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06/Jan/2020

Tendência de preços sustentados da soja no Brasil

A tendência é de sustentação dos preços da soja no curto prazo, com futuros em patamares mais altos em Chicago, diante da aproximação da assinatura da “fase 1” do acordo comercial entre China e Estados Unidos, dólar acima de R$ 4 no Brasil e os riscos climáticos na América do Sul. A notícia de que o presidente norte-americano, Donald Trump, vai assinar em 15 de janeiro a chamada “fase 1” do acordo comercial entre Estados Unidos e China continua influenciando os negócios em Chicago, mas com menos intensidade. O mercado também aguarda o relatório mensal de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), que sai dia 10 de janeiro. O clima seco nas regiões Sul do Brasil e da Argentina também dá suporte aos preços. No Rio Grande do Sul, as lavouras apresentam sintomas de estresse hídrico, porém a maior parte delas encontra-se nas fases iniciais de desenvolvimento e têm potencial de recuperação. O maior impacto é nas lavouras precoces, que estão em florescimento. Na Argentina, o plantio da safra de soja atingiu 84,3% da área prevista, de 17,7 milhões de hectares.

Há um ano, 89,7% da área estava semeada na Argentina. Chuvas recentes sobre grande parte da área agrícola melhoraram a umidade das lavouras já plantadas e destravaram a semeadura no centro e sul do país. Contudo, o sudoeste de Buenos Aires continua sofrendo déficit hídrico, com precipitações escassas. A produção brasileira de soja deve atingir novo recorde na atual safra 2019/2020 e está estimada pela nossa Consultoria em 125,3 milhões de toneladas. Depois de iniciar o plantio com atraso, o ritmo de cultivo da oleaginosa se acelerou em outubro, fazendo com que as atividades ficassem até mesmo acima da média dos últimos anos na maioria das regiões. Em seguida, as chuvas voltaram com maior intensidade, favorecendo o desenvolvimento das lavouras e gerando expectativas de elevada produtividade – exceto no caso das áreas cultivadas primeiramente. A safra recorde, por sua vez, vai exigir do Brasil maiores demandas interna e, especialmente, externa. Neste contexto, vão entrar em discussão os impactos e/ou resoluções da guerra comercial entre Estados Unidos e China e seus reflexos sobre a procura brasileira. Por enquanto, não se esperam grandes mudanças.

O ritmo de negociações da safra atual está relativamente maior que o registrado na temporada passada, influenciado pelos preços mais elevados no último trimestre de 2019 e pela maior atratividade dos contratos a termo para 2020. Os contratos com vencimentos em janeiro e fevereiro poderão ter dificuldades de serem cumpridos, devido ao atraso no plantio. Vale considerar que boa parte das empresas finalizou 2019 com pouco ou nenhum estoque, o que exigiu, inclusive, a parada antecipada do processamento. Este fato pode dar sustentação aos preços, ao menos no curto prazo. Em Mato Grosso, principal produtor nacional, 51% da safra 2019/2020 foram negociados antecipadamente em 2019, acima dos 41% negociados no mesmo período de 2018. Para 2020, a paridade de exportação no porto brasileiro de Paranaguá (PR) indica preços de R$ 89,60 por saca de 60 Kg para fevereiro, de R$ 88,42 por saca de 60 Kg para março/2020, de R$ 88,92 por saca de 60 Kg para abril/2020 e de R$ 89,12 por saca de 60 Kg para maio/2020, considerando o dólar futuro na B3. Na temporada passada, a paridade indicava preço até R$ 10,00 por saca de 60 Kg inferior ao deste ano.

Diante da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China nos últimos dois anos, a área cultivada com soja nos Estados Unidos teve forte redução na temporada 2019/2020, caindo para 30,6 milhões de hectares – a menor desde 2011/2012 – e 13,6% inferior à safra passada. Assim, a produção de 2019/2020 (colhida em 2019) somou 96,6 milhões de toneladas, a mais baixa em seis temporadas. Com isso, a produção global em 2019/2020 deve recuar 5,8%, para 337,47 milhões de toneladas. A demanda global por soja para esmagamento segue crescente e deve aumentar 1,7%, para 302,83 milhões de toneladas, um recorde. O aumento no processamento é puxado pelas demandas por farelo e óleo de soja. As ofertas globais desses subprodutos devem somar 238,0 milhões de toneladas e 56,7 milhões de toneladas, respectivamente. A demanda global por farelo de soja é estimada em 235,4 milhões de toneladas, 2,1% a mais que na temporada passada. Para o óleo, a demanda global é prevista em 56,8 milhões de toneladas, 2,9% a mais que em 2018/2019.

Vale ressaltar que a demanda doméstica por farelo e por óleo de soja no Brasil e nos Estados Unidos devem ser recordes na temporada 2019/2020. De óleo de soja, o consumo brasileiro está estimado em 8,4 milhões de toneladas, puxado pelo aumento na demanda de óleo de soja para a produção de biodiesel. A demanda interna por farelo de soja também é estimada em patamar recorde, de 18,07 milhões de toneladas no Brasil. Neste caso, há expectativa de maior demanda para a produção de ração animal. Isso porque a China não tem conseguido recuperar sua produção de suínos, devendo seguir adquirindo proteína animal do Brasil e dos Estados Unidos. As transações mundiais de soja também seguem em alta. Segundo o USDA, 147,9 milhões de toneladas de soja em grão devem ser transacionadas mundialmente, 1,8% a mais que na temporada 2018/2019.

Dentre os países que devem aumentar as importações, a China é o principal, com 85 milhões de toneladas (+3,0%), seguida pela União Europeia, com 15,2 milhões de toneladas (+1,3%), México (+10,9%), Japão (+1,5%), Taiwan (+4,4%), Indonésia (+8,2%), Tailândia (+7,7%), Egito (+10,4%), Vietnã (2,8%), Coreia do Sul (6,2%), Rússia (+15,0%) e Turquia (+2,8%). O Brasil deve seguir liderando o abastecimento global, com exportações estimadas em 79 milhões de toneladas de soja em 2019/2020, 5,9% a mais que em 2018/2019. Para os Estados Unidos, são previstos embarques de 48,3 milhões de toneladas (+1,5%) e, para a Argentina, de 8,2 milhões de toneladas, conforme projeções do USDA. Na Argentina, o novo presidente Alberto Fernández elevou a alíquota sobre as exportações do complexo soja, para 30%. Esse cenário torna as vendas externas menos atrativas aos argentinos. Vale lembrar que o país é o terceiro maior exportador de soja e líder de vendas de farelo e de óleo do mundo. Fontes: Cepea, Secex, Abiove e Cogo Inteligência em Agronegócio.