21/Oct/2024
Um mês após o pedido de recuperação judicial da AgroGalaxy, os Fundos de Investimentos nas Cadeias Agroindustriais (Fiagros) expostos aos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) da empresa acumulam perdas de dois dígitos. Ao entrar com o pedido de RJ em 18 de setembro, a AgroGalaxy, uma das maiores distribuidoras de insumos agrícolas do Brasil, revelou passivo superior a R$ 4,6 bilhões. O CPTR11, com 7,08% de seu patrimônio líquido exposto aos CRAs da AgroGalaxy, foi o fundo mais afetado, registrando queda de 20,39% no último mês. Outros Fiagros também sofreram perdas expressivas no último mês: o AGRX11 (5,50% de exposição) caiu 17,50%, o BBGO11 (4,78%) se desvalorizou 16,44%, o XPCA11 (7,95%) recuou 17,61%, e o JGPX11 (8,00%) perdeu 12,97%.
O AAZQ11 (4,25%) apresentou queda de 13,92%. A crise na empresa foi desencadeada após a AgroGalaxy falhar no pagamento de uma parcela de R$ 70 milhões dos CRAs emitidos em 2022, com vencimento em 2027. A Vert Securitizadora, responsável pela estruturação dos CRAs, acionou o vencimento antecipado dos títulos, agravando a situação financeira da empresa. Em comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a AgroGalaxy anunciou o fechamento de metade de suas lojas e o corte de 550 funcionários. O número de unidades foi reduzido de 169 para 74, e o quadro de colaboradores caiu de 1.700 para 1.150. O sócio da VBSO Advogados e presidente do Instituto Brasileiro de Direito do Agronegócio (IBDA), Renato Buranello, disse que o impacto da recuperação judicial da AgroGalaxy no mercado de capitais foi significativo, mas não sistêmico.
"A RJ não mudou o fundamento do agronegócio, nem levou a uma fuga em massa de investidores. Por ser uma empresa central e grande, houve um impacto maior na cadeia industrial, mas isso não representa uma mudança estrutural no setor", afirmou. O especialista ressaltou a importância dos desdobramentos jurídicos do caso. "O que vai vir de precedente do caso vai ser muito importante para a gente manter esse bom ambiente de negócio a partir do ano que vem", comentou. Segundo Buranello, o mercado está em modo de espera. "Você não vai colocar para rodar qualquer operação de CRA ou Fiagro agora, no fim deste ano. Não vai colocar, é natural, porque está todo mundo stand-by ali, dizendo vamos ver o que está acontecendo", acrescentou.
O assessor da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Angelo Mazzillo Júnior, vê a situação como uma "oportunidade". "Eu acho que é uma oportunidade de aprendizado, de melhora de governança, de quem empresta, certo? De quem aloca seus recursos. Vai ser uma oportunidade também para quem toma seus recursos, rever seus processos", disse. Mazzillo, que foi ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, argumentou que o impacto no longo prazo pode ser positivo. "Na minha visão, foi um custo baixo para o efeito positivo que isso vai surtir; vai proporcionar em termos de ganho de governança, melhoria de processo, tanto da parte do tomador quanto da parte do devedor, e vai melhorar o mercado." Mazzillo destacou que o problema da AgroGalaxy está mais relacionado à gestão do que a uma crise sistêmica.
Buranello e Mazzillo Júnior concordaram que, apesar da turbulência atual, o mercado de Fiagros deve se recuperar no médio prazo. "Se a recuperação judicial for organizada e avançar bem, acredito que no próximo ano as coisas comecem a voltar ao normal. Haverá uma confiança geral de que o processo está seguindo o caminho certo", disse o presidente do IBDA. "Os fundos mais afetados serão aqueles com investimentos na AgroGalaxy. Os demais podem ficar cautelosos no curto prazo, mas, à medida que o tumulto for superado e a governança, gestão e os processos de crédito se fortalecerem, o mercado sairá muito mais robusto", acrescentou o ex-secretário do Ministério da Agricultura. O mercado agora aguarda o plano de recuperação judicial da AgroGalaxy, que deve ser apresentado até o fim de novembro. Fonte: Broadcast Agro.