16/Sep/2024
Antigo projeto do empresário Eike Batista, o Porto do Açu conseguiu se consolidar em meio à derrocada dos seus negócios como um importante porto do País para os setores de minério e petróleo. Mas, não chegou a se transformar em um complexo “porto-indústria”, como previa o plano original de Eike. Agora, com a necessidade de redução das emissões de carbono no mundo, a Prumo Logística, dona do terminal portuário, tenta retomar a ideia de desenvolver um polo industrial no local para preencher o gigantesco espaço que detém ali, no litoral norte do Rio de Janeiro. Dos 90 quilômetros quadrados de área útil do porto, apenas 38% estão ocupados. Controlada pelo fundo norte-americano EIG e tendo o Mubadala (fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos) como sócio, a Prumo começou há dois anos e meio a desenvolver o projeto que agora quer colocar em pé. A área total do porto, considerando uma reserva natural, é de 130 quilômetros quadrados, o equivalente a 1,5 ilha de Manhattan, em Nova York.
Com o desenvolvimento desse projeto, a expectativa é de que, daqui a dez anos, 30% das movimentações em Açu sejam de navios carregados com combustíveis limpos, segundo a Prumo. Hoje, do total embarcado, o petróleo responde por quase 70%. As empresas de petróleo estão investindo em combustíveis de nova geração. No futuro, vão carregar outros combustíveis nos tanqueiros, como metanol, por exemplo. O porto entrou em operação em 2014 e cresceu sobretudo no ano passado, quando ampliou em 26,6% o total de carga movimentada, alcançando 84,6 milhões de toneladas. Essa expansão se deu, principalmente, devido ao setor de óleo e gás, que avançou 33,4%. A Prumo também vem trabalhando para diversificar sua fonte de receitas e atrair carga de grãos. O “plano verde” do Açu prevê um cluster de hidrogênio, usinas de combustível limpo (como combustível sustentável de aviação, o SAF) e fábrica de produtos siderúrgicos de baixo carbono. Há ainda projetos para empreendimentos de energia eólica em alto-mar (offshore) e solar.
No cluster de hidrogênio verde, a ideia é usar o combustível para a produção de amônia, matéria-prima de fertilizantes. O produto final seria destinado para o consumo doméstico, diferentemente do que deve ser feito em usinas de hidrogênio verde previstas para serem instaladas na Região Nordeste do País, que devem suprir, em parte, o mercado externo. Segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com R$ 16,5 bilhões em aportes esperados o Porto Açu está na quarta posição entre os portos do País que anunciaram os maiores investimentos em hidrogênio verde. À frente, aparecem os portos de Pecém (CE), com R$ 110,6 bilhões; Parnaíba (PI), com R$ 20,4 bilhões; e Suape (PE), com R$ 19,6 bilhões. A grande maioria desses projetos, porém, depende ainda de estudos de viabilidade. Em Açu, o projeto mais perto de ser concretizado é o da norueguesa Fuella, que em agosto reservou 100 mil metros quadrados no porto, com a possibilidade de aumentar esse espaço para 200 mil. A empresa também firmou um memorando de entendimento para construir uma planta de amônia verde, com potencial para produzir 400 mil toneladas por ano.
O cronograma do projeto da Fuella, no entanto, prevê que a decisão final será tomada nos próximos quatro anos. Um dos elementos é analisar todo o custo. A decisão deve sair em 18 meses. Depois disso, seriam mais 24 meses para construção da planta. É um projeto para começar a operar em 2028. Outro projeto que deve ser um dos primeiros a sair do papel é o de uma planta de metanol verde (combustível que poderá ser usado pela indústria marítima). O cronograma é semelhante ao da Fuella. A Vale é outra empresa próxima de tomar uma decisão de investimento em Açu. A mineradora e a Prumo anunciaram, em 2023, que estudam o desenvolvimento de um hub para fabricação de matéria-prima que permitirá à indústria siderúrgica reduzir suas emissões. Contudo, a Prumo precisa superar desafios para que os projetos virem realidade. Um deles é definir quem serão os compradores do que será produzido ali. Por isso, a intenção de começar com as plantas de combustíveis sustentáveis. O SAF, por exemplo, deve ter demanda garantida a partir de 2027, quando as companhias aéreas serão obrigadas a reduzir suas emissões. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.