29/Jul/2024

Elon Musk é tão popular nesta região agrícola que seu rosto está estampado em lojas ao lado de rebanhos de vacas, e revistas locais o retratam como um super-herói. O apelo do bilionário é simples: sua empresa de satélite Starlink conectou as vastas extensões rurais e de selva do Brasil à internet. Mas, a rápida expansão da Starlink ocorreu quando autoridades do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva levantaram preocupações sobre a crescente influência de Musk no País. Após obter aprovação regulatória há dois anos, a Starlink eclipsou os concorrentes em maio para se tornar a maior provedora de internet via satélite do País. Musk, um bilionário cujas empresas incluem a plataforma de mídia social X e a fabricante de carros elétricos Tesla, cortejou líderes de direita ao redor do mundo, incluindo o antecessor e rival de Lula, Jair Bolsonaro.

Musk já deu seu apoio à candidatura do ex-presidente Donald Trump. As regiões onde a Starlink se tornou popular, o coração agrícola do Brasil e a floresta amazônica, são redutos de Bolsonaro onde Lula enfrenta profunda oposição política. Agora, o tribunal de contas federal do Brasil está investigando o uso da Starlink por autoridades públicas no País, ameaçando impor restrições ao serviço. A Anatel, reguladora de telecomunicações, abriu um inquérito separado sobre a Starlink, dizendo que seu rápido crescimento em assinantes de mais de 20% ao mês pode expulsar novos participantes. O promotor público que lidera a investigação do tribunal de contas, Lucas Furtado, afirmou que a Amazônia é uma das maiores riquezas do Brasil. Ela guarda segredos e a ideia de que uma empresa deva estar no controle dessas informações é uma afronta à soberania brasileira. O Brasil é o mais novo país onde os interesses comerciais de Musk estão colidindo com sua política.

Na Argentina, ele elogiou o novo presidente, Javier Milei, um autointitulado anarcocapitalista que se recusou a se encontrar com o presidente Lula e expressou interesse no lítio do país, um metal essencial em baterias de veículos elétricos que Musk descreve como "o novo petróleo". Na China, onde está expandindo seus negócios, ele disse que é "inevitável" a China assumir Taiwan. Desde que visitou o Brasil em maio de 2022, Musk se alinhou abertamente com os conservadores do País, levando o ex-presidente Bolsonaro a aclamá-lo como uma "lenda da liberdade" em recentes comícios políticos. O então ministro das Comunicações de Bolsonaro, Fábio Faria, disse ao Congresso que ele pessoalmente acelerou a aprovação regulatória da Starlink. Musk apoiou Bolsonaro depois que a polícia brasileira abriu investigações sobre o ex-presidente e outros conservadores importantes, muitos do interior do Brasil, por planejarem um golpe fracassado em janeiro de 2023 contra o governo de Lula.

Então, em abril, o bilionário recusou uma ordem da Suprema Corte para bloquear contas em sua plataforma X que as autoridades dizem estarem ligadas à revolta. Ele chamou o juiz que emitiu a ordem de "ditador", rotulando-a como uma afronta à liberdade de expressão e às "demandas mais draconianas de qualquer país da Terra". Os brasileiros de esquerda ficaram furiosos. Segundo a consultoria Tendências, a ascensão meteórica da Starlink no cinturão agrícola do Brasil só deixou o governo mais nervoso. O governo já estava lutando para conquistar o setor agrícola e agora a Starlink está prometendo melhorar a produtividade e trazer outros ganhos positivos. Uma maior cobertura de internet nessas regiões amplamente conservadoras também pode promover uma identidade política mais forte, à medida que a comunicação entre áreas agrícolas antes isoladas cresce.

O Brasil tem uma das menores densidades populacionais do mundo (67 pessoas por milha quadrada), em comparação com 96 pessoas nos Estados Unidos. Isso significa que muitas vezes não é economicamente viável fornecer internet por outros meios, como instalar cabos ou mais torres de celular, mesmo em cidades como Tapiraí, a duas horas de carro da metrópole de São Paulo, no Estado mais rico do Brasil. Em um sinal do potencial do mercado, a John Deere anunciou recentemente que começará a instalar o Starlink em seus equipamentos no Brasil este ano, o que o tornaria o único País a fazê-lo fora dos Estados Unidos. Isso permitiria que os tratores operassem sem motorista para em breve plantar, fertilizar e colher safras. Mesmo as menores fazendas podem se beneficiar de estar online, poupando os produtores de horas de direção para pagar contas ou comprar suprimentos.

As autoridades estimam que um melhor acesso à internet poderia aumentar a produtividade das fazendas em até 25% em um país que é o maior exportador mundial de carne bovina, soja e açúcar. Embora cerca de 74% das propriedades rurais tenham acesso à internet, menos de 25% das terras agrícolas estão conectadas, de acordo com números do governo. Em Mato Grosso do Sul, perto da fronteira com o Paraguai, onde ficar online é uma luta, os agricultores dizem que resistiriam a qualquer tentativa do governo de limitar o Starlink, pois não há outra escolha. O governo argumentou que está fazendo sua parte, minimizando a importância da Starlink. A internet via satélite é uma alternativa para aumentar a conectividade no campo e há muitas empresas surgindo neste segmento, afirmou o ministro das Comunicações, Juscelino Filho. O governo de Lula também revelou mais apoio financeiro para a indústria agrícola nos últimos meses, incluindo um pacote de US$ 15 bilhões em empréstimos para apoiar quase cinco milhões de fazendas familiares. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.