28/Mar/2022
No curto prazo, a tendência é de recuo dos preços do milho no mercado brasileiro, com o dólar acumulando fortes baixas ao longo deste mês de março. O dólar fechou a sexta-feira (25/03) cotado a R$ 4,7473, acumulando baixa semanal de 5,3% e de 13,1% em 2022. As razões para o dólar continuar a recuar ainda são as mesmas: diferencial de juros favorecendo a entrada da divisa por aqui, um dólar super apreciado associado a uma bolsa barata. Todas essas razões fazem do Real a moeda de melhor desempenho no ano frente ao dólar, dentre uma cesta de 33 moedas. Cenário diametralmente oposto ao observado em 2020 e 2021, quando a moeda brasileira estava entre as de pior desempenho no mundo. A semana fechou com quedas no mercado físico e na B3. O vencimento maio/2022 foi cotado à R$ 93,42 por saca de 60 Kg, com perda de 4,1%, julho/2022 fechou em R$ 91,40 por saca de 60 Kg, com queda de 4,4%, setembro/2022 foi negociado por R$ 90,34 por saca de 60 Kg, com desvalorização de 5,1% e novembro/2022 fechou em R$ 92,63 por saca de 60 Kg, com baixa de 4,7%.
Na comparação semanal, os contratos futuros do milho brasileiro acumularam desvalorizações de 7,7% para maio/2022, de 5,7% para julho/2022, de 5,9% para o setembro/2022 e de 5,9% para o novembro/2022. Nos médio e longo prazos, entretanto, o viés é altista para os preços do milho no mercado interno, com a forte alta das cotações futuras do trigo nas últimas semanas no mercado externo, quebras na safra de verão no Brasil (1ª safra 2021/2022) e na Argentina, forte alta da cotação do petróleo – que impulsiona a produção de etanol de milho nos EUA – e expectativa de redução da área plantada nos EUA na safra 2022/2023. Ucrânia e Rússia, juntos, respondem por 16% das exportações globais de milho e 29% do comércio global de trigo: milho e trigo têm preços correlatos no mercado internacional. As quebras na safra da América do Sul, os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia e a forte alta da cotação do petróleo já estão precificados nas cotações futuras da Bolsa de Chicago. Em Chicago, há um largo spread entre vencimentos mais curtos e mais longos: os futuros com vencimentos em 2022 oscilam entre US$ 6,60 a US$ 7,50 por bushel, enquanto os contratos para 2023 operam entre US$ 6,00 a US$ 6,65 por bushel.
A confirmação da 2ª safra recorde no Brasil pode conter um viés de alta mais intenso no 2º semestre de 2022. Após atingir R$ 103,90 por saca de 60 Kg no dia 14 deste mês, a máxima nominal da série histórica, o Indicador ESALQ/BM&F (referência região de Campinas/SP) passou a cair nos dias seguintes e já opera abaixo dos R$ 100,00 por saca de 60 Kg. O Indicador fechou a semana a R$ 96,98 por saca de 60 Kg, queda de 4,2% em sete dias. No acumulado do mês, contudo, ainda se observa avanço, de 1,9%. A pressão vem especialmente do enfraquecimento da demanda. Além disso, parte dos produtores esteve mais flexível nos valores de negociação, seja porque pretende aproveitar os atuais patamares mais elevados, seja por necessidades de fazer caixa para quitar dívidas de custeio deste mês. Outros produtores, ainda, precisam comercializar lotes da safra verão, que começa a ganhar ritmo no Sudeste brasileiro. Na média das regiões, nos últimos sete dias, houve queda de 4,3% no mercado de balcão (recebidos pelo produtor) e de 3,3% no de lotes (negociação entre empresas).
Nos portos, após o avanço expressivo no início de março, os preços recuaram 5,6% em Paranaguá (PR) nos últimos sete dias, para R$ 102,27 por saca de 60 Kg. No geral, os exportadores vêm reduzindo o interesse nas compras desde o final da semana retrasada, indicando já ter realizado aquisições para todo o mês de março e para o começo de abril. Assim, as negociações nos portos são pontuais, e os registros de embarques seguem abaixo dos verificados no mesmo período de 2021. As exportações brasileiras somam apenas 12 mil toneladas na parcial de março, muito abaixo das 292 mil toneladas de março/2021. Quanto às importações, que tiveram bastante destaque na temporada anterior, também estão baixas. Em março, chegaram no Brasil 36 mil toneladas, contra 113 mil toneladas em março/2021. Os produtores têm se concentrado na semeadura da segunda safra, que, até o momento, apresenta boas expectativas, em função dos trabalhos na janela ideal aliado ao clima favorável ao desenvolvimento da safra em todas as regiões.
Em Mato Grosso, 99% da área foi semeada. No Paraná, enquanto a colheita de verão chegou a 94% da área, o cultivo da 2ª safra atingiu 94% do estimado. Em Mato Grosso do Sul, produtores avançaram com a semeadura, chegando a 82% da área estadual. No Rio Grande do Sul, 72% da área havia sido colhida até o dia 24. Para a Conab as médias nacionais de colheita da safra verão (1ª safra) e de semeadura da 2ª safra estão em 41,6% e 94,7%, respectivamente. Na Argentina, a colheita de grãos tem ganhado ritmo, mas as expectativas de produtividade seguem abaixo das estimativas iniciais. Com isso, a Bolsa de Cereais reduziu em 2 milhões de toneladas a produção, agora prevista em 49,0 milhões de toneladas. Quanto à colheita, chegou até o dia 24 em 10% da área total. Fontes: Cepea e Cogo Inteligência em Agronegócio.