21/May/2025
O avanço da gripe aviária no Brasil, com a confirmação do primeiro foco em plantel comercial e a suspensão temporária das exportações de carne de frango para países como China e União Europeia, adicionou nova pressão sobre os preços no mercado do milho. A reação imediata foi sentida nas compras da indústria de ração, que recuaram diante do cenário de incerteza sobre a produção de proteína de frango. A proximidade da colheita da 2ª safra de 2025 potencializa os efeitos sobre os preços. O resultado é um mercado travado, com negócios pontuais e queda nos indicadores futuros e físicos. Na B3, os contratos mais negociados tiveram comportamento misto entre os dias 16 e 19 de maio. O vencimento julho subiu levemente, de R$ 62,01 por saca de 60 Kg para R$ 62,07 por saca de 60 Kg. Já o setembro recuou de R$ 63,91 por saca de 60 Kg para R$ 63,17 por saca de 60 Kg e o janeiro de 2026 caiu de R$ 70,35 por saca de 60 Kg para R$ 69,82 por saca de 60 Kg.
O mercado tenta se reposicionar diante da combinação de retração da demanda e expectativa de oferta recorde. No mercado físico, o Indicador Cepea/Esalq (Campinas - SP) caiu de R$ 73,07 por saca de 60 Kg no dia 15 de maio para R$ 72,68 por saca de 60 Kg no dia 19 de maio, acumulando perda mensal de 9,3%. A movimentação reflete uma postura defensiva por parte dos compradores, que aguardam o desdobramento da crise sanitária antes de retomar volumes maiores de aquisição. A Brandalizze Consulting confirma que as grandes indústrias do setor de ração paralisaram as compras. A gripe aviária apareceu num momento ruim para o produtor, poucos dias antes da entrada da 2ª safra de 2025. Haverá muita oferta e pouco comprador no curto prazo. Cerca de 45% do milho da 2ª safra de 2025 já foi negociado. A expectativa é de colheita entre 105 milhões e 110 milhões de toneladas, o que deve gerar gargalos logísticos. Haverá problema de armazenagem. Isso tudo joga contra o vendedor.
A StoneX avalia que a incerteza gerada pelo foco da gripe aviária em Montenegro (RS) interferiu diretamente nas estratégias comerciais. Tradicionalmente, este é o momento em que as empresas formam estoques, aproveitando preços mais baixos. Mas, diante da incerteza, devem adotar postura mais cautelosa. O efeito no consumo pode ser limitado se o caso permanecer isolado, mas, se novos focos forem confirmados, o impacto tende a se aprofundar. Relatório da Grão Direto aponta que a avicultura é uma das principais consumidoras de milho no País e que a retração na produção de carne de frango, mesmo que temporária, reduz a demanda por ração. Combinado à expectativa de uma grande oferta, esse movimento tende a pressionar ainda mais os preços do milho. A Pine Agronegócio também vê o mercado cauteloso no curto prazo. O impacto é mais de susto. O setor de ração deu uma freada, e os pequenos compradores já tentam baixar os preços.
Mas, o mercado externo vai comandar a B3 nas próximas semanas. Com o milho sendo ofertado nos portos entre R$ 65,00 e R$ 66,00 por saca de 60 Kg, a B3 tende a trabalhar com até R$ 5,00 por saca de 60 Kg de desconto sobre essa paridade. Não há muito espaço para quedas adicionais, a não ser no curto prazo. As exportações de carne de frango para a China foram suspensas por 60 dias em 15 de maio, conforme prevê o protocolo bilateral em caso de gripe aviária em granjas comerciais. O Ministério da Agricultura pediu formalmente às autoridades chinesas que o embargo seja regionalizado, restrito ao raio de 10 Km do foco, para minimizar os efeitos sobre o setor. A China foi responsável por 13% das exportações brasileiras de carne de frango em 2024. De janeiro a abril de 2025, o Brasil embarcou 192 mil toneladas da proteína ao país asiático, com receita de US$ 455 milhões. Caso o embargo se prolongue ou seja mantido em nível nacional, o efeito sobre o consumo de milho tende a ser mais severo.
Até o momento, 18 destinos suspenderam as exportações de carne de frango do Brasil: Iraque, China, União Europeia, México, Coreia do Sul, Chile, África do Sul, Rússia, Peru, Canadá, República Dominicana, Uruguai, Malásia, Argentina, Marrocos, Bolívia, Paquistão e Sri Lanka, conforme levantamento do Ministério da Agricultura. No exterior, a safra norte-americana avança em ritmo acelerado, e os estoques globais seguem apertados. A produção mundial deve ficar abaixo da demanda pelo segundo ano consecutivo. Mesmo assim, os preços na Bolsa de Chicago operam com volatilidade limitada diante da ausência da China entre os principais compradores do milho norte-americano. A crise do frango só piora um cenário que já era desafiador para o milho. O produtor que não vendeu antes agora precisa ter paciência e acompanhar o mercado dia a dia. O segundo semestre ainda pode trazer oportunidades, mas o momento atual é delicado. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.