11/Jan/2021
As cotações do milho no mercado interno permanecerão em patamares elevados ao longo do primeiro semestre. Com a previsão de estoque de passagem apertado entre as safras 2019/2020 e 2020/2021, a maior demanda para produção de ração e etanol e a expectativa de quebra da safra de verão (1ª safra 2020/2021) no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, os consumidores do cereal devem encontrar dificuldades para fazer novas compras por preços abaixo dos atuais. No primeiro semestre, a oferta ficará muito ajustada à demanda. Considerando a previsão de um estoque de passagem de 10 milhões de toneladas e produção de milho na safra de verão (1ª safra 2020/2021) estimada em 25 milhões de toneladas, a disponibilidade de milho seria de 35 milhões de toneladas, mais no fim do trimestre. O consumo mensal médio de milho no Brasil é de 5,7 milhões de toneladas.
Os preços indicados por consumidores domésticos no Brasil devem ficar acima da paridade de exportação (valor do grão a ser exportado considerando cotações na Bolsa de Chicago, câmbio, frete até o porto de embarque e outros fatores) e talvez até o prêmio oferecido pelo mercado interno aumente um pouco. O abastecimento do mercado interno no primeiro semestre do ano depende do que o Brasil produz na safra de verão e do quanto de estoque é trazido do ano anterior. Há demanda por milho o ano todo, vinda de plantas de etanol, de empresas de carnes, entre outras. De modo geral, as estimativas para safra de verão (1ª safra 2020/2021) foram revisadas para baixo, por cortes nas projeções de produtividade das lavouras do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, em razão da falta de umidade. No Rio Grande do Sul, a estimava é de produção em 2021 de 3,03 milhões de toneladas, 28% menor do que em 2020, quando a colheita do cereal já havia sido 27% inferior à de 2019.
Diante das sucessivas perdas, a projeção é de preços sustentados, inclusive porque os compradores terão de adquirir produtos de outros Estados para conseguir atender seus clientes, que implicarão custos elevados de logística. Para Santa Catarina, a última projeção aponta produção de 2,7 milhões de toneladas de milho na safra de verão (1ª safra 2020/2021), 2,6% abaixo do volume de 2019/2020. Do lado da demanda, é esperado um aumento generalizado do consumo doméstico de milho, vindo de usinas de etanol de milho e do setor de proteína animal. A perspectiva de um consumo interno (produção de ração, etanol, pecuária e outros usos, como alimentação para pets) está entre 71 e 72 milhões de toneladas na temporada 2020/2021, cerca de 3,5 milhões de toneladas, ou 5%, a mais do que na safra passada. Se confirmada, será a primeira vez em que o consumo doméstico de milho ultrapassará os 71 milhões de toneladas.
Do incremento esperado para 2021, 1,6 milhão de toneladas serão consumidos pela indústria de etanol de milho. O segmento continuará se expandindo em 2021 com a expectativa de retomada da economia brasileira e deve produzir 3,4 bilhões de litros de etanol, acima dos 2,75 bilhões de litros em 2020. O incremento, de 24%, deve resultar em um consumo total de milho de 8,5 milhões a 9 milhões de toneladas. Não só as usinas em operação demandarão mais cereal, como novas unidades que entrarão no mercado. De acordo com o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), duas novas plantas de etanol de milho devem ser abertas no Estado em 2021. A indústria de etanol de milho começa a se tornar relevante para o mercado de milho, principalmente para as regiões onde estão as plantas. Mas, a perspectiva de demanda vai depender também da combinação do preço de milho e do de etanol.
Apesar de as margens de lucro da indústria de etanol de milho terem diminuído de forma significativa em 2020, pelo fato de os preços do cereal terem subido expressivamente, ainda foram um pouco melhores do que as da indústria de aves. Isso porque o preço do DDG (grão seco por destilação, subproduto da produção do biocombustível, destinado à nutrição animal) subiu bastante por ser uma alternativa mais barata ao farelo de soja, o que trouxe receita adicional às usinas de etanol. Os ganhos com o DDG acabaram minimizando parte da queda. É preciso lembrar também que o fim do auxílio emergencial ofertado pelo governo vai colocar em xeque a capacidade do mercado de absorver as altas do milho. Apesar das incertezas, a perspectiva por ora é de aumento do consumo do biocombustível à base de milho, a reboque da recuperação econômica. O etanol de milho também poderá ser impulsionado pela menor oferta do biocombustível produzido com cana-de-açúcar.
A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) projeta uma produção de 30,440 bilhões de litros de etanol à base de cana-de-açúcar na safra 2020/2021, 8,5% a menos do que em 2019/2020. A temporada sucroalcooleira teve início em abril de 2020 e terminará em março de 2021. A safra será mais açucareira, com o estímulo dos preços do açúcar no mercado internacional, e assim 46,04% da moagem de cana-de-açúcar deverão ser destinados ao adoçante, bem acima dos 34,33% da safra anterior. A Unica também projeta aumento de 63% da produção de etanol de milho, para 2,65 bilhões de litros do biocombustível. Nos Estados Unidos, ainda no primeiro semestre, outro fator que pode trazer sustentação aos preços do milho, desta vez no mercado internacional, serão as especulações sobre o tamanho da área a ser destinada ao cultivo de milho nos Estados Unidos na safra 2021/2022.
Olhando a relação entre os preços de soja e milho, em 2021/2022, os produtores norte-americanos serão incentivados a produzir mais soja e menos milho. Quando se divide as cotações da soja pelas do milho, o número é superior a 2,3 e é mais favorável ao produtor cultivar a oleaginosa. Os Estados Unidos já estão com um balanço mais apertado na safra 2020/2021 (estoques finais de 43,2 milhões de toneladas serão menores do que os de 2019/2020, de 50,7 milhões de toneladas, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos - USDA). Em 2021/2022 deve haver uma redução de área de milho e demanda chinesa firme pelo milho dos Estados Unidos, por conta da demanda para a recomposição do plantel de suínos (que diminuiu expressivamente na China por causa da peste suína africana). A partir de março, as cotações dos futuros do milho negociados na Bolsa de Chicago já poderão sofrer influência deste quadro, com as especulações do mercado em torno das intenções de plantio nos Estados Unidos. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.