27/Jun/2024
Maior cooperativa da Índia, com organizações que reúnem mais de 50 milhões de produtores rurais, a Indian Farmers Fertiliser Cooperative (IFFCO) está trazendo para a agricultura brasileira uma tecnologia altamente inovadora: os nanoinsumos. Esses produtos nada mais são do que insumos, como fertilizantes ou defensivos, feitos com nanotecnologia, uma estrutura que permite aos produtores obterem resultados muito melhores com a aplicação de um volume bem menor de insumos. Para entrar no mercado brasileiro, a cooperativa e seu braço de pesquisa, a Nanoventions Private Limited (NVPL), vão, inicialmente, licenciar e comercializar os produtos no Brasil à Nanofert, uma empresa criada pelos empreendedores Fausto Caron e Ritesh Sharma. Em algum momento, eles devem produzir os nanoinsumos no País. O uso de nanotecnologia na agricultura já é objeto de estudos em alguns locais e consta até como uma proposta de desenvolvimento do Plano Nacional de Fertilizantes, mas o projeto da Índia é a primeira iniciativa de adoção comercial da tecnologia que já tenha histórico de vendas.
Os fertilizantes químicos são usados há muito tempo, e esqueceu-se do sistema orgânico do solo. Com o tempo, o solo foi ficando fraco, a microbiota foi afetada. As pessoas começaram a querer controlar o uso. A cooperativa começou a pesquisar o desenvolvimento de nanotecnologia em 2017, e em 2019 saíram os primeiros resultados. Os testes começaram em 2020, quando intempéries afetaram a produtividade das lavouras indianas. Mesmo em condições adversas, as terras que receberam os nanofertilizantes tiveram desempenho melhor. A diferença está no princípio da nanotecnologia. Ao dividir as partículas dos insumos em escala nanométrica, é possível ampliar a área de cobertura do produto, permitindo que cada molécula atue na planta. É como se tivesse uma maçã. Ao dividi-la em pedaços bem finos e colocá-los um ao lado do outro, a área de cobertura da maçã aumenta. As aplicações são foliares e em determinados momentos do desenvolvimento da planta. Melhorar a utilização do insumo combate a principal “dor” dos produtores no uso dos fertilizantes, que é a alta perda do produto para a natureza.
A planta consome apenas 20% a 30% dos fertilizantes químicos que vão ao solo; o restante se dissipa como gás ou se perde na terra. Normalmente, 1 Kg de ureia emite 8 Kg de óxido nitroso, poluente com 300 vezes mais impacto sobre o aquecimento global do que o gás carbônico. Uma garrafa de meio litro de nanoureia líquida consegue substituir 1 saca de 50 Kg de ureia granulada e, na Índia, é vendida por metade do preço. No lado ambiental, um teste concluiu que a nanoureia emite 20% menos carbono equivalente que a ureia convencional, mas o percentual pode variar conforme ecossistema e cultura. Em 2023, a cooperativa lançou o NanoDAP, o primeiro produto que a Nanofert quer trazer ao Brasil. Testes que a Nanofert encomendou à Fundação MT, realizados em lavouras experimentais de soja em Itiquira (MT) na safra 2023/2024, mostraram que a produtividade em áreas que receberam NanoDAP em complemento ao MAP (sem redução de aplicação) foi 5 sacas por hectare mais alta. A ideia é ser complementar aos fertilizantes tradicionais, diz a Nanofert.
O produto já está em testes em outras culturas, como cana-de-açúcar. A Nanofert quer trazer ao Brasil outros nanoinsumos do portfólio da IFFCO, entre eles, nanobioinseticidas, e ofertá-los a preços competitivos. Quer também desenvolver tecnologia e produtos adaptados à realidade brasileira. Para a IFFCO, a estratégia deve priorizar o desenvolvimento do mercado e a construção da marca no Brasil. Só depois ela deve apostar na produção local e no ganho de escala. A IFFCO já vendeu 8 milhões de garrafas de nanoureia na Índia desde 2021 e, desde o ano passado, 6 milhões de garrafas de NanoDAP. No país, a maioria dos produtores é de pequeno porte. No Brasil, a Nanofert vê um mercado potencial de US$ 8 bilhões ao ano. Estimativas do mercado de fertilizantes especiais preveem crescimento de 50% ao ano na próxima década. A IFFCO mantém contato com cerca de 40 países para disseminar os nanoinsumos. A estratégia é: primeiro fazer pesquisas de adaptação da tecnologia para depois desenvolver formas de uso em cada local. A ideia é fazer pesquisas conjuntas com outros cientistas. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.