06/Feb/2025
Os preços do milho tendem a se manter firmes no mercado doméstico neste ano, o que não deve aliviar os custos da indústria de proteína animal. Desde setembro de 2024, quando o mercado começou a sinalizar que a demanda pelo cereal poderia superar a oferta no ano-safra, o indicador Cepea/Esalq/B3 do (Campinas - SP), acumula alta de 24%. Neste momento, as atenções estão voltadas para o plantio da 2ª safra de 2025, que ocorre após a colheita da soja. Como a retirada da oleaginosa do campo está atrasada, há incerteza sobre a produção do cereal que chegará ao mercado a partir de julho. Paralelamente, o consumo interno de milho cresce, impulsionado pela indústria de etanol. A participação do cereal na fabricação do combustível avançou 30% na temporada 2024/2025, de acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica).
A demanda da indústria de carnes também cresce com exportações aquecidas e os preços têm pouco espaço para cair. Para a safra 2024/2025, iniciada em julho passado, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) previu no quarto levantamento, divulgado em janeiro, uma produção 3,3% superior à da temporada passada, que frustrou as expectativas por causa do clima. Para este ciclo, a colheita projetada é de 119,55 milhões de toneladas de milho, ante 115,70 milhões de toneladas em 2023/2024, que tinha sido 12,3% menor que a da temporada anterior. Em setembro, com o cenário indefinido, o mercado começou a ficar mais especulativo.
Os consumidores internos ficaram receosos de ficar sem milho e passaram a oferecer preços mais altos para o produtor vender. E o produtor foi comercializando, mas sempre elevando a régua. De lá para cá, as estimativas de produção têm se confirmado. A avaliação é de que, mesmo que parte da safra seja semeada fora da janela ideal, a produção tende a atender a demanda se as condições climáticas forem favoráveis. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) está otimista com a oferta interna. Haverá também volume para exportar. Segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), a indústria de rações não vê sinais de comprometimento da oferta. Quando o setor agropecuário sente pressão, ele reduz o ritmo, o que não está acontecendo agora.
Com base nas estimativas das entidades que representam os produtores de carne bovina, suína, aves e leite, a demanda por ração deve aumentar cerca de 3% em 2025. O ano passado já foi assim, e este ano também será, o que demonstra que não há preocupação com abastecimento. Segundo o Sindirações, a produção de ração cresceu 2,7% em 2024, para 90 milhões de toneladas, e em 2025 deve ter incremento de 2 milhões de toneladas. É consenso, no entanto, que o custo de produção deve aumentar com o insumo mais caro. Segundo o Itaú BBA, será um desafio especialmente para os produtores de frango, para os quais o milho representa 70% na ração. O ano passado foi excelente para a avicultura e a suinocultura, com preços firmes e custos baixos. Agora, os preços seguem sustentados, mas os custos estão subindo.
Destaque também para o peso do câmbio sobre os custos da indústria de proteína animal, pois é o principal alavancador dos preços. As commodities agrícolas são precificadas em dólar, o que afeta diretamente os custos. Apesar da correção em janeiro, o Real segue desvalorizado em relação ao dólar. Mesmo que o Brasil não exportasse, o preço do milho ainda seria definido pela referência externa, o que puxa as cotações para cima. A ABPA cita a possibilidade de importação de milho se o mercado doméstico exigir. O dólar alto dificulta a importação, mas, se precisar, o setor já tem todos os canais. O Paraná já realiza compras regulares de milho do Paraguai, sem Tarifa Externa Comum (TEC) garantida pelo Mercosul. Sobre a volatilidade da moeda, o mais importante é a previsibilidade e estabilidade.
A indústria de ração pode recorrer a substitutos para o milho em caso de necessidade. Alternativas parciais são o sorgo e os cereais de inverno. Quem produz ração sempre busca a formulação mais barata possível, respeitando as exigências nutricionais dos animais. Também o farelo de soja. No ano passado, a alta dos preços do milho foi compensada pelo preço mais baixo do farelo de soja, outro insumo importante na ração usada na avicultura. A tendência é de manutenção das cotações do milho nos patamares atuais. Mesmo que a produção aumente, a demanda crescente da indústria de etanol tende a impedir quedas significativas nos preços. Se tudo correr bem com a 2ª safra de 2025, no segundo semestre pode haver uma acomodação, mas não nos níveis anteriores. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.