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17/Jul/2019

Subproduto de usinas de etanol alimenta bovinos

Em tempos de margens curtas, alguns pecuaristas estão enxugando o custo da nutrição de bovinos. A receita é substituir em 100% a fonte proteica (torta de algodão) na ração do gado e em 30% sua principal fonte de energia (milho) por um único produto: O WDG (wet distillers grains - grãos úmidos de destilaria). O material é um coproduto do processamento do milho para a produção de etanol, modelo industrial que vem se proliferando na Região Centro-Oeste, sobretudo em Mato Grosso. A oferta de WDG e de sua versão seca, o DDG (dried distillers grains - grãos secos de destilaria), acompanha a expansão da indústria de etanol de milho. A primeira usina (Usimat) surgiu em 2012, como um modelo flex (processava tanto milho quanto cana-de-açúcar). Hoje, sete anos depois, segundo a União Nacional do Etanol de Milho (Unem), já são 10 indústrias: cinco em Mato Grosso, três em Goiás, uma em São Paulo e outra no Paraná.

A Unem calcula que a produção atual no País, de pouco mais de 1,4 bilhão de litros de etanol de milho, cresça 80% até o fim de 2020, atingindo 2,6 bilhões de litros. Mato Grosso é o principal produtor de etanol de milho do Brasil. A Unem projeta um salto de 100% na produção do Estado: de 1,1 bilhão para 2,2 bilhões de litros. Como a produção de WDG e de DDG é resultando do esmagamento do milho para a produção do biocombustível, sua oferta provavelmente deve crescer em proporção idêntica. A previsão é de que a produção nacional de desses resíduos sólidos de milho feche 2019 em 1 milhão de toneladas (810 mil toneladas em Mato Grosso) e alcance até 1,9 milhão de toneladas em 2020 (1,4 milhão de toneladas em Mato Grosso) com a entrada em produção de pelo menos mais três destilarias. Existem pelo menos mais 15 novas indústrias em construção ou em processo de licenciamento no Brasil. Diante dessa projeção, os pecuaristas não se limitam apenas ao uso do WDG para a terminação em semiconfinamento na primeira metade do ano.

Como há uma oferta crescente, o material também está sendo utilizado na formulação das três dietas de confinamento em diferentes percentuais de matéria seca: adaptação (55%), crescimento (51,3%) e terminação (46,5%). Mesmo com o preço do milho em uma média histórica alta para Mato Grosso para a época de safra (R$ 23,50 por saca de 60 Kg em Sinop), o que naturalmente afeta os preços do WDG e do DDG, os pecuaristas esperam reduzir em 15% o custo previsto de produção de arroba em confinamento. A possibilidade da produção de uma arroba mais em conta fortalece a tendência da intensificação da pecuária na região. Muitas propriedades na Região Centro-Oeste estão adotando o coproduto do etanol de milho na dieta de animais. De início tímida, essa utilização ganhou corpo depois que as primeiras pesquisas científicas envolvendo WDG e DDG foram feitas e divulgadas no Brasil.

Em 2018, por exemplo, um estudo conduzido pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) comprovou eficiência e economia nas formulações que incluíram WDG como substituto proteico/energético parcial do milho e do farelo de soja no cocho. Nesta avaliação, o custo nutricional da arroba produzida, caiu até 16,4% (de R$ 88,83 por arroba para R$ 74,29 por arroba). A Unem considera que o DDG/WDG atenderá, neste momento, fundamentalmente à demanda da bovinocultura de corte. Aves e suínos estão sendo atendidos por quem fabrica o DDG de alta proteína. O material padrão, com 32% de proteína, é prioritariamente destinado a bovinos. A estimativa é de que 80% do WDG/DDG produzido tenha esta destinação. O restante atende à avicultura e à suinocultura. Os preços compensam bastante em um cenário atual: Este coproduto apresenta valor médio entre 20% e 25% menor do que outros componentes da dieta, mas isso flutua em função do preço do milho e da soja no mercado internacional.

O DDG de alta proteína (43,3% de proteína bruta) é hoje fabricado apenas pela FS Bioenergia (formada pela brasileira Tapajós Participações S.A. e a norte-americana Summit Agricultural Group) em sua fábrica em Lucas do Rio Verde (MT). Sua obtenção é possível graças à utilização de um modelo tecnológico de separação de fibra já adotado nos Estados Unidos. Essa oferta, entretanto, deve aumentar. A empresa trabalha com o projeto de mais cinco indústrias com o mesmo perfil "full" (processamento 100% de milho) em Mato Grosso: nos municípios de Sorriso, Nova Mutum, Campo Novo do Parecis, Primavera do Leste e Querência. Empresas de nutrição animal e a própria Unem estimam que a indústria de etanol de milho, e consequentemente de produção de WDG/DDG, vai abocanhar fatia cada vez maior da produção do cereal em Mato Grosso (o maior produtor brasileiro, com 31 milhões de toneladas segundo projeção Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária para a safra 2018/2019). Em 2019 já estaria em 8%. Para 2023 a projeção é chegar a 25%. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.