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23/Jan/2025

Entrevista: Marco Dorna - CEO da Tetra Pak Brasil

Quando o tema é sustentabilidade, a palavra-chave é emergência. É numa corrida contra o tempo que as empresas precisam inserir os temas dessa agenda dentro da cultura corporativa, e não somente como assunto de um determinado departamento. Na avaliação do CEO da Tetra Pak no Brasil, Marco Dorna, não é mais possível pensar em retrocesso. A multinacional, que mantém subsidiária no Brasil há 67 anos, é conhecida pela fabricação de embalagens cartonadas (tipo longa vida) à base de papel, plástico e alumínio para o setor de alimentos. Globalmente, a empresa tem investido o equivalente a mais de R$ 600 milhões anuais para a elaboração da “embalagem mais sustentável do mundo”, 100% feita de fonte renovável e/ou reciclada, zero carbono e com manutenção de segurança alimentar. O compromisso deve resistir a quaisquer discursos anti-ESG de escala global, incluindo possíveis influências da agenda política dos Estados Unidos, sob Donald Trump. Segue a entrevista:

A companhia tem investido para elaborar a ‘embalagem mais sustentável do mundo’. Como ela será?

Marco Dorna: A Tetra Pak é uma empresa conhecida pela embalagem, mas não faz só isso. Ela é líder mundial no processamento e envase de alimentos. Uma empresa que faz o que a gente faz para o segmento em que a gente atua não pode se dar ao luxo de tratar a sustentabilidade como um departamento. Ela é a essência da nossa estratégia. Todos os anos, investimos em torno de € 100 milhões (R$ 629 milhões) só para a concepção da embalagem mais sustentável do mundo. Ela é 100% feita de fonte renovável e/ou reciclada, zero carbono, sem nunca comprometer a segurança alimentar. Nessa corrida, partimos de uma posição muito privilegiada. A embalagem tem basicamente três materiais: 75% é papel, 25% é plástico e 5% é alumínio, todos feitos no Brasil, com 100% de fontes certificadas. O papel é de fonte renovável, e grande parte do plástico vem da cana-de-açúcar, então já partimos de um porcentual de ‘renovabilidade’ na casa dos 84% até 90%.

Já há alguns exemplos?

Marco Dorna: Uma trilha lançada no começo de 2024 em Portugal, ainda em fase de testes, troca o alumínio por uma fibra de papel. Mas também existe uma grande frente no Brasil na qual nós vamos apostar de maneira muito forte, que é uma tecnologia nova desenvolvida com a empresa CBA (Companhia Brasileira de Alumínio, do grupo Votorantim), que permite a separação entre o plástico e o alumínio durante a reciclagem, trazendo o alumínio de volta à embalagem. Essa tecnologia foi lançada no final do ano passado e estará comercialmente viável no fim deste trimestre.

Então é um movimento que não deve retroceder?

Marco Dorna: Eu não vejo como. Sou categórico em afirmar que a direção está dada e não tem nenhum tipo de retrocesso possível. Quando olhamos a busca pela embalagem mais sustentável, ela também traz a nossa posição como parceira desses clientes na descarbonização das suas cadeias. Estima-se que 30% da pegada de carbono mundial seja derivada do setor de alimentos. Nós fornecemos a embalagem, mas, para ela estar prontinha, há todo um aparato industrial: pasteurizador, tanque, centrífuga, e aí temos um papel crucial como fornecedores.

A Tetra Pak está em quase 200 países, incluindo os EUA, onde Donald Trump deu início a uma agenda anti-ESG. Não é um a ameaça a essa evolução?

Marco Dorna: Nós já passamos por muita coisa: governo militar, de esquerda, de direita, Trump, Clinton, Obama… Isso não muda a perspectiva de longo prazo da companhia. Temos 70 anos, e o Brasil foi a segunda subsidiária depois da Suécia. Nossos compromissos com os clientes são de tão longo prazo que nos colocamos à margem dessas preocupações. Talvez possa haver influências do ponto de vista de tarifas, que podem mudar a dinâmica do agro brasileiro. Mas, honestamente, não trabalhamos com um cenário de mudança, mas de continuidade. Sobre a agenda de sustentabilidade, vejo que de maneira nenhuma (haverá mudança dentro da companhia). A nossa visão sobre isso começou em 2010, quando lançamos as nossas metas de descarbonização. Esse compromisso é absolutamente inegociável. Não deve haver retrocesso. Sendo mais enfático, não vai ter retrocesso.

Fonte: Broadcast Agro.