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04/Nov/2024

Lavoro divulga os resultados do 4º trimestre fiscal

A Lavoro, maior varejista de insumos agrícolas da América Latina, listada na Nasdaq, registrou prejuízo líquido de US$ 77,3 milhões no quarto trimestre do ano fiscal de 2024, encerrado em 30 de junho. O prejuízo é 296% maior do que o registrado em igual período do ano fiscal anterior, de US$ 19,5 milhões. No acumulado do ano fiscal de 2024, o prejuízo atingiu US$ 154,6 milhões, 254% maior do que os US$ 43,7 milhões de 2023. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado no quarto trimestre ficou negativo em US$ 2,1 milhões, contra resultado positivo de US$ 2,4 milhões em igual período de 2023, refletindo menor lucro bruto e redução em outras receitas operacionais. No ano fiscal, o Ebitda ajustado caiu 64%, para US$ 53,4 milhões, ante US$ 150,1 milhões no ano anterior. A receita líquida no trimestre cresceu 2%, para US$ 271,1 milhões, com forte contribuição da receita de grãos das operações de barter, que aumentou 41%, para US$ 68,3 milhões.

Esse crescimento foi parcialmente compensado por uma queda de 6% na receita de insumos, que atingiu US$ 202,8 milhões, devido à queda nos preços no Brasil. No Brasil, maior mercado da companhia, a receita do segmento Ag Retail (varejo) recuou 2% no trimestre, para US$ 192,5 milhões, refletindo a deflação de preços de insumos, parcialmente compensada pelas aquisições da Referência e Coram. Na América Latina, a receita cresceu 5%, para US$ 65,2 milhões, impulsionada pela valorização do peso colombiano. Foi um dos anos mais desafiadores para o agronegócio brasileiro, com o mercado de varejo de insumos caindo mais de 20%. Contra esse cenário, a Lavoro navegou com sucesso essas condições turbulentas, ganhando participação de mercado. O segmento Crop Care, que inclui especialidades e biológicos, teve desempenho expressivo no trimestre, com a receita aumentando 87%, para US$ 19,9 milhões, liderado pelo forte desempenho da Union Agro, que cresceu 46%. O índice de preço de insumos já parou de cair há alguns meses.

Para o varejo de insumos, o preço em si é secundário, desde que a revenda garanta uma margem de lucro. O grande problema é quando ocorre uma variação abrupta, que foi o que aconteceu no último ano. Há sinais positivos para o próximo ciclo. Projeções para a rentabilidade do produtor em 2024/2025 indicam melhora sobre o ano anterior, incentivando agricultores a aumentarem a área plantada e investirem em insumos para maximizar a produtividade. Adicionalmente, os preços dos insumos continuam mostrando sinais de estabilização. A Lavoro decidiu interromper temporariamente sua estratégia de crescimento via aquisições, priorizando a expansão orgânica e a rentabilidade das operações existentes. No contexto atual do mercado, faz muito mais sentido e traz melhor retorno sobre investimento. Sobre negociações em andamento com fundos de investimento e potenciais parceiros para fortalecer a estrutura de capital da empresa, a iniciativa faz parte de uma estratégia mais ampla.

Essas conversas com investidores não começaram agora; a agenda de capitalização vem sendo discutida há algum tempo. Em junho, a Lavoro protocolou um formulário F-3 junto à Securities and Exchange Commission (SEC) dos Estados Unidos, o que permite que a empresa realize um follow-on - oferta de novas ações para levantar recursos adicionais. É claro que follow-on, no momento atual de mercado, não é uma coisa simples, mas, junto com essa agenda, também é uma agenda de discussão com investidores. A Lavoro tem bons fundamentos para atrair capital novo. A companhia captou em agosto R$ 310 milhões via FIDC-Fiagro, direcionados exclusivamente ao capital de giro. O endividamento da empresa é basicamente alocado em capital de giro, seja de curto ou longo prazo. No passado, quando a empresa estava fazendo os M&As, eles sempre foram feitos via equity. Assim, limita o endividamento e, basicamente, foca no capital de giro. A Lavoro descartou a possibilidade de a empresa pedir recuperação judicial.

