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01/Jul/2019

Brasil pode ofertar soja com mais proteína à China

O Brasil está disposto a aumentar o teor de proteína na soja, mas espera uma contrapartida da China, maior comprador da oleaginosa, pois o incremento depende de um redirecionamento da pesquisa no País, hoje focada na produtividade. A Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) defende que, tendo em vista a importância da soja na produção de carne no mundo, valeria o esforço. A soja tem a melhor relação custo-benefício para produzir proteína animal. Não faz sentido aumentar a produtividade derrubando o teor de proteína porque, no fim das contas, será só volume. Em 2004, a oleaginosa produzida no País tinha, em média, 40% de proteína. Em 2019, o percentual era de 37,2%. No mesmo período, a produtividade saltou de 2,2 toneladas por hectare para 3,2 toneladas por hectare. À medida em que houve o processo de melhoramento, aumentando a produtividade e adaptando a soja outras regiões, no Brasil e no mundo inteiro o teor de proteína de soja começou a cair.

Na Argentina, essa redução foi de 40% para 37,4% no mesmo intervalo de tempo e nos Estados Unidos de 39% para 34,7%. Segundo a Embrapa Soja, o que acontece é que ficou todos buscavam produtividade e a área de melhoramento se distanciou um pouco da questão da proteína. Entretanto, há espaço para melhorar o teor de proteína sem que isso afete muito a quantidade de óleo obtida no processamento do grão, atualmente ao redor de 22%. Este, porém, seria um trabalho de médio a longo prazo, que exigiria, na sua avaliação, esforço de todos os participantes do mercado, não só da Embrapa. Na estimativa da Aprosoja, o Brasil poderia economizar US$ 2 bilhões em custos logísticos dos embarques para a China se a soja voltasse a ter 40% de proteína. Seria possível enviar 4,5 milhões de toneladas de grãos a menos. Essa é considerada uma boa ideia, pois há problemas logísticos do Brasil, e há também o caso do algodão, que hoje é precificado de acordo com a qualidade.

O mercado consumidor conduz melhor a pesquisa ao pagar um prêmio por aquilo que busca, seja tamanho da fibra, no caso do algodão, seja o teor de proteína e óleo no caso da soja. A ideia de trabalhar para produzir uma soja com mais proteína foi apresentada a investidores chineses em evento realizado no fim de maio na embaixada da China no Brasil, logo após a visita da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, ao país. Representantes dos produtores brasileiros defenderam que a China passe a precificar a soja pelo teor de proteína. Se isso ocorrer, vão conduzir o mercado para esse tipo de soja. Há uma dificuldade, porém: pesquisas têm apontado uma relação inversa entre a proteína e produtividade na soja. Quando um cresce, o outro diminui. E, nos últimos anos, o investimento de empresas de melhoramento em variedades foi em aumento da produtividade. O produtor vende em quilos por hectare, não por teor de proteína e óleo. Atualmente, se ele produzir mais, vai ganhar mais. A disputa pelo mercado de variedades tem sido em cima das mais produtivas.

Hoje, o produtor brasileiro recebe pela soja o mesmo valor independentemente do percentual de proteína. Os produtores só mudarão o foco de produtividade para proteína se houver uma disposição da parte da China de pagar mais por soja com maior concentração proteica. A Aprosoja estima que o prêmio a ser pago pela China teria de ser da ordem de US$ 23,00 por tonelada para o teor de proteína da soja brasileira aumentar de 37% para 40%. Nesse caso, o volume exportado pelo Brasil para o país asiático poderia diminuir de 68,9 milhões de toneladas para 64,4 milhões de toneladas, sem prejuízo para produtores e tradings. Mas, a proposta inicial é que o importador pague um prêmio por cada ponto percentual a mais de proteína que produtor for capaz de entregar. Isso traria outros benefícios para a cadeia no Brasil: os produtores poderiam reduzir despesas com máquinas, defensivos e fertilizantes já que estariam colhendo uma safra menor, porém com maior nível de proteína, e tradings gastariam menos com transporte porque estariam escoando menor volume.

Do lado das tradings, a ideia é bem-vinda, pois a ideia é atender ao consumidor. Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), se a China prefere soja com mais proteína, ainda que seja em prejuízo da produtividade, e o produtor concordar, isso deve ser feito. A China está atenta à redução do teor de proteína na soja no mundo. O comprador chinês está cada vez mais preocupado com a quantidade de proteína no grão, porque na verdade o que eles compram é a proteína, não é o grão de soja, mas existe um padrão no Brasil, e as empresas trabalham com valores de proteína em contrato para compradores chineses. Hoje, o nível padrão é entre 34% a 35% na média. É uma dificuldade, porque envolve muitos fatores, de produção inclusive, de desenvolvimento de tecnologias que priorizem a proteína em vez de só a produtividade, mas é uma demanda que vai aumentar. Na visão das tradings, a remuneração por um maior nível de proteína seria fundamental. A ideia é que seja possível níveis maiores de proteína, mas que se receba uma compensação maior também.

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), a iniciativa dos produtores é importante, mas seria necessário um trabalho para reduzir a umidade do grão. Para as indústrias de esmagamento e exportadores de grãos, o maior teor de proteína é um benefício, melhora a produtividade da indústria. Mas, um trabalho para reduzir a umidade da soja que vai para a China já geraria benefícios importantes de preço para a soja. O cultivo de soja com mais proteína encontra limitações. Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), se o produtor quisesse, por exemplo, fazer esse movimento na safra 2019/2020, que começa a ser plantada em setembro, não haveria cultivares suficientes com foco em proteína hoje disponíveis. Seria necessário redirecionar as plataformas atuais de pesquisa, porque hoje ela é direcionada pela produtividade e muito disso é guiado pelos próprios produtores. A avaliação é corroborada pela Embrapa Soja.

Não adianta aumentar o teor de uma variedade, de duas, de três, pois tem uma série de variedades que são plantadas no Brasil, desenvolvidas por agentes públicos e privados, então teria que ser um trabalho para todos. Seria um trabalho árduo para mudar essa realidade. O pagamento por nível de proteína exigiria uma série de adaptações dos participantes da cadeia, já que as medições precisariam ser feitas carga a carga e seria preciso buscar alternativas para segregar a produção em armazéns de acordo com o nível de proteína. Para a Aprosoja Brasil, a mudança precisa começar a ser pensada, pois as pesquisas são feitas a longo prazo. Se o objetivo é buscar isso, dentro de quatro a cinco anos as sementes mudam. E, se as sementes mudarem cada vez haverá mais materiais de maior qualidade. O setor produtivo cobra as alternativas para garantir lucro, já que os custos aumentam a cada ano. Os produtores estão em busca de maior eficiência e principalmente de renda, há muita produtividade, mas não tem retorno por vezes. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.