16/Jul/2024
Positiva para o Brasil, a alardeada retomada da produção de fertilizantes pela Petrobras tende a trazer enormes desafios para a estatal. Desde a necessidade de modernização das plantas existentes à escassez e preço alto do gás natural, a companhia terá que investir milhões se quiser reduzir a dependência do País na área. Além disso, ainda terá que estar atenta à velocidade da transição energética, com a demanda cada vez mais voltada para as versões “verdes” dos produtos usados no agronegócio, ou seja, sem usar combustíveis fósseis, como o gás natural. A pressão para que a Petrobras acelerasse a entrada no setor foi um dos motivos da demissão do ex-presidente Jean Paul Prates. Já na posse, a nova presidente, Magda Chambriard, fez questão de deixar claro que está totalmente alinhada com a visão do presidente Lula nesse setor. E o que Lula quer é reduzir a dependência do Brasil da importação de fertilizantes, hoje em torno de 85% do total da demanda, ou cerca de 7 milhões de toneladas anuais.
Isso em um País onde a produção agrícola não para de crescer e vai demandar cada vez um volume maior de fertilizantes. No dia 9 de julho, a estatal deu mais um passo nessa direção, com o avanço nas negociações para uma parceria com a Yara, uma das três maiores produtoras globais de fertilizantes, o que poderá acelerar o ganho de escala que o governo brasileiro almeja. Se nada for feito, o Brasil pode se tornar nos próximos dois a três anos o maior importador mundial de fertilizantes, ultrapassando a Índia, que vem aumentando sua produção interna, informa a Stonex. Do lado da Petrobras, o foco é a produção de nitrogenados, que serão utilizados para fazer amônia e ureia a partir do gás natural. No passado, por meio da Petrofértil (hoje Gaspetro), criada no início da década de 1970, a estatal atendia parte do mercado, mas nunca conseguiu abranger toda a demanda. E nem será desta vez, destaca o Rabobank Brasil, que considera uma tarefa quase impossível a autossuficiência.
A volta da Petrobras ao setor está ligada ao Plano Nacional de Fertilizantes, lançado em 2022, após a crise no setor trazida pela guerra na Ucrânia, e renovado agora no governo Lula. Na versão anterior, a iniciativa privada seria a responsável pelo aumento da oferta. O Brasil levou um susto com a invasão Rússia à Ucrânia. O preço dos fertilizantes disparou até três vezes do que era, e teve risco de faltar, o que seria um desastre para um país agrícola com o Brasil, então foi criado o Plano Nacional de Fertilizantes. O Brasil entendeu isso como uma política importante para a continuidade da agricultura no País, porque sem fertilizante não se produz. É isso que mais espanta: é um País que abastece o mundo inteiro e não produz fertilizante. Mesmo com o “susto”, a iniciativa privada não abraçou o Plano lançado pelo governo e agora a Petrobras foi novamente escalada para resolver o problema, como aconteceu também na época da criação da subsidiária Petrofértil, em 1970, fundada por causa da crise do petróleo.
Atualmente, empresas internacionais do setor, como Mosaic e Yara, contribuem com uma parte da oferta no Brasil, mas que não chega a 20% da demanda. Com a volta da Petrobras, a expectativa é de que a produção atinja entre 2 milhões e 2,5 milhões de toneladas anuais, o que só deve ocorrer no final desta década. De acordo com a Stonex, a primeira planta a ser reativada, no Paraná (Ansa), é muito antiga e terá que passar por muita modernização para ser eficiente. Hibernada no governo Bolsonaro, a Ansa, inaugurada em 1982, já não operava bem, ficando mais tempo parada do que produzindo. Já as duas fábricas de fertilizantes da Região Nordeste, em Sergipe e Bahia, são mais modernas que a do Paraná, mas também foram construídas na década de 1980 e ainda sofrem com a falta de gás natural para operar, tanto que a Unigel não deu conta e devolveu as unidades para a Petrobras. Mas, agora, com a descoberta de reservatórios de gás na Região Nordeste, é possível que a estatal consiga colocar essas fábricas em operação.
A melhor das fábricas da estatal é a de Mato Grosso do Sul (Fafen III), que por não ter sido concluída ainda pode passar por uma modernização para atender o novo perfil de mercado, voltado para a descarbonização. A Fafen III está 80% construída e quase foi adquirida por uma empresa russa (Acron) no governo anterior. Com a troca de gestão, a unidade será concluída e deve utilizar o gás argentino da região de Vaca Muerta, que será trazido pelo Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), se as negociações entre os três países derem certo. Se conseguir trazer o gás de Vaca Muerta pela Bolívia para Mato Grosso do Sul, se resolve o problema logístico e está no centro consumidor agrícola. Seria bom, mas é uma tecnologia mais ultrapassada. No mundo, hoje em dia, todos os investimentos estão saindo com a pegada de carbono, e partir do gás natural, que é um combustível fóssil, é bem complexo. Mas, no curto prazo, o Brasil precisa disso, para reduzir a importação, mas aparentemente não vai ser uma operação economicamente viável, porque o gás é um problema no Brasil. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.