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22/Jul/2024

Gás Natural: descoberta na Bolívia favorece Brasil

A nova descoberta de gás natural anunciada pela estatal boliviana YPFB na semana passada é positiva para o Brasil, grande consumidor do produto importado, mas ainda precisa sem comprovada e não altera o ‘xadrez’ do combustível na América do Sul a curto prazo. Ao menos por ora, não se trata de uma alternativa à solução do gás argentino que pode chegar ao Brasil no futuro próximo para compensar as quedas no envio de molécula boliviana. O anúncio do governo boliviano dá conta de um "megacampo" ao norte do território a nordeste da capital La Paz. Seriam, a princípio, mais 1,7 trilhão de pés cúbicos (TCFs), que poderiam chegar a 7 trilhões se consideradas outras estruturas semelhantes dentro do que a YPFB definiu como uma nova bacia na área dos departamentos contíguos de La Paz e Beni. Na ocasião, foi falado em uma "segunda era na produção de hidrocarbonetos" da Bolívia.

A YPFB projeta que a produção desse gás novo vai começar em três anos, o que os especialistas consideram muito pouco tempo. A YPFB não terá parceiros no desembolso dos recursos necessários ao desenvolvimento da produção e avalia a construção de um gasoduto ligando a região produtora à cidade de Sica Sica, ao sul da capital La Paz. O Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) considera o anúncio positivo porque a produção de gás boliviana cai há anos, mas afirma que é "temerário" dimensionar a descoberta a partir do sucesso de um único poço (Mayaya Centro X-1). Além disso, mesmo que os volumes e sua comercialidade se confirmem, ainda será preciso construir infraestrutura de escoamento, o que requer investimentos nem sempre fáceis de atrair no caso boliviano, que é marcado por tributação bem acima da média mundial para o setor, instabilidade política e histórico de estatizações forçadas.

Serão necessários mais esforços exploratórios para confirmar a real dimensão da descoberta e, eventualmente, mais de três anos para que esse gás chegue ao mercado. há dúvidas sobre quem vai colocar o dinheiro para desenvolver esses campos e o escoamento do gás. Isso é complicado porque a Bolívia tem um sistema tributário com royalties muito altos, que tomam 85% ou mais da receita. Ainda faltam trabalhos exploratórios para se confirmar o potencial de longo prazo do novo campo e há falta de infraestrutura. Em seis meses, com o desenvolvimento da campanha exploratória, o mercado terá uma clareza maior sobre a descoberta, mas estima que sejam necessários pelo menos US$ 1 bilhão em investimentos para viabilizar a produção e o escoamento do gás. Seriam pelo menos a cinco ou seis anos de ver uma produção nova. Foi um anúncio um pouco mais político.

Há sim uma descoberta, mas ainda não se sabe a magnitude do descobrimento. Pela localização, o novo gás poderá servir ao consumo interno, liberando volumes produzidos em outras regiões para exportação ao Brasil. Ainda assim, ao menos por ora, nada muda para o mercado brasileiro que se movimenta para obter o gás argentino do campo de Vaca Muerta. Em que pese a maior afinidade ideológica do presidente Lula com o presidente da Bolívia, Luis Arce, na comparação a Javier Milei, da Argentina, a condução no setor tende a se manter pragmática em prol da diversificação das fontes do gás trazido pelo Gasbol. No caso do gás argentino, aliás, as tratativas devem ser naturalmente protagonizadas pelo setor privado, com contratos entre empresas e não entre governos e estatais (Petrobras e YPFB), como acontece na Bolívia.

Em 2025, algum gás argentino deve começar a chegar no Brasil de forma "interrompível", no verão, após a reversão do gasoduto que que conecta a região produtora à Bolívia, onde alcança o Gasbol. Nos anos seguintes, esse gás pode começar a entrar no País por Uruguaiana (RS). O gás argentino agora é muito importante para os três países. A Argentina tem muito gás que não vai ter mercado. A Bolívia tem o transporte, que está ficando vazio, e o Brasil precisa de gás competitivo. Há várias negociações privadas em curso para contratação de gás argentino a partir de 2025, que vão avançar ao largo da política. O ideal para o Brasil é não fazer escolhas políticas, mas ter as duas opções (Argentina e Bolívia) fortalecidas o quanto antes. Isso permitiria alcançar flexibilidade física e poder de barganha para contratos, sobretudo quando o preço do GNL segue mundialmente pressionado pela guerra na Ucrânia e restrições à produção russa.

Há ceticismo e cautela com relação ao anúncio da YPFB, com destaque para o caráter político do anúncio em um país que vê a produção despencar e acabou de superar uma tentativa de golpe de estado. A produção de gás da Bolívia despencou nos últimos anos, da casa dos 50 milhões de m³/dia em 2018 para pouco mais de 30 milhões de m³/dia em 2024, um patamar que ainda deve cair mais nos próximos anos. Soma-se a isso, a crise de credibilidade relacionada à estimativa de reservas totais do País, o que não é oficialmente divulgado desde 2018, quando a YPFB atestou um total de 8,95 TCFs de gás. A expectativa inicial da YPFB é que a nova fonte, uma vez viabilizada, acrescente 10 milhões de m³/dia à essa produção e amplie significativamente as reservas totais da Bolívia. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.