19/Aug/2025
Segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), a produção de grãos em Mato Grosso atingiu na safra 2024/2025 quase 106 milhões de toneladas de soja e milho, enquanto a capacidade de armazenagem permanece estagnada em 52 milhões de toneladas. O descompasso pressiona os preços pagos ao produtor e impõe perdas operacionais. Menos da metade dessa grande safra de grãos no Estado tem estrutura adequada para ser armazenada. Parecer da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indica que, para reverter o quadro nos próximos oito anos, seria necessário multiplicar por quatro o atual ritmo de expansão da capacidade instalada. O crescimento dos últimos dez anos é, em média, de 3,3% ao ano. A produção de soja e milho, por outro lado, cresce quase 7% ao ano. É mais do que o dobro. Para equilibrar, precisaria crescer 11,4% ao ano.
Isso significa quase quadruplicar o ritmo atual para, daqui a oito anos, ficar positivo. A falta de armazéns obriga o produtor a vender na colheita, momento de maior oferta e menor preço. Dois meses antes da colheita, o milho estava cotado a R$ 70,00 por saca de 60 Kg. Hoje, a média em Mato Grosso está entre R$ 40,00 e R$ 41,00 por saca de 60 Kg. Perder R$ 30,00 por saca de 60 Kg inviabiliza qualquer planejamento a longo prazo. O gargalo exige resposta institucional. É preciso encarar a armazenagem como política pública. Trata-se de alimentos e segurança alimentar é fundamental. Não se trata apenas da rentabilidade do produtor, mas de abastecimento interno e estabilidade de mercado. Foram ressaltados os entraves financeiros enfrentados pelos produtores interessados em investir em armazenagem própria. A taxa Selic está em 15%. Mesmo que os produtores não contratem nessa faixa, outras linhas de crédito estão atreladas direta ou indiretamente à Selic.
Os financiamentos específicos para armazenagem operam a 8,5% ao ano. É caro construir. O custo elevado, aliado ao retorno distante, reduz o apetite por novos investimentos. Um armazém pode custar até R$ 9 milhões. O retorno, o chamado payback, só vem no oitavo ou décimo ano. Investir esse valor hoje para começar a ver lucro daqui a quase uma década é um desafio. Em visitas a campo, se vê a gravidade da situação. Ao longo da BR-163, há milho sendo descarregado a céu aberto em três ou quatro armazéns. É muita oferta. O produto precisa virar disponível. Sem estrutura, muitos recorrem às tradings, que acabam despejando grãos no pátio. Entre as vantagens da armazenagem, está a possibilidade de escalonar vendas, evitar descontos e reduzir custos com transporte. Com armazém próprio, o produtor pode vender 30% ou 40% da produção para cobrir custos e guardar o restante. Ele ganha tempo e poder de barganha.
Acompanhar o mercado semana a semana faz muita diferença. O controle sobre a qualidade também melhora. É o próprio produtor que vai monitorar umidade, secagem, padronização. Isso reduz significativamente o risco de descontos na entrega. Há também o impacto logístico. O frete de curta distância, dentro da propriedade, já representa economia. É um custo que passa despercebido, mas pesa no final da safra. Apesar das vantagens, o investimento ainda encontra barreiras. Não gera nova receita, apenas reduz perdas. É uma mudança de mentalidade. Armazenagem é prevenção, não expansão. Com juros altos e pouco apoio público, fica difícil. Para orientar decisões, o Imea desenvolveu, em parceria com a Aprosoja, uma calculadora de viabilidade disponível no site Armazém para Todos. O produtor insere dados da propriedade e obtém um indicador. Não é um projeto fechado, mas já serve como ponto de partida.
Mato Grosso concentra o maior déficit do País, mas outros Estados também enfrentam gargalos. Goiás tem situação parecida. Paraná e Rio Grande do Sul não têm o mesmo ritmo de crescimento na produção, mas estão mais bem atendidos. Nos Estados Unidos, a realidade é oposta. Mato Grosso armazena 49% da produção. Nos Estados Unidos, a capacidade chega a 130%. Eles poderiam ampliar em 30% a produção e ainda ter onde guardar. Isso acontece porque lá a armazenagem é tratada como prioridade. O Brasil precisa seguir essa linha. Os Estados Unidos são referência em segurança alimentar. Eles protegem o mercado interno, incentivam o produtor e garantem previsibilidade. No Brasil, muitas vezes, a questão é tratada como uma preocupação pontual, quando deveria ser uma política de Estado. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.