24/Apr/2025
A AgroGalaxy, uma das maiores revendedoras de insumos agrícolas do País, teve prejuízo líquido ajustado de R$ 292,4 milhões no quarto trimestre de 2024. Em igual período do ano anterior, a empresa obteve lucro líquido ajustado de R$ 107,9 milhões. O Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado ficou negativo em R$ 206,3 milhões. No quarto trimestre de 2023, a AgroGalaxy teve Ebitda ajustado de R$ 281,7 milhões. A receita líquida caiu 69,3% na mesma comparação, para R$ 741 milhões. Em todo o ano de 2024, a receita somou R$ 4,612 bilhões, recuo de 50,9% em relação aos R$ 9,4 bilhões do ano anterior. O prejuízo líquido ajustado foi de R$ 2,48 bilhões em 2024, com o Ebitda ajustado negativo em R$ 1,62 bilhão. Em 2023, a empresa teve prejuízo líquido ajustado de R$ 334,5 milhões e Ebitda ajustado de R$ 342,2 milhões.
Apesar do resultado financeiro desfavorável, a empresa conseguiu fortalecer sua posição de caixa em 146%, passando de R$ 195 milhões ao fim do terceiro trimestre para R$ 480 milhões em dezembro. Esse ganho de liquidez foi obtido principalmente pela transformação de vendas a prazo em operações à vista e pelo estímulo para que agricultores antecipassem o pagamento de dívidas previstas para o primeiro trimestre de 2025. A companhia também reduziu substancialmente suas despesas operacionais. Os gastos com vendas, administração e gerenciamento caíram 38% no quarto trimestre de 2024 ante igual período de 2023, passando de R$ 200 milhões para R$ 124 milhões. No ano, a redução foi de 17,3%, refletindo as medidas drásticas de corte de custos que incluíram o fechamento de metade das lojas e a demissão de 40% dos funcionários.
O plano de recuperação judicial da AgroGalaxy foi aprovado por ampla maioria (82,4% dos credores) em assembleia realizada no dia 10 de abril, com homologação judicial esperada para os próximos 30 dias. A empresa informou que, após esse processo, pretende focar na melhoria da qualidade da carteira de clientes, na eficiência de cobrança e na diversificação de áreas de atuação para regiões menos expostas a riscos climáticos. No primeiro trimestre de 2025, a empresa também aprovou o grupamento de ações para adequação às regras da B3, que exigem preço mínimo de R$ 1,00 por papel. A medida visa criar um mercado secundário mais estável para as ações da companhia. A AgroGalaxy abriu mão de rentabilidade para fortalecer sua posição financeira no último trimestre de 2024. Segundo o diretor financeiro da companhia, Luiz Conrado Sundfeld, a interrupção de contratos com fornecedores mudou completamente o perfil de negócios da empresa no período.
"O último trimestre é quando a companhia faz o grande faturamento de fertilizantes, que é o maior valor do ponto de vista de faturamento, não de margem. Após o protocolo do plano de recuperação judicial, nossa relação comercial com os fornecedores, principalmente fertilizantes, foi rompida", detalhou. O resultado foi uma queda de quase 70% na receita do trimestre. Para contornar o problema e garantir recursos para a continuidade das operações, a empresa adotou uma estratégia focada em transformar seus ativos em dinheiro rápido. "Convertemos uma parcela grande da carteira de venda a prazo para venda à vista. Quando você traz a venda a prazo para a venda à vista, imediatamente você dá o desconto financeiro desse prazo e, para convencer o produtor, talvez um desconto maior", explicou. Sundfeld estimou o impacto dessa política. "O efeito dessa redução é da ordem de 4% na margem", quantificou.
Apesar do sacrifício na rentabilidade, a estratégia atingiu seu objetivo principal: "Monetizamos tanto insumos quanto grãos. Trouxemos um caixa que virou o terceiro trimestre em R$ 195 milhões para R$ 480 milhões", ressaltou. O diretor financeiro também destacou as limitações de acesso a crédito durante o processo de recuperação e as perspectivas após a homologação do plano. "Um investidor que desconta recebíveis de uma empresa entre o pedido de recuperação e a homologação precisa ser ultraqualificado. Fundos com investidores pulverizados não podem participar dessa operação", explicou, referindo-se aos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), instrumentos que permitem às empresas adiantarem recursos com base em contas a receber. Além das estratégias comerciais, a empresa fez ajustes contábeis que afetaram o resultado. Foram criadas provisões para possíveis perdas com produtos estocados que correm risco de vencimento e realizada baixa contábil de R$ 92 milhões em projetos de tecnologia.
"A companhia tomou a decisão de não prosseguir com o projeto original de expansão do sistema de gestão. A forma sistêmica da companhia está em discussão", justificou. A varejista de insumos agrícolas também continua negociando a venda de sua carteira de recebíveis não judicializados, avaliada em aproximadamente R$ 700 milhões, para a qual já existe uma proposta firme. Outra frente foi a conversão de R$ 120 milhões em créditos judicializados por produtos a preços reduzidos, o que permitiu recompor estoques sem comprometer o caixa. O diretor ressaltou que a redução de despesas do trimestre (queda de 38% nos gastos operacionais) ainda não representa o patamar final da empresa. "Esse número de R$ 124 milhões de despesas no final do quarto trimestre ainda não é o jogo final. Continuamos capturando benefícios ao longo do primeiro trimestre de 2025", concluiu.
