14/Dez/2020
A tendência é de pressão baixista sobre os preços do milho no mercado brasileiro, puxados para baixo, principalmente, pela forte queda do dólar nas últimas semanas. O dólar fechou em leve alta ante o Real na sexta-feira (11/12), replicando movimento visto no exterior em dia de correção negativa em ativos de risco, depois do tombo da véspera que empurrou a moeda a mínimas em seis meses no Brasil. O ajuste da sexta-feira, contudo, nem de longe impediu que o dólar engatasse a quarta semana consecutiva de perdas, a mais longa sequência em um ano. O dólar à vista subiu 0,12%, para R$ 5,0476. Na semana, a cotação caiu 1,51%. A série de quatro semanas de baixa (em que acumulou perda de 7,81%) é a mais longa desde a sequência também de quatro semanas de queda finda em 27 de dezembro do ano passado. Em dezembro, o dólar recua 5,59%. A combinação entre contínua fraqueza da moeda no exterior, salto nos preços das commodities, sinais positivos do lado da agenda local de reformas e defesa de regras fiscais, confirmação de oferta líquida de dólares pelo Banco Central e o tom mais duro da autarquia sobre política monetária ditou o alívio nas pressões sobre a taxa de câmbio na semana.
Conforme o prêmio de risco cambial continua a reduzir, seria questão de tempo o rompimento do suporte psicológico de R$ 5,00. A maior parte das consultorias de investimentos projetam o câmbio para 2021 entre um piso de R$ 4,50 a até R$ 4,80. Em um cenário mais favorável, no qual mais reformas são aprovadas pelo Congresso em 2021, a moeda norte-americana poderia ficar até abaixo de R$ 4,50. As projeções convergem para um câmbio de R$ 4,80 ao longo de 2021. Os preços nos portos brasileiros estão em baixa, pressionando as cotações no interior. O retorno das chuvas alivia, pelo menos temporariamente, a tensão com perdas maiores na 1ª safra de 2020/2021, mas alguns Estados já registram quebras irreversíveis. Além disso, permanecem as preocupações com a implantação da 2ª safra de 2021, que deve começar mais tardiamente em alguns Estados produtores. As atenções de agentes do mercado de milho estão voltadas ao clima e ao desenvolvimento das lavouras, contexto que mantém a comercialização bastante lenta.
Apesar de as chuvas terem retornando na maior parte das regiões, produtores estimam quedas na produtividade. Por enquanto, dados oficiais ainda apontam produção recorde na temporada 2020/2021, superando 106 milhões de toneladas mesmo com a redução na 1ª safra. Em novembro, na maior parte das regiões brasileiras, especialmente no Centro-Sul do Brasil, as chuvas estiveram abaixo da média histórica. Especificamente no Rio Grande do Sul e no Paraná, as precipitações voltaram a ocorrer apenas no encerramento do mês. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), nas regiões produtoras da 3ª safra (MATOPIBA), as chuvas estiveram acima ou próximas da média. Essa irregularidade climática ainda pode se manter no trimestre dezembro/2020 a fevereiro/2021. As projeções da nossa Consultoria indicam que a área da 1ª safra 2020/2021 é de 4,1 milhões de hectares, 2,2% menor que a da temporada anterior. A produção está estimada em 23,850 milhões de toneladas, 7,2% abaixo da de 2019/2020.
Essas quedas refletem sobretudo o atraso e as irregularidades das chuvas, que prejudicaram o semeio e tem dificultado o desenvolvimento das lavouras nas Região Sul e Sudeste do País. A maior diminuição na produtividade frente à safra 2019/2020, é esperada no Rio Grande do Sul, seguido pelo Paraná. A estimativa é de que as produções das 2ª e 3ª safras atinjam respectivos 80,66 e 1,83 milhões de toneladas. No total, a produção deve atingir 106,3 milhões de toneladas, crescimento de 3,7% frente ao ano anterior. Apesar da produção recorde, com o consumo interno elevado, estimado em 71,8 milhões de toneladas, e a previsão de exportação de 35 milhões de toneladas, os estoques de passagem (janeiro/2022) são estimados em 7,4 milhões de toneladas, que, se concretizado, será o menor desde a safra 2015/2016. A liquidez está baixa, com agentes negociando apenas pequenas quantidades. No geral, os compradores postergam as aquisições para o próximo ano, enquanto os vendedores seguem atentos ao desenvolvimento das lavouras.
Nos últimos sete dias, os preços registram recuo de 4,7% no mercado de balcão (preços pagos ao produtor) e de 3,8% no mercado de lotes (negociação entre empresas). No mesmo comparativo, o Indicador ESALQ/BM&F (região de Campinas – SP) caiu 2,7%, fechando a R$ 73,46 por saca de 60 Kg. Na B3, após recuarem com intensidade nas últimas semanas, os preços estão mais firmes, influenciados por preocupações quanto à demanda e à oferta no início de 2021. O primeiro vencimento (Janeiro/2021) registra alta de 0,2%, passando para R$ 73,05 por saca de 60 Kg. O contrato Maio/2021 apresenta avanço de 0,4%, a R$ 73,86 por saca de 60 Kg. Nos portos brasileiros, dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) apontam que os embarques de milho nos primeiros dias de dezembro (4 dias úteis) totalizaram 1,44 milhão de toneladas, o que representa 27% do volume exportado em todo o mês de dezembro de 2019. Caso esse ritmo, de 286 mil toneladas por dia, se mantenha, o volume total poderá ser de 5,72 milhões de toneladas, 37% acima do mesmo período de 2019.
Apesar desse escoamento, as cotações do grão posto nos portos brasileiros seguem enfraquecidas. Com a baixa liquidez no porto desde meados de novembro, em parte devido à queda do dólar, o produtor dá prioridade à negociação no interior, que evita custos de transporte até o porto. No acumulado de dezembro, os valores no Porto de Paranaguá (PR) registram recuo de 5,3% e, no Porto de Santos (SP), a queda é de 0,2%. Na Bolsa de Chicago, as cotações recuaram, pressionadas pela melhora no clima em regiões produtoras da América do Sul e pela manutenção dos dados de estoque e demanda divulgados pelo Departamento de Agricultura do Estados Unidos (USDA). Nos últimos sete dias, o contrato Dezembro/2020 apresenta queda de 0,5%, a US$ 4,20 por bushel. O vencimento Março/2021 registra desvalorização de 1,2%, a US$ 4,21 por bushel. Dados do USDA sinalizaram oferta 2% maior em 2020/2021 frente à anterior, a 1,14 bilhão de toneladas.
Essa estimativa é menor que a de novembro, devido a reajustes nos dados da Argentina, que deve produzir 49 milhões de toneladas, 2% a menos que na estimativa anterior. Vale destacar que a Bolsa de Cereais de Buenos Aires segue relatando que a falta de chuvas tem reduzido o potencial produtivo das lavouras. Para o consumo mundial, a estimativa é de crescimento de 2%, que chegaria a 1,15 bilhão de toneladas, puxado pela maior demanda da China e dos Estados Unidos. Os estoques finais em termos mundiais, no entanto, devem continuar pressionados, levando a uma relação estoque/consumo de 25,1%, a menor desde 2014/2015. Quanto às transações mundiais, espera-se aumento de 8% nas importações, puxadas por maiores compras de 19 dos 25 maiores importadores mundiais, com a China liderando. Para atendimento desses mercados, é esperado que, entre os 11 maiores exportadores, sete consigam ampliar suas vendas, com destaque para o Brasil e os Estados Unidos. Fontes: Cepea e Cogo Inteligência em Agronegócio.