30/Jul/2024
A parcimônia nas compras de fertilizantes por agricultores no Brasil e a entrada no mercado de companhias originárias de polos produtores de matérias-primas estão reduzindo a participação de grandes fabricantes no mercado brasileiro. Ao mesmo tempo em que os preços das commodities agrícolas têm afetado o apetite dos produtores por esses insumos, empresas menos tradicionais têm conseguido colocar seus produtos a preços mais competitivos no Brasil. Como resultado, a canadense Mosaic e a norueguesa Yara, as duas maiores do setor, viram sua participação de mercado diminuir nos últimos três anos no país. A fatia da Mosaic no Brasil recuou de 22% em 2021 para 17% em 2023, enquanto a da Yara saiu de 18% em 2021 para 11% no ano passado. Já companhias como a estatal marroquina OCP e a estatal de Belarus BCP, que sequer apareciam entre as dez maiores empresas de fertilizantes em 2021, passaram a deter 5% do mercado nacional cada em 2023.
Belarus é um dos maiores exportadores de potássio do mundo e Marrocos, de fósforo. Os dois elementos são fundamentais nas formulações de adubos. Os cálculos sobre a participação foram feitos pela consultoria StoneX com base nos dados de importação de fertilizantes, do Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos Agrícolas no Estado de São Paulo (Siacesp), e de produção nacional, da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). O quadro persiste neste ano. Em 2024, a tendência de redução de volume e perda de market share dessas empresas seguirá. A BCP chegou ao mercado brasileiro com representação comercial apenas em 2023, como reflexo de uma busca por clientes alternativos após as sanções aplicadas pelos Estados Unidos e União Europeia (UE) contra Belarus, devido a violações de direitos humanos. Diante das sanções Ocidentais, Belarus começou a acertar vendas de potássio com descontos expressivos para outros importadores.
Segundo o Rabobank, a renegociação de contratos com China e Índia, grandes importadores, foi feita com preços de 12% a 14% abaixo do mercado. Isso está colocando uma pressão baixista muito forte no mercado de potássio. Os preços estão caindo de uma forma bastante forte. Os países estão tendo que descontar bastante os preços para conseguir ter acesso ao mercado, competir com o produto sancionado e continuar tendo vendas. Essa estratégia começou a afetar empresas como Yara, Mosaic, e a canadense Nutrien. Quando as sanções à Belarus fizeram as exportações de potássio do país cair de 12 milhões de toneladas para 5 milhões de toneladas ao ano, a Yara voltou-se a outro fornecedor tradicional do produto: a Rússia. A alternativa, porém, logo se revelou inviável com o início da guerra na Ucrânia em 2022, que desencadeou sanções contra o país. A Yara se viu em uma situação na qual não consegue comprar fósforo e potássio, tendo que comprar potássio de outros fornecedores, como o Marrocos e, inclusive, o Canadá, que é o grande competidor dela.
A marroquina OCP vem ganhando mercado diante da demanda brasileira mais aquecida por adubos fosfatados. O aumento nos preços do fósforo ajudou na ascensão da OCP, já que o Marrocos é um dos principais produtores e, com acesso a altos volumes, consegue entrar no mercado com preços competitivos. A Eurochem também ganhou participação no mercado, tornando-se a segunda maior empresa e ultrapassando a Yara. A multinacional de origem russa (controlada por capital chinês), dona da Fertilizantes Tocantins e da Heringer, saiu de uma participação de 6% do mercado em 2021 para 12% em 2023, consolidando-se como a segunda maior do setor. A empresa afirma que investiu mais de US$ 2,5 bilhões na América do Sul desde 2016, quando se instalou na região. A estratégia de crescimento da companhia considerou aquisições de ativos que permitissem capilaridade competitiva para a distribuição dos produtos. Entre os investimentos está o projeto na Serra do Salitre (MG), para produção de nitrogênio e fósforo.
A Yara confirma que os fatores geopolíticos relacionados a Rússia e Belarus impactam a dinâmica no Brasil, que é dependente da importação. Mesmo diante de um cenário desafiador, a Yara conta com produção própria, além de uma diversificada rede de fornecedores. Para o Rabobank, esse cenário se soma a uma crise da indústria de insumos, que se arrasta desde 2022, quando teve início da guerra entre Ucrânia e Rússia. A logística, fundamental para o segmento, faz com que outras fabricantes, como a israelense ICL, instalem plantas no Brasil para capilarizar a distribuição dos macronutrientes. A inadimplência de revendas de insumos no Brasil, recentemente, até com o rompimento de acordos de distribuição é outro fator que ‘mexe o tabuleiro’ do setor de fertilizantes. Além disso, há ainda o aumento no uso de bioinsumos. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.