21/Nov/2024
As principais empresas do agronegócio listadas na B3 estão ajustando suas políticas de crédito para mitigar riscos diante da crescente inadimplência no setor, agravada por pedidos de recuperação judicial como o da AgroGalaxy. Por ocasião da divulgação dos resultados do 3º trimestre, Boa Safra, Vittia e 3tentos destacaram medidas para reduzir a exposição a clientes de maior risco e manter a solidez financeira em um cenário de margens comprimidas e juros elevados. No caso da Boa Safra, líder em sementes de soja, as maiores revendedoras de insumos tiveram sua participação no faturamento da empresa reduzida de 35% para 20%. Algumas delas não conseguiram dar as garantias exigidas pela empresa, então a opção foi não vender. 80% da carteira de crédito da companhia está protegida atualmente.
A Vittia, de fertilizantes especiais, atribuiu sua baixa inadimplência à carteira de clientes fidelizada ao longo dos anos. A empresa registra apenas um caso de recuperação judicial em 2024, no valor de R$ 75 mil. A 3tentos, focada no varejo, aposta em clientes com boa saúde financeira e visão de longo prazo. O ecossistema da empresa é verticalizado e é um fator importante de segurança. Com alavancagem de 0,13x, a empresa mantém uma das menores relações entre dívida e geração de caixa do setor. Os dados recentes da Serasa Experian mostram uma queda de 40,7% nos pedidos de recuperação judicial no 3º trimestre de 2024 ante o 2º trimestre de 2024. Apesar disso, a percepção é de que o quadro geral não deve mudar tão cedo. A Vittia considera natural que continue havendo problemas de inadimplência, considerando as premissas atuais.
Para a Lavoro, maior distribuidora de insumos agrícolas do Brasil e a primeira da América Latina a ser listada na Nasdaq, o crédito está escasso e é preciso um esforço conjunto para destravar o financiamento. O Plano Safra é importante, mas só ele não vai resolver o problema de crédito do agro. O mercado agropecuário está com pouco crédito no curto prazo. Todos os elos da cadeia terão de garantir esse crédito, incluindo o próprio governo. A empresa descarta a possibilidade de recorrer à recuperação judicial. A empresa não quebrou covenant nenhum, tem seus bons fundamentos e o resultado do 4º trimestre fiscal foi em linha com o esperado em termos de guidance. A questão envolvendo pedidos de recuperação judicial no setor de insumos se deve a um contexto difícil. O agro, em nível mundial, passa por um momento de desafio. No Brasil, há particularidades adicionais, como a questão do clima, o juro alto, entre outros agravantes.
Nem todas as empresas do setor estão conseguindo driblar a crise. A AgroGalaxy, com uma dívida de R$ 4,6 bilhões, ainda trava batalhas na Justiça para tentar liberar insumos retidos e recuperar recursos bloqueados por credores. Um sinal dos tempos difíceis que o setor atravessa. A empresa, que também é listada na B3, pediu recuperação judicial em meados de setembro. Recentemente, anunciou o "adiamento excepcional" da divulgação dos resultados do terceiro trimestre de 2024. A publicação, que devia ter acontecido no dia 13 de novembro, está programada para 19 de dezembro deste ano. Para 2025, a expectativa é de uma inadimplência ainda elevada, porém mais pontual. Nesse cenário, as companhias estão de olho nas oportunidades de aquisições e ganho de market share. Boa Safra e 3tentos estão otimistas. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.