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26/Jun/2024

CRA sênior da Yara não tinha fiança e atraso no pg surpreende investid

No final da noite de sexta-feira do dia 21 de junho, a XP Investimentos comunicou aos clientes que possuíam aplicações nos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) da Yara Brasil Fertilizantes, previsto para ser liquidado no dia anterior, que os valores não foram integralmente pagos. A razão foi o inadimplemento de nove das 26 empresas que possuíam operações comerciais com a multinacional e cujas dívidas foram o lastro para a emissão do título. O CRA é um produto financeiro estruturado e complexo. Uma empresa chamada Securitizadora, nessa operação específica a Ecoagro, emite títulos que representam valores a receber que têm como origem uma determinada transação comercial. No caso, a procedência foram créditos decorrentes da venda de insumos agrícolas pela Yara para um grupo de 22 revendedores e quatro cooperativas para pagamento a prazo.

Para usar o jargão de mercado, esses “recebíveis” foram “securitizados” pela Ecoagro e transformados no CRA da Yara. Por meio de uma oferta pública coordenada pela Alfa Corretora, os CRAs da Yara foram vendidos no mercado. De acordo com o anúncio de encerramento da emissão, do dia 3 de julho de 2023, o montante dos CRAs do tipo sênior vendido foi de R$ 198.870.000 e o montante dos CRAS do tipo subordinado mezanino vendido foi de R$ 50.668.000. No total, a operação chegou a quase R$ 250 milhões. Aproximadamente 70% dos CRAs da Yara, tanto do tipo sênior quanto subordinado mezanino foram vendidos para instituições financeiras. O restante ficou com instituições financeiras ligadas à emissora ou participante do consórcio de distribuição e fundos de investimento. Segundo o comunicado da XP, que possui clientes que compraram os CRAs da Yara, devido ao não recebimento dos valores totais, alguns procedimentos tiveram que ser adotados.

Os recursos recebidos das companhias adimplentes foram destinados ao pagamento parcial dos CRAs do tipo sênior. Já os CRAs do tipo subordinado mezanino permanecem em aberto em sua integralidade. De acordo com o termo de securitização do CRA da Yara, os títulos subordinados mezanino possuem fiança da empresa. Para esses, o comunicado da XP diz que “o pagamento da fiança da Yara quitará os CRAs subordinados mezanino, em sua totalidade, no dia 26 de junho”. Já o pagamento dos CRAs do tipo sênior dependerá das negociações realizadas pela securitizadora com as companhias inadimplentes. De acordo com o comunicado da XP, “segundo a Ecoagro, deverão ser pagos em grãos, valores que mais que cobririam o saldo em aberto dos CRAs sêniores até o dia 30 de junho. A liquidação financeira dos grãos ocorrerá em 30 de julho”.

Na prática, o investidor que comprou CRAs da Yara sem ler em detalhes o Termo de Securitização, especialmente a seção “Fatores de Risco”, no Anexo V pode ter ficado com a impressão de que o CRA da Yara do tipo sênior tinha algum tipo de garantia da multinacional. No total, o documento tem 165 páginas. A parte que trata sobre os riscos da operação começa na página 94 e termina na 117 e lista mais de 45 fatores de risco que podem afetar o resultado do investimento. Entre eles, está explicitamente descrito que a Yara não dá garantia para cota sênior da emissão. Por essa razão, a taxa de remuneração original do CRA do tipo sênior era de CDI + 1,87% a ano. Mais do que a remuneração do CRA do tipo subordinado mezanino, que era de CDI + 1,70% ao ano. Existe a probabilidade concreta de que o CRA da Yara do tipo sênior seja pago no dia 30 de julho. Mas fica a lição para os investidores nessa modalidade de operação para cobrarem informações precisas sobre as condições CRA nos próximos investimentos. Fonte: Globo Rural.