21/Jul/2021
Diante dos preços remuneradores pagos pelas indústrias de etanol e de ração pelo milho, tradings vêm redirecionando ao mercado interno lotes de contratos previamente fechados para exportação. A transferência vem ocorrendo ao longo dos últimos dois meses, mas ficou mais intensa a partir do fim de junho, quando a 2ª safra de 2021 do País foi prejudicada por geadas. Os consumidores domésticos pagam até R$ 16,00 por saca de 60 Kg do cereal acima dos valores cotados para o mercado externo. Na primeira semana do mês, uma trading reverteu embarque de 60 mil toneladas para venda a indústria de etanol em Mato Grosso. A venda para usina de etanol se deve ao fato de os preços pagos pelos processadores da região serem superiores aos ofertados pelos exportadores. A diferença, geralmente de R$ 3,00 a R$ 4,00 por saca de 60 Kg, está entre R$ 10,00 e R$ 12,00 por saca de 60 Kg.
Consumidor doméstico indicava entre R$ 80,00 a R$ 81,00 por saca de 60 Kg FOB, para retirada em julho e pagamento em agosto, enquanto exportador indicava de R$ 68,00 a R$ 70,00 por saca de 60 Kg, nas mesmas condições. Há um descolamento das cotações e essa margem deve aumentar ainda mais. A partir de setembro, essa disparidade será ainda maior em virtude da procura acentuada do cereal para ração e firme demanda para biocombustível. Outro motivo atribuído para a elevada rentabilidade dos preços internos é a perspectiva de quebra na 2ª safra de 2021 nacional nas principais regiões produtoras, em decorrência da seca severa e das geadas que afetaram o desenvolvimento do cereal. A 2ª safra de 2021 está sendo colhida no País. O mecanismo de reversão, chamado de washout, é previsto nos contratos entre as tradings e os compradores internacionais. É um instrumento utilizado quando o mercado exportador está menos competitivo que o interno. A trading ou fornece o cereal de outro país para o importador ou paga uma diferença de liquidação de contrato.
Há relatos de que tradings estariam aderindo ao mecanismo. Em anos normais, os preços mantêm paridade, a depender do câmbio e de variáveis de oferta e demanda. Então, as exportações ocorrem normalmente e o mercado interno tem consumo normal. Mas, é um ano atípico, com consumo doméstico aquecido e quebra da 2ª safra de 2021. Indústria de ração de Santa Catarina pagava R$ 95,00 por saca de 60 Kg CIF, enquanto a oferta para cereal posto em porto do Estado era de R$ 78,00 por saca de 60 Kg, nas mesmas condições. Na região de Nova Mutum (MT), há rumores de venda para usina de etanol de 50 mil toneladas de milho em poder de trading. Os lotes seriam inicialmente destinados à exportação. Tradings estão trocando as posições, porque compraram barato lá atrás e estão revertendo para mercado interno. Deve haver redirecionamento dos lotes tanto para fábrica de ração quanto para indústria de etanol.
O preço está mais alto, pois a demanda está elevada também. A previsão é de uma quebra de 30% na 2ª safra de milho 2021 de Mato Grosso por falta de chuva. Em virtude dos fundamentos atuais de mercado, essa mudança de destino dos contratos está mais forte que o habitual. Companhias com operação em Goiás tem adquirido volumes. Elas fazem a conta e veem o que vale mais a pena: vender no mercado interno ou exportar. Várias estão fazendo washout: Gavilon, Bunge, Dreyfous. ADM, Bunge, Cargill, Cofco, entre várias outras, que estão redirecionando os lotes. Foi observada uma compra de 6 mil toneladas de milho por usina de etanol na região de Sorriso (MT) via trading no fim de maio. Algumas tradings estão vendendo volumes consideravelmente grandes para o mercado interno. Agente do Paraná também relatou ter visto tradings redirecionando volumes de exportação para abastecer o mercado interno, que, além de absorver essas cargas, também já faz cálculos para importar da Argentina. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.