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30/Abr/2019

Demanda global de soja afetada por surtos de PSA

A guerra comercial entre China e Estados Unidos era o fator que mais influenciava os preços e provocava uma profunda mudança no mercado mundial da soja. Porém, surgiu a peste suína africana (PSA), com impacto bem maior do que o previsto. Agora, as consequências da doença para os preços da soja podem ter mais força do que o próprio conflito entre as duas maiores economias do mundo. A China perdeu um trunfo importante no jogo da guerra comercial e vai ter de sair às compras. Embora a demanda por importação de carne suína pela China seja forte, ela também irá exigir mais dos países produtores de soja. No meio da batalha, entra agora um componente fundamental: o ciclo das cadeias produtivas, seja na nação asiática e, pincipalmente, nos demais países produtores, o Brasil incluído. Por isso há que se ter cautela. A demanda maior pela oleaginosa em grão, ou até mesmo pelo farelo, talvez sirva apenas como um colchão para os preços da commodity e não como uma mola propulsora, como é esperado por alguns, principalmente pelos produtores.

Aparentemente, não há nenhum país em condições de ter um poder de resposta tão rápido para atender essa lacuna da doença na China ao ponto de que a demanda da soja mundial vá para esse país com tempo suficiente para que se faça a produção de carne aumentar por lá. O tamanho da oferta global de soja no presente momento faz a situação ser completamente diferente. Na temporada 2018/2019, os Estados Unidos colheram uma safra de 123,67 milhões de toneladas e sem a demanda importadora da China, seus estoques finais são esperados em 24,36 milhões de toneladas, os maiores da história. Na América do Sul, a recuperação da Argentina, depois dos problemas climáticos do ano anterior, deverão resultar em uma colheita de 55 milhões de toneladas. No Brasil, mesmo com as perdas pontuais causadas por adversidades de clima, a produção é estimada em 115 milhões de toneladas. Com estes números, a produção mundial fica estimada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em 360,5 milhões de toneladas, contra 341,67 milhões de toneladas em 2017/2018.

Os estoques finais mundiais, consequentemente, também deverão ser maiores, passando de 99,05 milhões de toneladas para 107,36 milhões de toneladas. Ao mesmo tempo, diante de todos estes impactos, deve haver uma redução nas importações de soja da China no ano comercial atual para 88 milhões de toneladas, contra 94,1 milhões de toneladas no ano anterior. Na outra ponta, uma recuperação do rebanho de suínos da China poderá levar de três a cinco anos, mantendo sua demanda por soja em grão limitada neste mesmo período. Nos últimos 12 meses, o esmagamento de soja nos Estados Unidos, que é primariamente para a produção de farelo utilizado nas rações, caiu 4 milhões de toneladas. As compras chinesas da oleaginosa deverão recuar ou apresentar um crescimento bem mais lento pelo menos nos próximos dois anos. Hoje, a peste suína africana é o principal fator relacionado à demanda. Isso irá impactar os Estados Unidos, principalmente, por um ano safra ou mais, pois este não é um evento restrito a 2019. A Cargill, uma das maiores tradings de alimentos do mundo, já anunciou uma redução em seus rendimentos no setor de alimentação animal e esmagamento chinês de oleaginosas.

Hoje, o produtor norte-americano está no quinto ano de redução em suas receitas e o Brasil deve ter cautela. O momento é de transição no agronegócio, ou seja, o cenário é de excesso de soja e com uma demanda limitada neste momento. É preciso estar atento para o comportamento de incerteza vivenciado pelo mercado frente à todas estas mudanças. Diante dessa falta de perspectivas, o produtor brasileiro terá de se ajustar à uma nova realidade. O mercado é pontual, a soja argentina concorre com a brasileira, há todo o volume de soja norte-americana estocada e, portanto, o mercado deverá trabalhar com suas mínimas, como foi no ano passado, de US$ 8,50 por bushel. Consequentemente, haverá o desestímulo no plantio, promovendo um enxugamento dessas ofertas mundiais, só depois os preços voltarão a subir. Tudo indica que esse será o comportamento do mercado. No primeiro trimestre de 2019, as importações de soja da China recuaram 14%, em parte pela guerra comercial e pela busca de alternativas ao produto, mas muito também motivadas pela questão da doença.

Essa baixa esperada para as compras da nação asiática em um ano, para 88 milhões de toneladas, acontece pela primeira vez em 15 anos. Caso os impactos continuem (da PSA e do conflito comercial), as importações de soja da China podem cair ainda mais no ano comercial 2019/2020. A China está comprando soja apenas o suficiente para não influenciar as negociações comerciais com os Estados Unidos. Isso está mascarando uma queda momentânea do consumo, mas significa que haverá mais soja armazenada na China para utilizá-la no futuro, o que poderia justificar uma demanda futura menor. De toda maneira, é improvável que essa demanda chinesa maior por carne suína seja suficiente para enxugar os altos estoques norte-americanos de soja. Ainda segundo números do USDA, a produção mundial de carne suína deverá apresentar uma baixa de 4% em 2019, liderada, é claro, pela redução na China. Fora da China, a produção está crescendo moderadamente, mas os destaques são os incrementos observados nos Estados Unidos (+4%) e do Brasil (+6%). Na União Europeia, a produção está estável.

No entanto, o aumento das exportações pode incentivar a expansão dos rebanhos em alguns países. A projeção é de que as vendas externas globais de carne suína cresçam 8% este ano, também motivada pela necessidade maior da China. Se todo esse quadro preocupa os produtores de soja e grãos, na outra ponta os consumidores acreditam estar vendo uma boa oportunidade diante, principalmente, de custos menores e margens que podem ser melhoradas em todo o setor de proteínas animais. Com milho e soja mais baratos, as margens dos esmagadores em países produtores de suínos, frangos e bovinos já começam a apresentar altas. O Brasil, que deverá se consolidar como um dos principais fornecedores da nação asiática, também já apresenta relações de troca bem mais atrativas. Há ainda muita dependência de questões políticas, mas a situação aprece favorável ao Brasil e aos produtores de proteínas. Com o aumento nos preços do suíno vivo e a queda nas cotações dos principais insumos utilizados na atividade (milho e farelo de soja), o poder de compra de suinocultores vem aumentando neste mês de abril. Fonte: NA. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.