03/Mar/2025
A capacidade de o Brasil fornecer milho ao México ainda é uma incógnita. O tamanho da 2ª safra de milho de 2025 no Brasil, o aumento no consumo interno, aprovações de biotecnologia, logística e preços são alguns dos principais fatores que devem ser avaliados na hora de se decidir sobre a exportação do cereal. O mercado mexicano ganha potencial para o País, se os Estados Unidos resolverem impor tarifas sobre produtos do vizinho, a partir desta terça-feira (04/03), como prometido pelo presidente Donald Trump, e o México reagir com retaliação. O México é importante importador do grão e os Estados Unidos são o principal fornecedor. Em 2023, o México importou 18,6 milhões de toneladas do cereal norte-americano, no valor de US$ 5,4 bilhões, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Antes de tudo, grandes exportações de milho pelo Brasil estariam diretamente atreladas a uma 2ª safra de 2025 robusta.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê, se condições climáticas continuarem favoráveis, produção na 2ª safra de 2025 de 96,05 milhões de toneladas, crescimento de 6,4% ante a temporada anterior (90,26 milhões de toneladas em 2023/2024). No total, o País pode colher 122,01 milhões de toneladas em 2024/2025, 5,5% acima da safra 2023/2024, das quais se espera que 34 milhões de toneladas seriam direcionadas para exportação e 86,92 milhões de toneladas consumo interno, restando assim estoques de 4,89 milhões de toneladas. Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), a 2ª safra de 2025 depende muito do clima em Mato Grosso. Se sair tudo como previsto, será uma boa produção e uma boa exportação, maior do que no ano passado. A estimativa para as exportações do grão é de 42 milhões de toneladas.
Em 2024, foram exportadas 39,761 milhões de toneladas de milho, 28,83% menos que os 55,868 milhões de toneladas de 2023, ano em que o Brasil foi considerado o maior exportador de milho do mundo, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Mato Grosso é o principal Estado produtor de milho de 2ª safra. Também é importante considerar o aumento expressivo do consumo pela indústria de carnes e de etanol. A participação do cereal na fabricação do biocombustível avançou 30% na temporada 2024/2025, de acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica). A Brandalizze Consulting estima que esse consumo pode atingir 20 milhões de toneladas, frente 17 milhões de toneladas em 2023/24, com novas usinas entrando em operação e as já existentes fazendo ampliações. O setor de exportação de carnes também vai ter mais demanda. O Brasil está batendo recorde de exportação de frango e de suínos. Agora também há uma disparada de preço no setor de ovos no mercado global e o Brasil começou a ser um grande exportador de ovos.
Não há expectativa de que falte milho para a indústria de ração ou mesmo que as exportações sejam priorizadas em relação ao consumo interno. Isso ocorre porque a indústria consumidora interna paga valores maiores do que exportadores, visto que a logística necessária para levar o cereal da Região Centro-Oeste para os portos encarece o produto, informa a Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho). Granjas, indústrias de ração e as de etanol também estão mais próximas das áreas produtoras, o que facilita essa logística de transporte, além de incentivar a produção do cereal. O mercado interno não vai querer deixar escapar o milho, então, vai pagando melhor do que o exportador pode pagar. Os exportadores teriam que pagar R$ 2,00 a R$ 3,00 por saca de 60 Kg a mais para compensar as ofertas de compradores internos. Mesmo com aumento na demanda para etanol, a fabricação do combustível de milho gera como coproduto o DDG, utilizado principalmente na alimentação de ruminantes, o que poderia recompensar essa redistribuição entre consumidores.
A Abramilho lembra que outro fator limitante que poderia surgir para a exportação de milho seria a aprovação de eventos de biotecnologia e transgenia. No geral, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) costuma agir rápido nas aprovações em território nacional, em torno de um ano. Em contrapartida, essa aceitação pode demorar mais em outros países. A China, um dos principais destinos do milho brasileiro, demanda entre quatro e cinco anos para aprová-las. Além disso, os próprios Estados Unidos lidam com a possibilidade de restrições mexicanas a eventos biotecnológicos. 95% da produção brasileira se dá nessas condições. A demanda externa também está atrelada à oferta de outros países produtores, como Estados Unidos e Argentina. Para Argentina, a Bolsa de Comércio de Rosário prevê produção de 46 milhões de toneladas em 2024/2025, 12,4% abaixo das 52,5 milhões de toneladas de 2023/2024. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) prevê uma produção de 395,86 milhões de toneladas no país, o que representaria uma alta de 4,8% ante temporada 2024/2025.
Os principais fornecedores de milho no mundo são Estados Unidos, Brasil e Argentina, responsáveis por cerca de 80% das exportações do cereal. Mexer no equilíbrio entre esses três países também significaria alterar a dinâmica de consumo. Se tem um mercado que está consumindo de um desses três países e passa a consumir de outro, abre-se uma lacuna. O Brasil pode fornecer mais para o México, mas em contrapartida vai ter menos para oferecer para outros países consumidores. A logística para levar o milho brasileiro até o México poderia ser feita pelos portos do Arco Norte, economizando cerca de US$ 20,00 dólares por tonelada. Apesar do Brasil não ser o principal fornecedor de milho para o México, o País já vendeu milho para os mexicanos, o que não tornaria o trajeto necessariamente uma novidade. A Anec estima que no ano passado tenham sido exportadas apenas 75 toneladas de milho brasileiro para o México, em comparação com 1.610 toneladas em 2023, ano de exportações recordes do cereal brasileiro. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.