28/Nov/2024
A construção da Ferrogrão (EF-170), ferrovia de R$ 25,2 bilhões que ligará Sinop (MT) a Itaituba (PA), promete remodelar o agronegócio brasileiro. Estudo do Centro de Inovação em Logística e Infraestrutura Portuária (Cilip) da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Carlos Alberto Vanzolini indica um aumento de até R$ 3,00 por saca de 60 Kg na rentabilidade da soja de Mato Grosso e uma reconfiguração das rotas de exportação do País, aliviando a pressão sobre o Porto de Santos (SP) e impulsionando os portos da Região Norte. Quando o custo logístico cai, o produtor captura parte desse ganho na negociação com os traders, aumentando sua lucratividade. O estudo mostra que a ferrovia, com 933 quilômetros de extensão, reduzirá drasticamente a dependência do modal rodoviário, diminuindo a distância percorrida por caminhões de 914 para 171 quilômetros. Essa mudança deve aliviar gargalos logísticos e permitir o escoamento de grandes volumes de forma mais eficiente. Hoje, há uma infraestrutura inadequada e cara para longas distâncias.
A substituição por ferrovias e hidrovias não apenas diminui os custos, mas também amplia a capacidade de transporte. Na pesquisa, foi utilizado o modelo de decisão Markov, uma ferramenta matemática que auxilia na escolha da melhor estratégia em cenários de incerteza. O modelo permite simular e analisar diferentes possibilidades de transporte, levando em conta variáveis como custos, distâncias e tipos de modal disponíveis. Com essa abordagem, os pesquisadores mapearam as rotas e estratégias mais eficientes para o projeto da Ferrogrão, considerando a integração com outros modais, como hidrovias e rodovias. O resultado foi a identificação de um aumento significativo na área de influência da ferrovia em Mato Grosso, que passará de 20 para 33 municípios atendidos. O terminal intermodal de Sinop será essencial para conectar modais e facilitar o acesso a mercados mais competitivos, beneficiando produtores de diferentes portes. A pesquisa destacou ainda o impacto sobre pequenos agricultores, em geral os mais afetados pelos altos custos de transporte.
Com o barateamento do frete, pequenos produtores podem formar cooperativas e acessar mercados antes inviáveis, compartilhando custos e aumentando sua competitividade. A redistribuição do fluxo de exportação é um dos pontos mais relevantes da Ferrogrão. Hoje, cerca de 46% da soja de Mato Grosso é exportada via Porto de Santos (SP), chegando lá por ferrovia, mas sobretudo por rodovia. Com a Ferrogrão, integrada ao sistema hidroviário, uma parte significativa desse volume será direcionada aos portos do Arco Norte, como Belém e Santarém, no Pará. Isso desonera o Porto de Santos, que hoje opera acima de sua capacidade, e melhora a eficiência do sistema portuário nacional. Conforme o estudo, os portos de Manaus (AM) e Santarém manterão seus perfis atuais, com foco em mercados europeus e africanos, enquanto São Luís (MA) continuará atendendo o nordeste de Mato Grosso devido à sua localização estratégica. Outro benefício da ferrovia é a redução das emissões de gases de efeito estufa em 60%, com a substituição do transporte rodoviário por modais mais sustentáveis. O transporte hidroviário é o mais eficiente em termos de emissões, seguido pelo ferroviário.
Essa mudança trará ganhos ambientais expressivos, além de contribuir para a descarbonização da cadeia produtiva. A ferrovia também ampliará o uso de hidrovias de 880 para 1.132 quilômetros e de ferrovias de 366 para 976 quilômetros, fortalecendo a infraestrutura multimodal. Além de grãos, a Ferrogrão poderá transportar cargas como farelo, combustíveis (diesel, gasolina e etanol) e fertilizantes, consolidando sua relevância estratégica. Apesar do foco no agronegócio, o projeto terá um impacto amplo, favorecendo diferentes setores e aumentando a eficiência logística como um todo. Em agosto deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva incluiu os estudos sobre a ferrovia no Novo PAC (o programa de investimentos do governo). As obras foram incluídas na modalidade "estudos de novas concessões". A expectativa é de que as obras comecem em 2025, com conclusão prevista para 2030, mas o projeto ainda depende de licenciamento ambiental e enfrenta desafios políticos e judiciais. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.