24/Jul/2024
Os reajustes feitos pela Petrobras este mês nos preços da gasolina e do gás liquefeito de petróleo (GLP) que produz não devem alcançar o diesel tão cedo. Segundo as consultorias Argus e StoneX, que acompanham preço e movimentação real de cargas no mercado brasileiro, a forte entrada de diesel russo vendido com desconto aos preços da Bolsa de Nova York, segue criando um colchão que tira a pressão dos preços praticados pela estatal. Assim, embora entidades como a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom) e o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) sigam reportando, com frequência, uma defasagem superior a 10% entre os preços do diesel Petrobras e o preço de paridade de importação (PPI), que chegou a 19% no início de julho, esses valores não seriam aderentes à realidade, porque seu cálculo leva em conta o preço do produto importado do Golfo, praticamente extinto do mercado brasileiro.
Nesta terça-feira (23/07), essa defasagem seria de 10% ou R$ 0,39 por litro segundo a Abicom, e de 7,24% ou R$ 0,27 segundo o CBIE. Mas, para a Argus e a StoneX, essa defasagem tem sido bem menor, oscilando entre 2% e 4%. No caso do diesel, portanto, a conjuntura é confortável à atual gestão da empresa, da presidente da Petrobras, Magda Chambriard. O preço do diesel da estatal não é reajustado há 205 dias, desde 27 de dezembro de 2023, quando foi reduzido em 7,8%. Segundo informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o diesel russo respondeu por 97,8% do total importado pelo Brasil em maio e 71,2% em junho. No mês passado, outras origens relevantes de diesel foram Índia (16%), Omã (8%) e, finalmente, Estados Unidos, com 5% do total. De acordo com a StoneX, 74% de todo o diesel trazido para o Brasil veio da Rússia. Bem conhecida do mercado, a explicação para a substituição do diesel norte-americano pelo de outros países nas importações brasileiras, reside no desvio dessas cargas para o mercado europeu após o início da guerra da Ucrânia.
Então, as cargas russas passaram a ser boicotadas pelos países da União Europeia e encontraram mercados na Ásia e na América Latina. O CBIE reconhece o efeito do diesel russo na defasagem real do preço Petrobras. Quando se tem um produto como o diesel russo, vendido a preço abaixo do mercado internacional por conta dos embargos, isso reduz a diferença entre o preço do importado e do que é fabricado no País. Um diesel mais barato é bom para o Brasil. Mas, mesmo com a presença do produto russo, ainda há uma defasagem no preço da Petrobras. As flutuações do câmbio afetam igualmente o diesel russo, também negociado em dólar. O câmbio tem sido um fator de peso, caindo e reduzindo a pressão sobre a defasagem nos últimos dias após a alta verificada no início do mês. À frente, o diesel russo será dominante no Brasil, mas com volume flutuando em função das condições do mercado doméstico e mundial.
O mesmo vale para a defasagem dos preços da Petrobras, beneficiada nos últimos dias pelo arrefecimento do câmbio. De toda forma, não há previsão de reajustes no horizonte. É pouco provável que a Petrobras faça alguma modificação enquanto a defasagem real for essa (entre 2% e 4%). Na gasolina, a diferença (ante o PPI) estava acima de R$ 0,50 por litro e a Petrobras fez um reajuste de R$ 0,20 por litro. Os critérios utilizados não são bem conhecidos. Como fatores de risco para os preços do derivado pode-se citar uma temporada de furacões mais intensa; risco às refinarias russas na guerra com a Ucrânia; e uma queda da taxa de juros norte-americana nos próximos meses, que pode reforçar o consumo e pressionar o preço do diesel na maior economia do mundo. Houve períodos entre 2023 e 2024 em que sequer existiu defasagem com relação aos preços de importação de diesel que vigoravam no mercado. O aumento da produção doméstica reduziu a pressão logística associada ao abastecimento nacional.
De fato, conforme apurado pela StoneX, as importações nacionais recuaram de 28% em 2022, para 25% em 2022 e 23% em 2024 até o momento, fenômeno diretamente ligado ao aumento da produção em refinarias da Petrobras. A Argus detalha que o preço do diesel russo vinha sendo vendido nos portos brasileiros US$ 0,25 mais barato por galão que o negociado na Bolsa de Nova York, o que dá uma diferença nada desprezível de R$ 0,36 por litro. Esse diferencial, no entanto, tem caído nas últimas semanas para algo em torno de US$ 0,17 por galão ou R$ 0,24 por litro. Essa redução do desconto explica a redução relativa do produto russo no mercado brasileiro na passagem de maio para junho e pode configurar um novo normal. A Rússia está jogando um pouco mais duro agora. Percebeu que o desconto ante o preço dos Estados Unidos estava alto e está tentando aumentar as margens. Mas isso também pode refletir um aumento da demanda interna da Rússia, que é uma alavanca importante nessa formação de preço. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.