A empresa não quebrou nenhum covenant, tem seus bons fundamentos e o resultado do quarto trimestre fiscal foi em linha com o esperado para o guidance. Em nota no dia 26 de setembro, a empresa já havia refutado boatos sobre eventual RJ surgidos após pedido de recuperação judicial da AgroGalaxy. Agora, a divulgação de resultados deve ajudar a acalmar os ânimos do mercado. A questão envolvendo pedidos de recuperação judicial no setor de insumos se deve a um contexto difícil. O agro, em nível mundial, passa por um momento de desafio. No Brasil, há particularidades adicionais, como a questão do clima, o juro alto, entre outros. Mas, o aumento nos pedidos de RJ no último trimestre, de cerca de 200, ocorre em um universo de 1,4 milhão de produtores que tomaram crédito. Então, não é tão representativo. O principal desafio é a liquidez. O produtor brasileiro é rico em ativo, mas é pobre em dinheiro. O dinheiro do produtor é o grão, é a terra, é o equipamento. Mas, agora, a taxa de juros é alta e é preciso pagar as dívidas. Muitas vezes, o produtor não quer se desfazer nem do grão nem da terra.

A Lavoro está passando por adaptações para atender à Lei Sarbanes-Oxley (SOx), conjunto de normas que exige maior controle e transparência financeira das empresas listadas em bolsas de valores dos Estados Unidos. A empresa está com um novo processo de governança bem mais robusto e complexo. Ao mesmo tempo, a companhia implementou uma agenda de otimização operacional. Há oportunidades de reduzir overlap (sobreposição), de otimizar a carteira de clientes atendidos por determinadas lojas, de integração maior entre sistemas e, consequentemente, de redução de gastos. O processo de redução de custos fixos já começou no ano passado e deve continuar neste ano. É óbvio que depois de um ano de resultados difíceis, a Lavoro está focada em uma melhora de resultado, em melhora de margem, em contenção de gastos. A pauta é sensata. O momento é de sobriedade.

A Lavoro planeja reduzir sua rede de distribuição em 2025, com o fechamento de mais unidades do que a abertura de novos pontos. A companhia encerrou o ano fiscal com 187 lojas no Brasil e 36 em outros países da América Latina. Não faz sentido ter duas lojas atendendo a mesma região, por exemplo. A medida não será algo massivo, mas deve nos ajudar a melhorar a rentabilidade como um todo. A prioridade para 2025 será o incremento das margens e da eficiência operacional para estar bem-posicionada quando o mercado finalmente se estabilizar. O crédito disponível aos produtores rurais caiu cerca de 30% em setembro, na comparação anual, o que representa uma redução de aproximadamente R$ 5 bilhões no sistema financeiro.

Na maior parte dos casos de atrasos de pagamento dos produtores, a questão é de liquidez, não de solvência. Cerca de 80% dos agricultores são proprietários de suas terras e mantêm margens operacionais entre 25% e 30% ao longo das últimas décadas. Em relação aos estoques, a empresa indicou uma tendência de normalização dos níveis. A situação está bem mais ajustada no começo desta safra em comparação com a anterior. É difícil dizer se está totalmente normalizada, pois há regiões em que isso ainda não ocorreu, mas, em média, a tendência é de um nível muito mais ajustado. A Lavoro prevê queda de aproximadamente 10% em receita no mercado brasileiro de insumos agrícolas para o ano fiscal de 2025.

O recuo reflete a expectativa de declínio nos preços, que deve superar o pequeno aumento previsto no volume de vendas. Para o período, a empresa projeta receita consolidada entre R$ 8,6 bilhões e R$ 9,2 bilhões, com receita de insumos entre R$ 7,7 bilhões e R$ 8,3 bilhões. Em dólares, a projeção é de receita entre US$ 1,5 bilhão e US$ 1,6 bilhão. O Ebitda ajustado deve crescer em relação ao registrado em 2024, informou a companhia. O mercado está se movendo lentamente, em linha com o ano passado e muito mais lentamente do que os anos anteriores. A empresa tem observado maior procura dos produtores por insumos nas últimas semanas. No último mês, observou-se uma grande preocupação e isso está acelerando os eventos e as visitas às lojas.

As importações diminuíram para alguns produtos específicos por causa das margens mais baixas. A Lavoro prevê maior estabilidade nos preços dos insumos. A tendência de estabilidade dos preços dos insumos deve ser um fator que vai favorecer os resultados. Na verdade, o problema não é nem tanto qual é o nível de preço médio do insumo, mas as variações fortes ao longo do mesmo ano e isso não deve mais acontecer. Em relação à estratégia de crescimento para 2025, o foco será orgânico em vez de aquisições. Mesmo que os objetivos de M&A sejam interessantes, o que nós vamos focar mais é no lado orgânico, em que nós vemos mais oportunidades de continuar crescendo e ganhar participação. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.