05/Feb/2025
A indústria mineral vive muitos desafios, no Brasil e no mundo, principalmente em tornar a atividade mais conhecida e compreendida. Isso requer um trabalho comunicação cada vez maior por parte das empresas e das entidades que representam o setor. “A mineração é extremamente fundamental para a sociedade moderna, e para o futuro. É nosso papel explicar, esclarecer”, diz Ana Sanches, presidente da Anglo American no Brasil. Há pouco mais de um ano à frente da subsidiária brasileira da multinacional sediada em Londres, ela ressalta que o setor tem grande importância na transição energética.
“O mundo vai precisar dos minerais, especialmente os chamados críticos”, diz Ana, que desde fevereiro de 2024 ocupa também a presidência do conselho diretor do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que reúne mineradoras que atuam no País. Globalmente, a executiva conta que a companhia faz uma revisão de seus negócios e que uma “nova Anglo American”, mais enxuta, vai surgir após se desfazer de vários ativos (carvão mineral, níquel, metais do grupo da platina e diamantes) e ficar com minério de ferro, cobre e fertilizantes. O Brasil, assim, terá papel relevante. Segue a entrevista.
Como a sra. vê a atividade de mineração, hoje?
Ana Sanches: A mineração é extremamente fundamental para a sociedade moderna, e para o futuro. Com todos os desafios que temos pela frente e a importância para a transição energética, por exemplo. O mundo vai sobreviver sem os minerais, especialmente os minerais críticos, que são fundamentais para as sociedades no futuro? Temos de buscar, cada vez mais, inovações, novas tecnologias e formas mais sustentáveis de executar a atividade, para que as pessoas entendam sua essencialidade, o valor do setor e como a mineração é feita, com segurança, transparência e responsabilidade. Vejo que o setor tem trabalhado mais coletivamente para encontrar essas respostas e superar os desafios nos últimos anos. No Brasil, o Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração) tem um papel relevante nisso, nesse caminho.
O Ibram fez em 2024 uma campanha para mostrar a importância dos minerais no cotidiano das pessoas. O que mais será feito?
Ana Sanches: Acredito muito nessa iniciativa da comunicação, mas não pode parar por aí. Sem dúvidas, precisamos falar mais sobre a mineração para as pessoas, explicar mais, mostrar a diferença entre uma atividade legalizada e a de um garimpo ilegal. A mineração legalizada segue critérios, desde monitoramento ambiental, de compromissos com as comunidades e a sociedade, e todos os requerimentos legais para executar a operação de forma sustentável. Mas isso nem sempre é conhecido. O Ibram e as empresas têm esse papel. E temos de estar abertos para ouvir as pessoas.
A Anglo American tem no Brasil operações de mineração de ferro e níquel. Quais as frentes para reduzir emissões de CO2 e ter uma operação mais segura?
Ana Sanches: A companhia tem um plano de mineração sustentável com três pilares: meio ambiente, social e comunidades e governança e transparência. No primeiro, há uma série de ações que visam reduzir emissões de CO2 nos escopos 1, 2 e 3. A Anglo American fixou, globalmente, metas ambiciosas de neutralidade de carbono para escopo 1 (diretas, da operação) e o 2 (energia consumida) até 2040, e de 50% no escopo 3 (indiretas, na cadeia de valor, com fornecedores) para o mesmo ano. Aqui, 100% dos contratos de energia, nos dois negócios, são de fontes renováveis (eólica, solar e hidrelétrica) desde 2022. Temos compromisso de contribuir, na meta global, refinando os números ao longo dos anos.
Por ser uma multinacional listada na bolsa de Londres, a Anglo American sofre pressão de acionistas sobre o tema sustentabilidade e ESG?
Ana Sanches: Na companhia, sustentabilidade faz parte do nosso DNA, independentemente de pressões de mercado ou de esse ou outro tema estar em maior evidência. Sustentabilidade não sai da nossa pauta, das nossas prioridades. Para a Anglo, é um valor, é parte da estratégia do nosso business. Por isso, está presente nas decisões de curto, médio e longo prazo.
Operar conforme as exigências cada vez mais rígidas para ter reputação ambiental e social não é barato. Qual orçamento da Anglo no País?
Ana Sanches: A companhia tem um orçamento expressivo anual porque somos uma empresa de capital intensivo, com projetos para garantir a integridade dos nossos ativos, a longevidade e ter uma operação de forma segura. Faz parte do nosso negócio investir alto. Nos últimos cinco anos (2020-2024), foram R$ 9 bilhões, nas operações de minério de ferro e níquel no Brasil. Minha visão, com meu background de executiva financeira, é de um caminho sem volta. A empresa não tem como existir, e ter expectativa de continuidade, se não tiver a correta alocação de recursos nos temas prioritários, como sustentabilidade. E quando pensamos na sociedade, exige de nós cada vez mais pensar fora da caixa. O que não pode é não fazer esses investimentos, mesmo em momentos de downsize (redução) do ciclo dos nossos negócios. (Ivo Ribeiro)
Fonte: Broadcast Agro.