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08/Jul/2019

EUA: produtores querem manter vendas para China

Os produtores de soja nos Estados Unidos estão lutando para evitar o que seria um pesadelo para o setor: a perda de seu maior cliente, a China. Em 2017, os Estados Unidos exportaram US$ 21 bilhões em soja, mais do que qualquer outro produto agrícola. Em uma década, a receita com os embarques norte-americanos da oleaginosa triplicaram, refletindo os esforços de produtores para tornar um grão antes obscuro em um grande sucesso. Então, no ano passado, por causa de uma tensa disputa comercial, as exportações de soja dos Estados Unidos para a China despencaram 74% em volume. O Brasil correu para preencher a lacuna, enquanto os preços pagos aos agricultores norte-americanos caíram recentemente para o nível mais baixo em sete anos. O Conselho de Exportação de Soja dos Estados Unidos entre outras entidades, está fazendo o possível para não perder o relacionamento do setor agrícola dos Estados Unidos com o país asiático.

A missão era assegurar aos compradores chineses que produtores nos Estados Unidos estão ansiosos para retomar as exportações assim que a disputa comercial se encerrar. Os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da China, Xi Jinping, acertaram uma trégua na disputa comercial após encontro. Como parte do acordo para a retomada das discussões comerciais, a China teria concordado em comprar grandes quantidades de produtos agrícolas dos Estados Unidos. Mesmo assim, continuam em vigor as tarifas chinesas de 25% sobre a soja dos Estados Unidos, colocando em risco bilhões de dólares em vendas norte-americanas. Os produtores dos Estados Unidos estão pressionando o governo do país a encerrar a disputa e buscando canais diretos com compradores chineses. No mês que vem, o Conselho de Exportação de Soja vai receber uma delegação de compradores chineses nos Estados Unidos.

O grupo vai se juntar a compradores de dezenas de outros países em visitas a fazendas de grãos em Illinois e em reuniões em Chicago. Em 1982, produtores norte-americanos abriram um escritório em Pequim para promover a soja dos Estados Unidos, muito antes de a China se modernizar e se juntar à elite econômica mundial. Alguns agricultores achavam que isso era desperdício de dinheiro. Mas, em meados dos anos 1990s, uma mudança na política alimentar da China abriu as portas do país asiático. A China decidiu se tornar autossuficiente na produção de certos grãos, mas não estabeleceu esse tipo de meta para a soja. A oleaginosa, porém, foi ganhando importância à medida que a crescente classe média chinesa desenvolveu um gosto por carne suína e de frango, impulsionando a demanda por farelo de soja para ração animal. Não demorou muito para a demanda chinesa por soja crescer 10% ao ano. Para atender a essa procura, agricultores dos Estados Unidos passaram a destinar à soja milhões de hectares de terras onde antes eram cultivados outros grãos, como o trigo.

Entre 1995 e 2018, a área de soja cresceu 43%, enquanto a de trigo diminuiu 31%. No ano passado, agricultores norte-americanos semearam mais de 36 milhões de hectares com soja, aproximadamente a área do estado de Montana. Companhias de sementes, tradings de grãos, operadoras de ferrovias e outros segmentos fizeram parte da expansão da indústria de soja, investindo pesado, desenvolvendo novas variedades e aumentando a capacidade ferroviária para transportar os grãos para o mercado. Os produtores argumentam com a China sobre a infraestrutura de exportação norte-americana e também que produtores dos Estados Unidos têm práticas de cultivo mais sustentáveis do que os brasileiros. Os compradores chineses foram cordiais e listaram formas como produtores norte-americanos poderiam melhorar seu serviço, como por exemplo reduzindo as impurezas nos carregamentos de soja. Antes da disputa comercial entre Estados Unidos e China, executivos de empresas do setor agrícola acreditavam que nada alteraria o motor econômico da China que estava impulsionando o consumo.

Desde o início das tensões entre os dois países, produtores rurais têm viajado para Washington para pedir ao governo que resolva a disputa. Eles argumentam que agricultores, que já tiveram sua renda reduzida por causa de anos de preços baixos de commodities, não vão aguentar mais um ano sem acesso ao mais importante mercado externo. A Associação Americana de Soja, transmitiu essa mensagem durante um encontro recente com o principal negociador para o setor agrícola no Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos. A entidade expressou sua preocupação com o impacto desse cenário sobre jovens agricultores, que já estão acumulando dívidas e têm dificuldade para obter acesso a crédito. Em carta ao representante de Comércio dos Estados Unidos, a Cargill afirmou que novas tarifas dos Estados Unidos poderiam provocar uma escalada das tensões que afetaria o setor agrícola, diminuiria a competitividade global do país norte americano e comprometeria o crescimento econômico no longo prazo.

Para aliviar o impacto das tarifas retaliatórias chinesas, o governo Trump anunciou este ano um segundo pacote de ajuda a agricultores, de US$ 16 bilhões. O primeiro pacote, anunciado no ano passado, previa ajuda de US$ 12 bilhões. O Brasil, que superou os Estados Unidos como maior exportador mundial de soja há vários anos, deve ganhar mais mercado. Na atual temporada, a fatia dos Estados Unidos no mercado global de exportação deve cair para 31%, a mais baixa já registrada, enquanto a participação do Brasil deve aumentar para 52%. O vice-ministro da Agricultura da China afirmou, no ano passado, que o país não esqueceria facilmente a disputa atual, e estaria trabalhando em alternativas à importação de soja para nunca mais depender de uma única fonte. A China não se preocupa com este ano ou o ano que vem, pensa em termos de séculos. As companhias chinesas estão trabalhando para desenvolver um sistema de produção de soja na Rússia, onde a oleaginosa ainda não se tornou uma cultura expressiva. Os produtores norte-americanos não têm muitas opções fáceis caso a demanda continue fraca.

A ampla oferta global sugere que não há muita necessidade de mais trigo e milho no mundo. E a mudança para uma nova cultura exigiria enormes investimentos em equipamento e infraestrutura. Por isso, a indústria de soja dos Estados Unidos está tentando impressionar compradores em outros mercados. Em junho, líderes do setor receberam 80 visitantes de mais de 10 países e os levaram para conhecer a infraestrutura de exportação de soja dos Estados Unidos. Além disso, estão tentando conectar exportadores norte-americanos e compradores na União Europeia, no Oriente Médio e no Norte da África. A retomada do comércio com a China continua sendo um objetivo crucial para o setor. Os produtores consideram que os Estados Unidos precisam buscar uma maneira de sair dessa situação caótica com a China. Na opinião deles, os Estados Unidos terão de ceder. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.