito intensivo em capital, ainda mais para alguém que compra a terra e ainda tem que fazer todo o investimento na conversão. O produtor opta cada vez mais por promover a expansão de soja em área já aberta porque ele enfrenta menor risco para um nível de retorno parecido. O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil e ocupa 204 milhões de hectares, sendo que 52,5% está coberto por vegetação nativa. Ainda conforme o levantamento, a área de soja no Cerrado cresceu 2,4 vezes nas últimas 18 safras, passando de 7,5 milhões em 2000/01 para 18,2 milhões de hectares (ou 8,9% do bioma) em 2018/2019. Um terço dessa expansão se concentrou no MATOPIBA (formado por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), onde a área de soja aumentou de 900 mil para 4,1 milhões de hectares no mesmo período.

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), dada a redução no ritmo de expansão da soja em áreas desmatadas do Cerrado nos últimos anos, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) prevê um modelo de incentivo para os produtores ampliarem a produção da oleaginosa em áreas já abertas. Isso limitaria a conversão de novas áreas para a produção da oleaginosa. O modelo apropriado para o Cerrado não é o da Moratória da Soja, e sim um que contemple incentivos financeiros para evitar o desmatamento. A entidade está captando recursos junto a consumidores externos da soja brasileira para chegar a um montante de US$ 250 milhões em cinco anos para tornar realidade esse pagamento. Com esse volume de recursos, a associação calcula que, no caso de adesão total de produtores, seria possível zerar o desmatamento para expansão de soja no Cerrado em cinco anos. A aversão ao desmatamento sempre existiu. Há muitos anos que o setor discute essa questão. A redução que vem sendo observada na expansão de soja em áreas desmatadas no Cerrado deve ser bem vista pelos consumidores da soja brasileira.

Eles deveriam entender que é um processo positivo que está ocorrendo no Brasil e deveriam internalizar o conceito de que, dado que a visão deles é pelo desmatamento zero, como a cadeia pode contribuir para acelerar esse processo. Isso é o oposto do conceito de uma moratória. Justamente o fato de o desmatamento estar caindo leva a entidade a informar aos clientes que a solução para reduzir o desmatamento do Cerrado não é uma moratória, como foi na Amazônia, mas sim um processo em que é preciso acelerar essa tomada de decisão do produtor por expandir em área aberta. Essa decisão depende de incentivos para os produtores, com a divisão de riscos e custos com o resto da cadeia. Então, é essa a abordagem que deve ser usada para convidar os clientes a participarem de um convencimento do produtor, que envolve vários fatores, inclusive financeiros, para que ele siga no processo de expandir em áreas já abertas.

A associação mapeou todos os excedentes de reserva legal nas 42 mil fazendas de soja no Cerrado. O excedente é considerado o que vai além das exigências de preservação da legislação brasileira. Há pelo menos seis meses a associação está levantando fundos internacionais junto aos principais clientes do farelo (hoje 54% do farelo é exportado para a Europa). Já foi possível acumular um montante de aproximadamente US$ 20 milhões, ainda pequeno para iniciar esses pagamentos. A estimativa é de que o pacote completo para cinco anos necessite de algo em torno de US$ 250 milhões. A Abiove propõe a remuneração por serviços ambientais para produtores do Cerrado que abrirem mão de expandir área de soja sobre vegetação nativa. Há uma expectativa grande por parte de produtores. O processo ainda está em fase de captação e ainda não há previsão sobre o início dos pagamentos. Além disso, a soja é uma das cadeias mais propícias para a emissão de títulos verdes em cima de padrões de sustentabilidade da produção. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.