08/Abr/2020
Parte das indústrias processadoras de carnes de frango e suínos do Brasil precisará buscar mais milho no exterior a partir do mês que vem, dado o alto patamar de preços internos da principal matéria-prima do setor, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). A importação poderá ter origem na Argentina e Paraguai, tradicionais fornecedores quando a oferta aperta no Brasil, ou mesmo nos Estados Unidos. O preço do milho no mercado físico superou R$ 60,00 por saca de 60 Kg, maior valor nominal da história, após o país começar o ano com baixos estoques depois de exportações recordes em 2019. O setor consumidor indica necessidade de importação já em maio. A primeira safra (2019/2020) foi muito ruim por causa da seca, a oferta está baixa e os preços muito elevados, segundo a ABPA. No momento, o país colhe a 1ª safra de milho, mas uma frustração pelo clima no Rio Grande do Sul ajudou a sustentar os preços no Brasil, que terá de aguardar a produção da 2ª safra chegar ao mercado, somente em meados de junho.
A produção de inverno (2ª safra) é a maior do país, respondendo por 75% da colheita total, estimada em 100 milhões de toneladas. O milho importado da Argentina e Paraguai chega a ter preços competitivos para algumas indústrias do Sul do Brasil, em relação ao produto vindo do Centro-Oeste devido ao custo de transporte, mesmo com o câmbio oscilando a níveis recordes. A divisa norte-americana acompanha um movimento de alta global, diante de evidências crescentes de que o mundo já está em uma recessão de grande magnitude. O dólar está na casa dos R$ 5,30 e tem oscilado perto de máximas históricas em sessões anteriores. Como as moedas da Argentina e Paraguai estão ainda mais enfraquecidas que o Real em relação ao dólar, o valor do milho se manteve atrativo para o comprador brasileiro, que já importou o grão em anos anteriores. Com este câmbio é difícil importar milho dos Estados Unidos.
As indústrias do Nordeste sempre precisam trazer alguns volumes de lá, mas nesse ano ainda não fizeram, mas esta possibilidade não está descartada para breve, principalmente se a 2ª safra não vier cheia. O preço futuro do milho na Bolsa de Chicago caiu para abaixo da linha de US$ 3,30 por bushel, o que representa R$ 40,60 por saca de 60 Kg, valor abaixo dos R$ 48,79 por saca de 60 Kg que o cereal está sendo precificado na B3 atualmente, para entrega em maio. Isso já justificaria o fato de que a importação deveria ser posta em pauta pelos consumidores internos. A 2ª safra de milho do Brasil, que está no campo, só chega ao mercado em meados de junho. Ainda que a produção seja boa, deixa um hiato de oferta e demanda entre abril e maio, em algumas regiões do país com baixa oferta na 1ª safra. O Brasil deve colher 73 milhões de toneladas de milho na 2ª safra de 2020. Uma frente fria provocará chuvas em regiões produtoras de 2ª safra no Brasil, neste mês, que devem beneficiar as lavouras.
A importação de milho norte-americano pode ser factível, pois há problema de demanda nos Estados Unidos, com a quarentena e crise do petróleo e o processamento de milho tende a ter uma forte redução, abrindo mais espaço para a importação do milho norte-americano. Somente no primeiro bimestre de 2020, as importações de milho do Brasil saltaram 235% em relação ao mesmo período do ano passado, para 283,7 mil toneladas, com o Paraguai respondendo quase pela totalidade do cereal importado. A JBS, detentora da Seara que atua nas áreas de aves e suínos, foi uma das companhias do setor de carnes que contribuiu para a aquisição deste montante. A companhia negociou 100 mil toneladas de milho argentino com escala de recebimento em três cargas mensais, sendo a terceira prevista para maio de 2020. Os altos custos do milho brasileiro verificados nos últimos meses têm exigido a adoção de medidas alternativas de aquisição do cereal no mercado externo.
A decisão da JBS está baseada na melhor competitividade apresentada na importação do cereal argentino em relação ao custo atual do grão no Brasil. Além das 100 mil toneladas de milho que chegarão para a JBS até maio, outras 100 mil toneladas foram importadas pela companhia anteriormente e estavam previstas para chegarem ao país até março. A BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, ainda tem mantido as negociações de compra de forma regular e não houve quebra no fornecimento de insumos no Brasil. Apesar de não ter optado pela importação neste ano, a BRF não descarta totalmente esta possibilidade, monitora constantemente as condições de preço do mercado e pode optar pelo que for mais competitivo para a empresa. Fonte: Reuters. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.