13/Mar/2025
O governo dos Estados Unidos adotou, a partir desta quarta-feira (12/03), uma sobretaxa de 25% sobre todas as exportações de aço e alumínio para os Estados Unidos, “sem exceções ou isenções”. A medida terá forte impacto nas siderúrgicas instaladas no Brasil. Cerca de 90% das vendas brasileiras são de material semiacabado (placas). Siderúrgicas nos Estados Unidos importam esse tipo de aço e o beneficiam para ser usado depois na fabricação de vários tipos de produtos, como automóveis, bens eletrodomésticos e máquinas e equipamentos. Por estratégia negocial, as tratativas com o governo americano ficaram a cargo do vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, e do ministro de Relações Exteriores (MRE), Mauro Vieira. O setor de aço defende a renovação do atual sistema de cotas de exportação. O argumento do governo brasileiro é de que o aço semiacabado é matéria-prima de muitas siderúrgicas norte-americanas que só fazem produtos laminados.
Assim, deveria ser avaliado como estratégico para o país contar com esse tipo de material do Brasil. Mas, há uma forte pressão por parte das três principais siderúrgicas do país: US Steel, Cleveland-Cliffs e Nucor. Contrárias a manter cotas ou isenções para aço importado, elas enviaram carta ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reforçando sua posição na semana passada. De acordo com especialistas, três siderúrgicas brasileiras devem ser mais afetadas pelas tarifas impostas pelo governo Trump para as exportações de aço e alumínio para os Estados Unidos. São elas: CSN, que embarca produtos laminados de alto valor agregado, e ArcelorMittal e Ternium, fabricantes de placas que exportam a maior parte de sua produção para o mercado americano. A Usiminas faz vendas esporádicas para os Estados Unidos. No alumínio, a CBA, controlada pelo grupo Votorantim, é quem mais sofre, pois exporta produtos laminados (folhas), mas o volume não passa de 5% das vendas da empresa.
De acordo com dados da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), os embarques para os Estados Unidos representaram 17% (US$ 267 milhões) do total exportado pelo setor no ano passado, de US$ 1,5 bilhão. À primeira vista, o grupo Gerdau deve se beneficiar com a proteção que Trump busca dar aos produtores locais. Além de não vender nada para os Estados Unidos, a companhia tem fabricação de aço (produtos longos comuns e especiais) no país, de onde extrai 40% de sua receita anual. Nos cálculos de analistas, a Gerdau pode obter ganhos expressivos com os aumentos de preços do aço que já acontecem desde fevereiro no mercado norte-americano. Alguns tipos de produtos siderúrgicos planos já tiveram aumentos de mais de 15% nos preços. O aço plano já subiu cerca de US$ 100,00 por tonelada (R$ 583,00 por tonelada) desde o anúncio da tarifa de 25% para todos os aços importados. A alta tem reflexos nos vários elos da cadeia produtiva.
Na semana passada, após algumas tentativas, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, teve uma conversa de quase uma hora com o secretário de Comércio de Trump, Howard Lutnick, e o representante comercial dos Estados Unidos (USTR), Jamieson Greer. Lutnick e Greer ficaram de levar a Donald Trump pedido para adiar a data para a entrada em vigor das tarifas sobre os dois produtos brasileiros, o que acabou não acontecendo. Alckmin defende o sistema de cotas livres de taxas. Os norte-americanos pedem, em troca, abertura de diálogo, por exemplo, sobre o Imposto de Importação que o Brasil aplica ao etanol comprado dos Estados Unidos, considerado muito alto (18%). Maior fabricante de aço no País, a ArcelorMittal tem duas siderúrgicas de placas, com produção livre anual para exportação na casa de 6 milhões de toneladas. Desse volume, quase 5 milhões vão abastecer a usina de laminação de bobinas de Calvert, no Alabama (EUA), em embarques diretos ao país via México. A laminadora é uma joint venture da empresa com a Nippon Steel.
A diferença vai para outros clientes e para usinas do grupo na Europa. Uma das siderúrgicas de placas da ArcelorMittal fica em Serra, no Espírito Santo, e a outra no Ceará, no complexo industrial e portuário de Pecém. São duas operações estratégicas do grupo, para atender a operações próprias no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa. Por sua vez, a Ternium, controlada pelo grupo ítalo-argentino Techint, tem uma siderúrgica no Rio de Janeiro, a Ternium Brasil, com capacidade para produzir 5 milhões de toneladas de placas por ano e que atualmente supre laminadoras do grupo no México, para plantas mexicanas de laminação da empresa, e um volume pequeno para unidades próprias na Argentina. Das quase 687 mil toneladas de cotas de produtos acabados, cerca de um terço refere-se a material vendido pela CSN, aços zincados e galvanizados, que somam cerca de 230 mil toneladas. Para folhas metálicas, a cota é de 14 mil toneladas.
Pessoas ligadas à empresa comentaram que, mantida a tarifa de 25% sobre esses produtos, a empresa ficará totalmente fora do mercado norte-americano. Na cadeia siderúrgica, a balança comercial entre Brasil e Estados Unidos pesa a favor dos norte-americanos, de acordo com o Aço Brasil. O comércio é favorável aos Estados Unidos em mais de US$ 3 bilhões. O grosso da exportação do Brasil é de aço semiacabado, de menor valor agregado, enquanto as importações somam mais de US$ 7 bilhões, incluindo US$ 1,4 bilhão de carvão metalúrgico (insumo na fabricação de aço), equipamentos e outros bens de alto valor agregado. O Brasil é um dos maiores exportadores de aço do mundo, com 9,6 milhões de toneladas despachadas em 2024, o que gerou divisas de US$ 7,66 bilhões, conforme dados oficiais do MDIC, informados nos boletins do Aço Brasil.
Segundo a Amcham Brasil, a taxação dos Estados Unidos de 25% sobre importações de aço e alumínio, provenientes de todas as origens, impacta diretamente as exportações brasileiras desses setores e tem o potencial de afetar o comércio bilateral em outros segmentos da cadeia do aço e do alumínio. Em 2024, o Brasil exportou US$ 5,7 bilhões em aço e ferro para os Estados Unidos e US$ 267 milhões em alumínio. As importações brasileiras de carvão siderúrgico norte-americano, que podem ser afetadas pela nova medida, totalizaram US$ 1,4 bilhão em 2024. A Amcham Brasil espera que os governos do Brasil e dos Estados Unidos intensifiquem os esforços para alcançar uma solução que preserve o comércio bilateral e os seus benefícios para ambas as economias. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.