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12/Nov/2024

Pesquisa visa criar milho que use menos fertilizante

A InEdita Bio, startup de biotecnologia com foco em edição genômica, e a empresa de sementes Shull Seeds, assinaram uma parceria de pesquisa e desenvolvimento (P&D) visando criar um milho que precise de menos fertilizante nitrogenado, reduzindo o custo de produção da lavoura e o impacto ambiental. O plano é desenvolver plantas de milho mais eficientes na combinação com bactérias que capturam o nitrogênio gasoso do ar, reduzindo em pelo menos 50% a necessidade de uso do fertilizante no solo, que hoje representa cerca de 20% do custo de produção. A característica a ser desenvolvida na parceria atuaria de forma similar aos inoculantes bacterianos do gênero Rhizobium, populares na cultura da soja a partir dos anos 2000. Com a tecnologia Trait by Design da InEdita, a previsão é que os primeiros híbridos cheguem ao mercado em 3 a 4 anos e representem um avanço bem grande para a cultura.

A tecnologia de sementes evoluiu nos últimos 30 anos aplicando a transgenia, tanto que no Brasil mais de 90% das lavouras de soja e milho usam sementes melhoradas geneticamente. Mas, a percepção das pessoas com os transgênicos não é boa. Além disso, a transgenia demanda um investimento grande na parte regulatória. Na comparação, os custos de regulação da biotecnologia não chegam a 5%. Na última década, surgiu a revolução na biotecnologia para todas as áreas do conhecimento. A edição genômica pode fazer uma planta ser mais eficiente na aquisição de características com pequenas modificações no genoma sem introduzir nenhum gene novo, com custos mais ao alcance de pequenas empresas, o que impulsionou a criação de startups nesta área no mundo todo. O grande desafio da agricultura atualmente é produzir alimento para uma população crescente com menos fertilizantes químicos e menos pesticidas ou a produção ficará insustentável, com impactos danosos ao meio ambiente.

O fertilizante nitrogenado é caro e gera no solo uma das espécies mais nocivas do ponto de vista dos gases de efeito estufa, o óxido nitroso, que é mais prejudicial que o CO2. Então, a parceria visa desenvolver uma planta que além de representar um gasto menor para o produtor, ainda diminui a emissão de gases de efeito estufa. A equipe de PhDs da InEdita desenvolveu uma tecnologia capaz de trabalhar com as linhagens comerciais como as da Shull, o que acelera o processo, já que fazer testes de campo é o cotidiano dessas empresas de sementes. É certamente um projeto de alto risco por ser uma inovação disruptiva. No Brasil, o sistema é meio avesso a risco, mas sem risco sem ganho. Não há biotecnologia desenvolvida no Brasil para as grandes culturas e o sucesso dessa pesquisa pode tornar o País uma potência na área genômica. A Shull vai pagar parte dos custos da pesquisa, fornecer as linhagens para serem editadas e depois receber as plantas editadas para fazer testes em casas de vegetação e no campo.

Os resultados desse projeto podem depois ser aplicados para outras culturas e em outros locais do mundo. O contrato com a Shull não envolve exclusividade. Recentemente, a startup de biotecnologia fechou uma parceria também com a maior empresa brasileira de sementes de milho, a Helix, antiga Agroceres, mas ambas não divulgaram o objetivo da pesquisa. Também não foram informados os valores da parceria com a Shull, que vai pagar parte do custo, fornecer as linhagens para serem editadas e receber as plantas editadas para fazer testes em casa de vegetação e depois em campo. A Shull também não revela quanto foi o investimento. Diz apenas que a empresa investe de R$ 35 milhões a R$ 40 milhões em pesquisas por ano. Na parceria, o plano é expandir o foco de pesquisa para incorporar outras tecnologias que sejam benéficas para o produtor e o meio ambiente. Segundo a Shull, está na hora de o Brasil produzir alguma tecnologia impactante para o milho.

Essa pesquisa significa uma revolução para a Shull e para o milho. Por isso, foram colocados recursos em um projeto que pode até resultar em nada em quatro anos, mas a Shull tem o propósito de desenvolver tecnologia para aplicação no Brasil, que possa ser usada em outros lugares. Destaque para economia estimada para o produtor de milho, que gasta atualmente cerca de R$ 3.000,00 por hectare com fertilizantes nitrogenados, e o benefício para o meio ambiente. Fundada em 2021, a InEdita Bio inovou no setor de deep techs de biotecnologia ao criar plataformas proprietárias que combinam bioinformática, edição genômica, inteligência artificial, machine learning e outras tecnologias para desenvolver diferentes características de interesse em qualquer cultura agrícola. Através de solução tecnológica integrada, a startup focada nas culturas de soja e milho pode criar plantas mais adaptadas a restrições climáticas, mais eficientes na absorção de nutrientes e no uso de água, além de mais resistentes a pragas e doenças.

Em três anos, captou em torno de US$ 1,5 milhão do fundo Vesper Ventures e da gestora Ecoa Capital. Os laboratórios ficam em Florianópolis (SC), no andar de baixo do prédio em que funciona o Vesper. Na sede, há o sinergismo entre o pessoal do capital movido a tecnologia disruptiva e o pessoal da ciência. A Shull tem sede e uma das três estações de pesquisa em Ribeirão Preto (SP). Foi fundada em 2016 por Paulo Pinheiro, que foi diretor de biotecnologia da antiga Dow Agroscience, em sociedade com José de Leon, que foi vice-presidente de pesquisa da Dow e arquitetou toda a pesquisa de melhoramento de milho no Brasil. A empresa oferece seis híbridos de milho e quatro de sorgo, com foco nos mercados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Em dois anos, pretende lançar um programa de milho temperado, com sementes específicas para a Região Sul, que estão sendo desenvolvidas em uma estação de pesquisa no Paraná. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.