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25/Jul/2024

Fertilizantes: desafios da Petrobras para produção

A Petrobras terá de investir em modernização de fábricas e enfrentar os preços altos e a escassez de gás natural para atender à determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de acelerar o seu retorno à produção de fertilizantes no País. No mercado, há dúvidas se a produção de fertilizantes pode ser viável financeiramente, ou seja, se a Petrobras vai conseguir ter retorno do investimento. Depois da intenção de reestatizar refinarias (o governo negocia a recompra de duas unidades) e da aposta na construção de navios, o setor de fertilizantes é mais um em que a companhia tenta retomar sua influência, seguindo um modelo adotado em outros governos petistas e que é criticado pelo mercado, que vê um excesso de interferência política numa empresa com ações na Bolsa. A pressão para acelerar o retorno ao setor de fertilizantes foi um dos motivos para a demissão do ex-presidente da Petrobras Jean Paul Prates.

Já no discurso de posse, Magda Chambriard, que sucedeu a Prates no comando da estatal, disse estar totalmente alinhada com a visão do presidente Lula sobre a atuação da companhia no setor de fertilizantes. A ideia, afirmou ela, seria reduzir a dependência do País das importações. A estatal já teve participação importante no setor de fertilizantes quando operava suas fábricas no Paraná (Araucária Nitrogenados - Ansa), Sergipe e Bahia, que têm capacidade instalada de 2,87 milhões de toneladas por ano. Uma quarta unidade de produção, a UFN-III, em Três Lagoas (MS), cujas obras não foram finalizadas, pode produzir pelo menos 1,3 milhão de toneladas anuais. A empresa, porém, havia saído do setor. A ideia era que companhia apostasse só em óleo e gás. A iniciativa privada evita investir no Brasil nessa área em razão dos custos considerados altos.

A estatal, porém, afirma que busca a atuação no negócio de fertilizantes de forma sustentável e com retorno financeiro. Das quatro unidades de fertilizantes ligadas à Petrobras, nenhuma está atualmente em funcionamento. A Ansa parou a produção em 2020, após um processo de venda fracassado que durou dois anos. As unidades de Sergipe e da Bahia foram arrendadas à Unigel, mas também estão com as operações paralisadas. Há uma forte pressão para que a estatal reassuma as duas fábricas. A atuação mais forte é da Federação Única dos Petroleiros (FUP), que participa do grupo de trabalho de fertilizantes coordenado pela Petrobrás. A quarta unidade, em Mato Grosso do Sul, nunca foi terminada. As obras pararam em 2015, com 80% da fábrica concluída. As tentativas de vendê-la nunca vingaram. A Petrobras já tem um plano para os investimentos nas fábricas de fertilizantes que estão paradas.

No dia 6 de junho, a companhia recebeu aval para reativar a Araucária Nitrogenados (Ansa) e, segundo a companhia, já está em curso e com investimento previsto da ordem de R$ 1,2 bilhão. Além disso, a estatal diz que pretende retomar as obras da UFN-III. O estudo de viabilidade técnica e econômica da unidade de Três Lagoas (MS) está em andamento. As unidades situadas nos estados da Bahia e Sergipe estão arrendadas e permanecem de posse da Proquigel (empresa do Grupo Unigel), agora em condição de hibernação. A Petrobras vem mantendo diálogo com a Unigel em busca da melhor condição para o retorno da operação das duas fábricas. Os investimentos nessas outras fábricas não foram divulgados. No início deste mês, a estatal deu mais um passo para voltar aos fertilizantes, com o avanço nas negociações para uma parceria com a Yara, uma das três maiores produtoras globais de fertilizantes, o que poderá acelerar o ganho de escala que o governo brasileiro quer.

De acordo com a StoneX, sem investimentos no segmento, seja público ou privado, o Brasil pode se tornar nos próximos dois a três anos o maior importador mundial de fertilizantes, ultrapassando a Índia, que vem aumentando sua produção interna. No ano passado, o consumo de fertilizantes no Brasil foi de 45,8 milhões de toneladas. Desse total, apenas 6,8 milhões de toneladas foram produzidas no País, segundo números da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). Em 2013, como comparação, o consumo foi de 30,7 milhões de toneladas, e quase um terço foi produzido no Brasil (9,3 milhões de toneladas). Em 2023, por meio da Petrofértil (hoje Gaspetro), criada no início da década de 1970, a Petrobras atendia parte do mercado, mas nunca conseguiu suprir toda a demanda. Conforme o Rabobank, nem com os novos investimentos será possível alcançar a autossuficiência.

A volta da Petrobras ao setor está ligada ao Plano Nacional de Fertilizantes, lançado em 2022, após a crise no setor trazida pela guerra na Ucrânia, e renovado agora no governo Lula. Na versão anterior do plano, a iniciativa privada seria a responsável pelo aumento da oferta, mas isso nunca aconteceu. O Brasil levou um susto com a invasão da Rússia à Ucrânia. O preço dos fertilizantes disparou até três vezes do que era, e teve risco de faltar, o que seria um desastre para um país agrícola como o Brasil. Então, foi criado o Plano Nacional de Fertilizantes. O Brasil entendeu isso como uma política importante para a continuidade da agricultura no País, porque sem fertilizante não há como produzir. É isso que mais espanta: um País que abastece o mundo inteiro não produz fertilizante. Mesmo com o “susto”, porém, a iniciativa privada não abraçou o plano. Atualmente, empresas internacionais do setor, como Mosaic e Yara, contribuem com uma parte da oferta no Brasil, mas que não chega a 20% da demanda.

Segundo a StoneX, a iniciativa privada até tem investido no segmento de fertilizantes, mas focando basicamente nas atividades de mistura e distribuição, incluindo logística. Os investimentos em produção efetiva de fertilizantes, tanto em plantas petroquímicas para produção de nitrogenados quanto em atividades minerais para produção de fosfatados e potássio, ainda não cresceram significativamente. Possivelmente, os principais motivos para esta situação são o alto custo estrutural de energia no País; o alto preço de gás natural, não apenas para geração de energia em si, mas também para produção de amônia e ureia; e os baixos teores minerais em muitas das reservas já provadas de fósforo e potássio. Entre os poucos projetos que chegaram ao País, pode-se citar o da EuroChem, na Serra do Salitre, em Minas Gerais, um investimento de US$ 1 bilhão, que vai incrementar a produção nacional em cerca de 1 milhão de toneladas de fosfatados por ano.

A operação começou em março deste ano, e a previsão é de que a capacidade total seja atingida no ano que vem. A primeira unidade da Petrobras a ser reativada, no Paraná (Ansa), é muito antiga e terá de passar por muita modernização. Paralisada no governo Bolsonaro, a Ansa, inaugurada em 1982, já não operava bem, ficando mais tempo parada do que produzindo. As duas fábricas de fertilizantes da Região Nordeste, em Sergipe e na Bahia, são mais modernas que a do Paraná, mas também foram construídas na década de 1980 e ainda sofrem com a falta de gás natural para operar, tanto que a Unigel não deu conta. Agora, porém, com a descoberta de reservatórios de gás no Nordeste, é possível que a estatal consiga colocar essas fábricas em operação. A melhor das fábricas da estatal é a de Mato Grosso do Sul, que por não ter sido concluída ainda pode passar por uma modernização para atender o novo perfil de mercado, voltado para a descarbonização. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.