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26/Nov/2024

Mineração: Brasil tem oportunidade em terras raras

O Brasil estreia num mercado de poucos players no mundo, ao iniciar a mineração em larga escala de terras raras, nome dado a um conjunto de 17 metais (como o neodímio, túlio, cério, e lantânio) encontrados em materiais de difícil mineração e que são considerados hoje essenciais na corrida para a transição energética. O domínio global é da China, que detém o know-how de separação e purificação dos elementos químicos presentes no minério. É nessa fase que está o segredo estratégico do negócio. A Mineração Serra Verde, montada por investidores estrangeiros, começou a operar neste ano uma planta industrial no município de Minaçu, em Goiás. A empresa tem no depósito que leva o nome de Pela Ema, quase na divisa com Tocantins, aproximadamente 200 milhões de toneladas (medidas) de minério. Considerando reservas indicadas e inferidas, o depósito supera 1,3 bilhão de toneladas, de acordo com informação da Agência Nacional de Mineração (ANM).

Nesse depósito, se destaca a presença de terras raras leves e pesadas de alto valor. Os ETR, como são chamados os elementos de terras raras, recebem esse nome exatamente pela dificuldade de extração, separação e purificação, apesar de o minério ser encontrado em grande quantidade na crosta terrestre. Nas reservas de Serra Verde, há quatro ETR (principalmente neodímio, praseodímio, térbio e disprósio), predominantes na jazida Pela Ema (em torno de 30%) e a uma profundidade de 10 a 13 metros (praticamente aflorado). O Brasil é o terceiro país em quantidade conhecida e medida de terras raras, com 21 milhões de toneladas de metal contido em diversos Estados, segundo dados oficiais do governo brasileiro e da agência norte-americana de serviços geológicos (USGS). As reservas chinesas são o dobro: 44 milhões de toneladas. O Vietnã está logo acima do Brasil, com 22 milhões de toneladas. Os resultados são bastante encorajadores. Os ETR estão presentes tanto em rochas duras quanto nas argilas iônicas.

No caso da Serra Verde, a extração e o beneficiamento dos elementos químicos de terras raras são feitos com argilas iônicas. Após o beneficiamento do minério, os metais de terras raras são obtidos num concentrado que contém os óxidos. A tonelada de óxido de terras raras (OTR) desses elementos atinge o preço de US$ 42 mil, mas em alguns momentos já chegou a valer US$ 65 mil. É que são componentes essenciais na fabricação, por exemplo, de motores elétricos eficientes, turbinas de geração de energia eólica, telas de TV, ímãs de discos rígidos de computadores e de sistemas de áudio e circuitos eletrônicos de celulares, entre outras. São materiais altamente estratégicos por suas aplicações. A Serra Verde é a primeira operação a produzir esses quatro elementos fora da Ásia em argila iônica. A empresa concluiu sua unidade de produção no fim de 2023 e iniciou a produção comercial em janeiro deste ano. Continua ainda na fase de homologação de seus óxidos com potenciais clientes e ganhando dia a dia escala de produção.

Já há cartas de intenção de compra assinadas com várias empresas de refino da China. A Serra Verde tem capacidade instalada de 5 mil toneladas equivalente de OTR contido em concentrado de carbonato (produto final). A previsão é operar a unidade a pleno volume em 2026. É inevitável vender o concentrado para a China, pois é lá que está a tecnologia de separação e purificação dos elementos. Essa tecnologia ainda é a grande barreira nesse negócio. Controlada desde 2011 pelo fundo norte-americano Denham Capital, quando adquiriu o projeto, a Serra Verde recebeu em outubro aporte de US$ 150 milhões (R$ 864 milhões pelo câmbio atual) para otimizar a produção da unidade fabril em Goiás, fortalecendo a empresa para um salto maior futuramente. Os recursos vieram dos fundos Energy & Minerals Group (EMG) e Vision Blue Resources (VBR). Em janeiro de 2023, EMG e VBR já haviam investido quantia igual na mineradora, conforme informação no site do Serra Verde Group.

