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21/Mai/2020

Argentina: comercialização de soja não deslancha

Enquanto o mercado avalia quanto o Brasil ainda tem de soja para atender os mercados externo e interno e se a China comprará mais produto dos EUA, efetivamente, nos próximos meses, a Argentina amarga um dos piores momentos da história para a comercialização da oleaginosa. Com uma safra que deverá ser concluída em 53 milhões de toneladas, o produtor argentino acumula problemas cambiais, políticos, econômicos, logísticos e todos eles agravados pelos efeitos da pandemia do coronavírus. Assim, embora a Argentina tenha se mostrado quase que às margens da dinâmica global do complexo soja nesta temporada, sempre pode registrar um evento que tem capacidade de mudar todo o mercado. Comercializando em dólar e com seus custos construídos na mesma moeda, os sojicultores sofrem com preços muito fracos e pouco estímulo de exportação por conta das retenciones, que seguem nos elevados 33%. Para farelo e óleo a tributação é a mesma e, para ambos, portanto, o mercado também não é dos melhores.

A tributação atrapalha o complexo soja como um todo na Argentina. A atual condição só faz deixar as novas vendas ainda mais lentas. Até o dia 13 de maio, a Argentina já havia comercializado 22,3% de sua safra atual, contra 20,7% do mesmo período do ano anterior, contabilizando tanto negócios para exportação quanto no mercado interno. As exportações argentinas de soja em grão deverão ser menores neste ano, de 8 milhões de toneladas. Em 2019, foram 10,2 milhões de toneladas, de acordo com dados oficiais do Ministério da Agricultura do país. A evolução das vendas de soja perdeu ritmo desde que o presidente Alberto Fernandez assumiu o governo argentino. Antes da vitória de Fernandez, os sojicultores aproveitaram para acelerar os negócios já presumindo que as taxações sobre o campo aumentariam, como aconteceu.

Ao lado do peso que as taxações já provocam sobre os preços, há ainda a intensa desvalorização do peso em relação ao Real. São 70 pesos no chamado “câmbio exportação” e 120 pesos para um dólar no câmbio regular. Assim, com seus custos em dólares, o produtor segue com suas vendas cadenciadas, realizando-as quando da necessidade e oportunidade de empregar esses recursos na compra de algum insumo. A desvalorização da moeda local é muito forte. Até mesmo financiar um produtor argentino neste momento traz um certo temor. O desestímulo para as exportações argentinas de soja e derivados se deu não só pelas questões econômicas, tributárias e cambiais, mas também logísticas. Os efeitos da pandemia do Covid-19 foram muito mais graves por lá do que no Brasil ou na Argentina, provocou logo no começo da quarentena o fechamento de plantas processadoras de soja e terminais portuários.

Há, ainda, a seca dos rios Paraná e Uruguai, comprometendo ainda mais o escoamento da produção argentina. O nível das águas do rio Paraná estão nas mínimas em 50 anos e já exigem que as barcaças com soja circulem com menor volume e em um ritmo mais lento, provocando, inclusive, atraso na entrega. Esse acúmulo de fatores negativos, agravados pelo coronavírus e intensificado pela questão cambial, vem promovendo um movimento de empobrecimento do campo. A tecnologia, por conta da falta de recursos e de margens muito apertadas que são alcançadas pelo produtor argentino, vem sendo reduzida ano a ano. Fontes: Bloomberg, Reuters e Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.