23/Jan/2020
A alta dos preços do milho no Brasil, causada pela quebra na produção da safra de verão (1ª safra 2019/2020) e pelo aumento na demanda interna e externa, fez saltar os custos da indústria de carnes. Para algumas empresas, em especial as grandes, a alternativa tem sido a importação do grão da Argentina, que segue com preços competitivos mesmo após a elevação das taxas sobre as exportações agrícolas. No caso dos cereais, o milho entre eles, a alíquota passou de 6,7% para 12%. A JBS confirmou ter adquirido o primeiro lote de grãos na Argentina. Dois navios cujas cargas somam 70 mil toneladas devem aportar no Brasil entre março e abril. O montante faz parte do total de 200 mil toneladas que está em negociação. Os constantes aumentos nos custos do milho brasileiro têm feito as empresas buscarem alternativas de importação. A JBS está em negociação para importar cerca de 200 mil toneladas de milho que devem chegar nos primeiros meses de 2020.
A decisão da companhia está baseada na melhor competitividade em relação ao custo atual do grão no Brasil. Na mesma linha, a BRF, concorrente na produção de aves e suínos, não descarta a compra do cereal fora do País. Faz parte da estratégia de abastecimento da BRF analisar todos os canais possíveis de originação de milho, dentre eles a importação. Para definir se as negociações serão internas ou externas a processadora de carnes considera fatores como a situação do mercado doméstico, o câmbio e demais despesas envolvidas. Especificamente sobre a compra no país vizinho, a BRF afirmou que a importação de milho da Argentina pode se tornar uma alternativa viável futuramente mesmo com o aumento das taxas, levando em conta os preços do Brasil e observando a apreciação do Real frente ao dólar, caso esse cenário permaneça por mais tempo. O custo de produção do frango de corte vivo no Paraná ficou estável em dezembro, na variação mensal, em R$ 2,99 por Kg, conforme o levantamento mais recente da Central de Inteligência de Aves e Suínos da Embrapa (Cias).
Trata-se do valor mais alto desde junho de 2016. Segundo a análise, a alimentação representa 68,82% das despesas do frango. No caso do suíno vivo produzido em Santa Catarina, o custo passou dos R$ 4,04 por Kg em novembro para R$ 4,17 por Kg em dezembro, maior patamar desde junho de 2018, e a nutrição responde por 77,41% do valor. Em algumas regiões do Brasil, o milho vem sendo negociado acima dos R$ 50,00 por saca de 60 Kg. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), na região de Campinas (SP) o indicador de preços do cereal acumula alta de 7% na parcial de janeiro, com média de R$ 50,58 por saca de 60 Kg, a maior desde maio de 2016 em termos nominais. Atualmente, o grão está cotado em torno de R$ 51,66 por saca de 60 Kg, perto do recorde nominal, de R$ 53,91 por saca de 60 Kg, verificado no início de junho de 2016.
Até o momento, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indica que a safra de verão (1ª safra 2019/2020) deve ser 3,8% superior à temporada anterior, totalizando 26,61 milhões de toneladas, como resultado dos aumentos de 1,1% na área plantada e de 2,7% na produtividade. No entanto, desde o início de dezembro, o baixo volume de chuvas vem atrasando o desenvolvimento das lavouras na Região Sul do País, o que pode reduzir a produtividade e levar a estatal a realizar ajustes negativos nas estimativas. A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc) avalia que faltará milho para abastecer a região, que concentra importantes indústrias do setor, em decorrência da seca em outros Estados, queimadas e atraso no plantio, além do aumento das exportações, impulsionadas pelo dólar valorizado. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) indicam que, em 2019, os embarques do cereal alcançaram o recorde de 45,463 milhões de toneladas, 97,5% acima das 23,015 milhões de toneladas registradas em 2018.
O volume superou as projeções do mercado, que indicavam vendas externas de 41 milhões de toneladas. Quanto à demanda interna, além da indústria de carnes, outro setor que está consumindo milho e ajuda a enxugar a oferta é o de etanol. Levantamento da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) mostra que, no acumulado da safra 2019/2020 do Centro-Sul até a segunda quinzena de dezembro, a produção do biocombustível a partir do milho somou 1,05 bilhão de litros, com aumento de 104,03% sobre o volume apurado para o mesmo período de 2018. Do total fabricado somente na segunda quinzena de dezembro, 90,36 milhões de litros (66%) foram produzidos com milho. Das 10 usinas do Centro-Sul que ainda operam na safra atual, que se aproxima do fim, 5 unidades estão trabalhando exclusivamente para processar o grão. Neste contexto, a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) avalia que a saída será ampliar as importações de milho da Argentina e do Paraguai.
No Paraná, apesar da safra de verão ser menor que a 2ª safra, ainda não há relatos de falta de cereal para atender a demanda, mas os preços estão significativamente mais altos. Levantamento da Secretaria de Agricultura do Paraná mostra que o milho está cotado, em média, a R$ 40,96 por saca de 60 Kg na região, um salto de 39,41% em relação aos R$ 29,40 por saca de 60 Kg registrados um ano antes. Na região sudoeste do Paraná, onde está grande parte da avicultura e suinocultura do Estado, há relatos de dificuldade para encontrar o insumo a preços compatíveis com a capacidade de pagamento e isso deve se estender até a colheita da 2ª safra de 2020, entre maio e junho. Até mesmo a 2ª safra de 2020 do Paraná, semeada após a colheita da soja, que deveria trazer alívio para a indústria, ainda é uma incógnita. Houve atraso na implantação da safra de verão (1ª safra 2019/2020) e o plantio do cereal que deveria ser feito a partir de janeiro perderá a janela ideal. O risco de geada para o milho 2ª safra é maior. Pode ser que haja problema com a oferta da 2ª safra de 2020 no Estado. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.