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16/Jan/2025

Energia Elétrica: entrevista Wilson Ferreira Jr./Matrix

Wilson Ferreira Jr. acaba de aceitar um novo desafio: a presidência do conselho de administração da Matrix Energia. O ex-dirigente da Cesp, CPFL, Eletrobras, Vibra Energia, destrincha o mercado de energia livre que em poucos anos deve chegar aos 80 milhões de consumidores na pessoa física. Sim, os brasileiros poderão escolher de quem vão comprar energia elétrica. O mercado será gigante, explica o executivo para quem o Brasil, devido a características naturais que favorecem a geração de energia renovável, vai liderar o processo de transição energética no mundo. “O Brasil vai ser um hub de energia”, diz, se referindo ao potencial do País para atrair investimentos. Hoje, consumidores de alta tensão já podem escolher a distribuidora energia. E muitos têm interesse em ser atendidos exclusivamente por fontes de energia não poluentes. É um momento de maior competição. Segue a entrevista:

Há risco de a gente perder a oportunidade de liderar o processo de transição energética?

Wilson Ferreira Jr.: Acho difícil. Temos enormes vantagens comparativas e o mundo vai precisar muito delas. Nós somos o país que detém a maior floresta tropical do mundo. Reduzir emissões é uma coisa, mas o carbono que está na atmosfera tem de ser capturado. Uma boa parte, eu diria de 30% a 40% da captura do carbono, ocorre em florestas tropicais como a amazônica. Em áreas desmatadas, temos a capacidade de reflorestá-las para produzir, por exemplo, biocombustíveis. Temos um dos maiores índices de insolação do mundo, o vento que nós temos na costa brasileira, notadamente no Nordeste, é um dos melhores para energia eólica.

Quais as tendências em termos de geração de energia?

Wilson Ferreira Jr.: Primeira coisa nova é que a gente teve de 2000 para cá algo importante na nossa matriz energética elétrica, com a entrada das chamadas fontes intermitentes, a solar, a eólica, o crescimento da biomassa. E também a entrada mais massiva das usinas termoelétricas. Que apesar de serem mais poluentes, independem de fatores climáticos. Assim, as pessoas acabaram fazendo uma gestão mais eficiente das fontes de energia e nós tivemos uma sobra a partir de 2004. Nesse momento surgem os principais agentes para operar no mercado livre. No mercado regulado, as tarifas são estabelecidas pela Aneel. O mercado livre compra energia no mercado de geradoras. No Brasil, os preços são voláteis por razões estruturais. Pouco mais de 60% do volume de energia é produzido por hidrelétricas. Como não é possível controlar chuva, em anos muito chuvosos o preço cai; em anos pouco chuvosos, ele sobe. Essa volatilidade aumentou à medida que a gente acrescentou na matriz elétrica a solar e a eólica, que são o que a gente chama de fontes intermitentes. A solar depende do sol e a eólica, de ventos.

São mais limpas, certo?

Wilson Ferreira Jr.: Noventa por cento dela é limpa. Essa volatilidade é porque você mede energia a cada momento do dia. E, em função do mercado livre, você tem um preço da energia, os agentes ou que não conseguiram vender ou que venderam a energia precificam a energia 24 horas por dia. Então você tem uma expectativa dos consumidores do mercado livre de terem preços mais baixos do que os do agente regulado. O que é novo? Existe uma recomendação que consumidores com alta demanda de energia sejam ligados na alta tensão, acima de 2,3 mil volts. Então, a partir de 2000 você teve um regime que culminou, em 2024, em um regime de liberação desses grandes consumidores, 150 mil clientes, para que eles pudessem migrar para o mercado livre. Muitos consumidores têm interesse em ser atendidos exclusivamente por fontes de energia não poluentes. Então é um momento de maior competição.

Como está a regulamentação para empresas trabalharem aqui em termos de meio ambiente, de energia elétrica?

Wilson Ferreira Jr.: Está andando. Somos um dos cinco maiores em energia eólica e solar do mundo. Uma das regulamentações importantes é a de liberação e qual vai ser o ritmo de liberação dos consumidores do grupo B (ligados à rede de baixa tensão, atendidos pelo mercado regulado). Esse debate começa agora no Congresso. Existem vários países onde os consumidores são livres para escolher quem é seu fornecedor.

O mundo está ficando muito dependente de energia elétrica, não? Carro elétrico, uma série de demandas novas. O mundo tem condição de fornecer tudo isso de energia?

Wilson Ferreira Jr.: O mundo tem mais dificuldade de fazer isso do que o Brasil. O desenvolvimento da inteligência artificial está multiplicando por 10 ou às vezes 20 a demanda por data centers para processar essa informação, a quantidade de dados processados é enorme. É um negócio que precisa de energia renovável, de contingência, eu acho que o Brasil vai ser um hub de energia.

Pode traçar um cenário sobre o tema energia elétrica em 10 anos ou 15 anos?

Wilson Ferreira Jr.: Para se descarbonizar, o mundo tem de sair das fontes que queimam carvão, óleo, gasolina etc. Então, ele vai se eletrificar. A forma de alimentar isso é usar fontes cada vez mais renováveis. Os países estão investindo em solar e eólica, embora com menos eficiência que o Brasil. Não vai acabar o petróleo, vai trocar o carvão, o óleo combustível, por gás natural. Eu diria que o Brasil tem uma vantagem espetacular. O Brasil tem 220 mil MW de energia instalados. Como comparação, uma usina como Itaipu, que é a maior (do País), tem 14 mil MW. Só de potencial de eólica no continente nós temos cerca de 400 mil MW. Em 1960, tínhamos 5 mil MW instalados. E eu estou falando só de uma fonte, você tem mais 100 mil MW de hidrelétrica, tem o gás do pré-sal, uma quantidade solar imensa. E solar é a fonte que mais vai crescer. Então eu não tenho dúvida de que nós somos o celeiro energético do mundo para alimentar o processo de descarbonização.

Fonte: Broadcast Agro.