Os três fundos têm foco de investimento em transição energética, descarbonização, minerais e metais críticos e em energia limpa. A companhia almeja atingir a plena capacidade de produção em menos de dois anos e se firmar como um produtor alternativo de OTR fora da Ásia. Depois disso é que a Serra Verde vai avaliar condições para um novo ciclo de crescimento. As reservas atuais medidas de minério são suficientes para 25 anos, mas com volumes indicados e inferidos a vida útil do Pela Ema pode alcançar 50 anos. A Serra Verde prefere não divulgar previsão de geração de receita. Pelos preços atuais, no entanto, um cálculo aponta que, no caso de produção à plena capacidade, a companhia teria faturamento anual na casa de US$ 200 milhões (R$ 1,2 bilhão). A mineradora conta com 1,3 mil funcionários, entre próprios e de terceiros. 72% são moradores da cidade de Minaçu e 80%, do estado de Goiás. Um diferencial da Serra Verde para outras mineradoras de ETR é o modelo de produção.

A extração do minério é feita a céu aberto, a até 13 metros abaixo da superfície do solo, com baixo risco, por escavadeiras e caminhões. Não são utilizados explosivos para liberar o minério. Além disso, a tecnologia de processamento é simples, com reagentes químicos que não agridem o meio ambiente. Após o beneficiamento, o rejeito de minério é filtrado e empilhado a seco, e a energia utilizada nas operações é de fonte renovável. As pesquisas geológicas da reserva Pela Ema para confirmar a existência de ETR começaram em 2008 e ganharam velocidade a partir de 2010. Somente no fim de 2023, após todos os estudos de viabilidade econômica e técnica e os licenciamentos, ficou pronta a unidade industrial para processar OTR. O investimento total da Deham Capital, desde 2011, e no próprio empreendimento, não é revelado. O Serra Verde Group, que controla a empresa, está sediado em Zug, num dos cantões da Suíça. No momento, a companhia conversa com o BNDES para ser inserida no fundo Ore Minerals, criado neste ano para apoiar projetos de minerais e metais estratégicos e críticos.

Seria um suporte para duplicação futura, com taxas de financiamento mais competitivas. Por exemplo, a duplicação da Sigma Lithium, que extrai e processa lítio no Vale do Jequitinhonha (MG), teve financiamento de quase R$ 500 milhões do banco de fomento neste ano. Destaque para a indicação da empresa pelo governo norte-americano como investimento estratégico no programa Minerals Security Partnership, grupo de países e entidades criado para fomentar cadeias de fornecimento de minerais críticos e sustentáveis, com apoio financeiro. Envolve energia limpa, mineração (extração e processamento), refino e reciclagem. Por trás da mineração de terras raras, existe um jogo econômico com implicações na geopolítica e, de acordo com os especialistas, o Brasil tem chances de tirar proveito desse cenário. Atualmente, a posição dominante em toda a cadeia de valor, que vai da mineração a produtos intermediários e finais, como ímãs, é ocupada pela China. O país produz, por exemplo, mais de 90% das ligas de ímãs permanentes.

Os Estados Unidos, apesar de avanços, ainda não dominam completamente a tecnologia em todas as etapas, principalmente na separação dos óxidos e na produção das ligas com metais de terras raras. Na Ásia, depois da China, só a Malásia opera uma unidade de refino, cujo concentrado que contém os óxidos tem origem na Austrália. Nesse caso, a produção se destina quase totalmente ao Japão. Por isso, Europa, Japão e Estados Unidos, que têm forte dependência da China atualmente, e por bom tempo ainda (sobretudo ETR pesados e magnéticos), buscam alternativas permanentes de suprimento. A transição energética coloca o Brasil na rota de grandes investimentos em mineração, com o potencial de extração de terras raras de argilas iônicas, afirma a Agência Nacional de Mineração (ANM). É uma janela de oportunidade para larga escala de produção futura, atração de investimentos e também de empresas com tecnologia. Há no País um cenário bastante animador para desenvolver ativos de classe mundial nessa área. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.