17/May/2024
As cotações do milho começaram 2024 pressionadas, dando continuidade ao movimento de baixa observado desde o ano passado, como resultado de uma oferta sem grandes ameaças e de preocupações em relação ao consumo global. Pelo lado da oferta, apesar das questões climáticas observadas durante o desenvolvimento da safra norte-americana, o resultado do ciclo 23/24 foi uma produção recorde de 389,7 milhões de toneladas, levando a uma recuperação dos estoques finais do país. Ademais, outros importantes produtores também tiveram, ou estão tendo, uma temporada bastante positiva. A produção ucraniana superou 30 milhões de toneladas, enquanto as estimativas para a Argentina indicavam que o país poderia produzir mais de 55 milhões de toneladas do cereal no ciclo 23/24.
Destaca-se, ainda, a China, segunda maior produtora mundial de milho, que colheu uma safra muito robusta, mesmo com as inundações que afetaram parte do país em meados do ano passado. Por fim, no Brasil, as estimativas apontavam para uma safra ainda favorável, mesmo que abaixo do recorde do ano passado. Nas últimas semanas, contudo, o cenário de oferta tem inspirado maior preocupação, dando maior sustentação aos preços em Chicago e no mercado doméstico, apesar de os patamares de negociação continuarem mais baixos em comparação ao período anterior a 2023. A safrinha brasileira 23/24 já começou com estimativas de uma produção menor em comparação com ano anterior, quando o clima foi excepcional e registraram-se recordes de produtividade.
Atualmente, a StoneX espera que a produção da segunda safra 2023/24 alcance 97,3 milhões de toneladas, ante 108,4 milhões em 2023, destacando o recuo de área plantada, em meio a preços mais pressionados e atrasos no ciclo da soja. Entretanto, esse volume de produção ainda poderá ser ajustado para baixo em vista do clima bastante seco que tem predominado em boa parte da região produtora em maio, e que afeta o desenvolvimento das lavouras plantadas mais tarde. Já a Argentina, que teve um início de ciclo muito positivo sob influência do El Niño, viu seu potencial reduzido nas últimas semanas, com a estimativa de produção da Bolsa de Buenos Aires já tendo caído 10 milhões de toneladas em relação a seu número inicial, ficando atualmente em 46,5 milhões.
Além do clima quente e seco entre o final de janeiro e início de fevereiro, as lavouras do país têm sido afetadas por uma incidência muito elevada de cigarrinha, situação seguida de perto pelo mercado, uma vez que a Argentina tem grande relevância nas exportações de milho. Assim, a safra de milho da América do Sul ainda não está plenamente definida, ao mesmo tempo em que o ciclo 24/25 nos EUA está ganhando mais importância na movimentação de preços do cereal. O plantio da safra norte-americana está em andamento e, nas semanas recentes, o clima mais chuvoso reduziu o ritmo dos trabalhos no campo, o que tem motivado altas de preço, enquanto o mercado especula sobre os possíveis resultados desse atraso. As janelas de plantio nos EUA estão relacionadas aos seguros oferecidos ao produtor e um atraso na semeadura reduz a cobertura contra eventos que possam resultar em perdas de produtividade das lavouras.
Com isso, começam a ocorrer discussões sobre se esses atrasos poderão afetar o tamanho da área do cereal e levar a alguma migração de última hora para a soja, uma vez que a oleaginosa possui um ciclo algumas semanas mais tardio que o milho. Dessa forma, a oferta, por estar associada a questões climáticas imprevisíveis, tem o potencial de mudar o equilíbrio entre oferta e demanda mais bruscamente, com impactos sobre os preços. Em relação à demanda, o cenário global não sofreu maiores mudanças, com o desempenho econômico ao redor do mundo no radar, em meio a um crescimento relativamente mais lento e a taxas de juros ainda elevadas em vários países, como os EUA. Um ponto que deve ter especial relevância nos próximos meses é o tamanho das importações chinesas de milho, já que o USDA estima volumes anuais acima de 20 milhões de toneladas, enquanto o governo do país aposta em algo mais próximo de 10 milhões de toneladas. Fonte: Ana Luiza Lodi. Broadcast Agro.