Após ter seu plano de recuperação judicial aprovado por credores, a AgroGalaxy busca voltar às suas origens como fornecedora de soluções agrícolas de maior valor agregado. O CEO Eron Martins apresentou a estratégia que incluirá menor dependência de fertilizantes convencionais e maior autonomia para as unidades locais. "Eficiência também é vender com o melhor mix, tirando o pé do fertilizante. Não vou dizer que a gente vai fazer zero de fertilizante, isso não existe, mas diminuir a proporção no nosso mix, privilegiando especialidades, biológicos, sementes e defensivos", disse. Na prática, a empresa reduzirá a participação de produtos de menor margem, como os adubos básicos, para focar em itens que trazem maior retorno financeiro e oferecem soluções técnicas mais sofisticadas aos agricultores. O executivo ressaltou que o último trimestre de 2024 refletiu um momento específico após o pedido de proteção judicial.
"É o primeiro trimestre completo após o pedido de recuperação judicial. Ele tem características específicas do contexto da empresa naquele momento, que não são comparáveis aos anos anteriores", afirmou. Nesse período, segundo a direção da companhia, a prioridade foi adaptar o tamanho da empresa e gerar liquidez imediata, mesmo que isso comprometesse temporariamente os resultados financeiros. Um dos principais pilares da reestruturação é a mudança na forma de gestão, com decisões mais próximas do campo. "A gente fez uma adaptação importante nesse mês de abril, que permite que o poder de decisão esteja cada vez mais focado na filial. Nosso lema interno é menos central, mais filial", revelou. Segundo o CEO, esse modelo atende melhor às realidades específicas de cada região agrícola.
"Quando a gente fala de Brasil, eu tenho filial em Paragominas, no Pará, filial em Ponta Grossa, no Paraná, filial em Assis, em São Paulo. Cada mercado tem contextos e dinâmicas diferentes, de momento de puxar produto, de colheita, de chuva. Quando você leva o poder de decisão para a ponta, a filial consegue tomar a decisão mais rápida para o produtor", explicou. Martins destacou sinais positivos já percebidos após a aprovação do plano de recuperação. "Aqueles que votaram a favor têm interesse em ser fornecedor parceiro e participar dessa retomada. Percebemos um movimento bastante positivo, não só de fornecedores que vieram bater na porta e trouxeram o time para dentro da loja, mas também de produtores", relatou. O timing da aprovação é considerado favorável pela empresa, coincidindo com o período em que agricultores tomam decisões para a próxima safra. Segundo o executivo, o produtor ainda está demorando a definir suas compras devido às incertezas relacionadas aos preços das commodities e às oscilações do dólar, abrindo oportunidade para a AgroGalaxy participar desse mercado com seu plano de recuperação já encaminhado.
A gestão da AgroGalaxy concentrou esforços em reforçar a liquidez da companhia no quarto trimestre de 2024, segundo o diretor Financeiro Luiz Conrado Sundfeld. Com o rompimento das relações comerciais com fornecedores após o pedido de recuperação judicial, protocolado em setembro passado, a empresa teve que cancelar pedidos de venda e redirecionar a operação para gerar caixa com os recursos que ainda estavam disponíveis. Uma das principais estratégias adotadas foi a conversão de vendas a prazo em operações à vista. A companhia ofereceu descontos para antecipar pagamentos e transformar estoques parados em dinheiro em caixa. "Foi uma gestão muito focada em monetizar posições de balanço e gerar liquidez", disse Sundfeld, na teleconferência com investidores, realizada hoje de manhã. O caixa da companhia passou de R$ 195 milhões no fim do terceiro trimestre para R$ 480 milhões no encerramento de dezembro.
A interrupção no fornecimento de insumos, especialmente fertilizantes, e o cancelamento de pedidos causaram impacto direto no faturamento da companhia. A receita líquida caiu para R$ 741 milhões, redução de 69,3% em relação ao mesmo período de 2023. Conrado afirmou que a queda de aproximadamente R$ 1,4 bilhão nas vendas de insumos no trimestre foi consequência direta da impossibilidade de honrar pedidos com clientes após a ruptura com os fornecedores. A margem bruta também foi pressionada. A venda antecipada de produtos exigiu concessões comerciais, com impacto estimado em 4% sobre os preços médios. Além disso, a empresa realizou provisões relacionadas ao valor dos estoques. Parte do ajuste foi feita para cobrir o risco de perda de validade de produtos com vencimento previsto até setembro de 2025. Segundo Sundfeld, a empresa considerou que a relação com fornecedores poderia não ser restabelecida a tempo para que esses produtos fossem trocados ou recondicionados.
O resultado operacional da companhia também teve impacto de uma decisão de encerrar o projeto de adoção de um sistema de gestão empresarial, iniciado após o IPO, em 2021. A empresa optou por descontinuar o desenvolvimento da plataforma e registrou uma baixa contábil de R$ 92 milhões referente aos valores investidos no projeto. "Tomamos a decisão de não seguir com o rollout do sistema anterior e fizemos o write-down do ativo", afirmou. No balanço, esse ajuste aparece entre as despesas operacionais, dentro da linha SG&A (vendas, gerais e administrativas). A companhia informou que as despesas operacionais caíram 38% no quarto trimestre, para R$ 124 milhões. A redução reflete as medidas de corte de estrutura tomadas após o pedido de recuperação judicial, incluindo fechamento de lojas e enxugamento de áreas internas. Sundfeld disse que parte desses efeitos ainda será percebida no primeiro trimestre de 2025, à medida que as ações adotadas em outubro e novembro forem consolidadas. Fonte: Broadcast Agro.