23/May/2025
O Grupo Safras diz ter financiamentos já contratados para retomar as operações na safrinha de milho e planeja um modelo de recuperação que premiará credores colaborativos, com tratamento especial aos produtores rurais. O plano deve ser apresentado em até 60 dias, após o deferimento da recuperação judicial na terça-feira (20/05) pela Justiça de Mato Grosso. "Já estamos trabalhando na estrutura do plano. Temos engatilhados aportes financeiros, financiamentos para que as atividades sejam retomadas no curto prazo", afirmou o advogado Daniel Carnio Costa, que conduz a defesa do grupo, em entrevista ao Broadcast Agro. "Estamos às vésperas da safrinha de milho e a ideia é retomar toda a operação agora com segurança."
Segundo o advogado, o plano seguirá o modelo de "credor parceiro", oferecendo benefícios diferenciados para quem colaborar com a reestruturação. "Pretendemos fazer um plano muito favorável aos produtores rurais, que são a grande maioria dos credores. Esses serão muito bem cuidados, terão toda nossa atenção", disse. "Quanto mais o credor for colaborativo e parceiro na reestruturação, mais será premiado. O problema não é só da devedora, o problema é de todos." O modelo é similar ao adotado pela AgroGalaxy em sua recuperação judicial, que beneficiou credores dispostos a negociar com a empresa. No caso do Grupo Safras, o mecanismo deve abranger os aproximadamente 800 produtores rurais que compõem a maior parte da base credora, além de fornecedores e instituições financeiras que aceitem colaborar com o processo de soerguimento.
De acordo com o defensor, antes do deferimento, o grupo não conseguia operar com segurança. Qualquer grão depositado nos armazéns estava sujeito a risco elevado de arresto por parte de credores individuais. "A partir de agora temos essa segurança, essa proteção legal e judicial", explicou Carnio. A estratégia de reestruturação inclui também a possível venda de ativos considerados não estratégicos. "A venda de ativos é uma das alternativas que temos para gerar recursos suficientes para o pagamento dos credores. Mas não só por esse aspecto, também por um aspecto de reestruturação da atividade", afirmou. "A atividade vai remanescer, mas talvez não com o mesmo tamanho." O grupo contratou uma consultoria financeira e pretende estruturar Unidades Produtivas Isoladas (UPIs) para possível alienação.
"A ideia é estruturar essas UPIs de maneira que fiquem atraentes para o mercado, que possam ser vendidas de maneira otimizada por valores maiores, preservando ali o 'core' da atividade principal do grupo, mas permitindo também que nós tenhamos uma fonte de receita alternativa importante para cumprir as obrigações na recuperação judicial." As UPIs são um mecanismo legal que permite a venda de ativos com menor risco jurídico para o comprador, já que são formadas a partir da segregação de bens, direitos e licenças sem as dívidas do devedor original. A estratégia é considerada uma das ferramentas mais eficazes para levantar recursos durante a execução do plano. A expectativa é de que a retomada das operações na safrinha de milho, aliada aos recursos gerados pela possível venda de ativos, melhore significativamente a capacidade financeira do grupo.
"Com o reinício das operações, a capacidade financeira do grupo melhora e o plano vai ser melhor", disse Carnio. "Em nenhum momento a ideia do Grupo é dar calote em ninguém. Longe disso. Senão, não teríamos feito isso e não estaríamos insistindo tanto nas soluções que propusemos desde o início", afirmou. "Nossa ideia é negociar, é encontrar soluções que sejam, ao mesmo tempo, favoráveis aos credores e que permitam também a recuperação dessa atividade." O plano será apresentado dentro do prazo legal, mas poderá ser ajustado conforme as negociações com credores. "É natural que o plano inicial não seja o texto definitivo aprovado pela Assembleia Geral de Credores, porque as negociações acontecem simultaneamente em tempo real. Mas a ideia é que, evidentemente, no prazo legal, esse plano será apresentado e será aprimorado até o momento em que estiver pronto para ser votado e aprovado pelos credores na Assembleia." Fonte: Broadcast Agro.