25/Jun/2024
O governo Lula avalia um conjunto de medidas emergenciais para socorrer a indústria eólica. Há dois anos, o segmento vê minguar a quantidade de novos projetos de geração e, consequentemente, o volume de pedidos de equipamentos, como turbinas, pás e outros componentes. A crise tem pelo menos dois problemas que se retroalimentam. De um lado, há excesso de oferta de energia no mercado regulado (aquele atendido pelas distribuidoras de energia elétrica), que torna desnecessária a realização de leilões e pressiona os preços da energia no mercado livre e inibe novos empreendimentos. De outro lado, há uma acentuada queda nos preços dos painéis solares no mercado internacional. Esse movimento afeta a competitividade das eólicas em projetos de grande porte ante os empreendimentos fotovoltaicos. Ao mesmo tempo, estimula a instalação de novos sistemas de geração distribuída (GD), o que reduz o mercado das distribuidoras. No segmento, comenta-se como uma das alternativas do governo a criação de incentivos à exportação de equipamentos.
Isso ajudaria a indústria nacional a buscar espaço como fornecedora de países na dianteira dos investimentos voltados à transição energética, como Estados Unidos e nações europeias. Seria uma forma de tirar a pressão de curto prazo das fábricas e evitar novas demissões e fechamentos de linhas de produção. Desde meados de 2022, nomes importantes da indústria eólica, como a GE e a Siemens Gamesa, já deixaram de produzir no País. Mais recentemente, a WEG também anunciou que vai interromper a produção de turbinas eólicas em Jaraguá do Sul (SC) a partir do segundo semestre e focar no mercado norte-americano, enquanto a espanhola Acciona reduz sua presença no País no segmento. Sem novas encomendas no mercado nacional, a fabricante de pás eólicas Aeris demitiu 1,5 mil empregados. Em meio à crise do setor, a empresa chegou a ser envolvida em rumores no mercado de que poderia ser vendida, o que até o momento não se confirmou.
A fabricante de origem dinamarquesa Vestas, que dominou o mercado brasileiro de turbinas nos últimos anos, também tem sido mais enfática em alertar sobre os problemas enfrentados pela indústria local. Embora a situação atual da empresa não seja problemática, diz-se no mercado que a perspectiva é de que o chão de fábrica pode ficar vazio nos próximos dois anos. Recentemente, executivos da empresa estiveram com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para discutir medidas para isonomia competitiva do setor eólico brasileiro. A outra opção analisada no governo é fazer ajustes em linhas de crédito para financiamento e em tarifas para importação de equipamentos. Também se cogita a exigência de conteúdo nacional em projetos solares financiados por bancos públicos, como o Banco do Nordeste (BNB). A avaliação é de que as medidas seriam um elemento para reequilibrar a competitividade frente às usinas solares, uma vez que os painéis solares são importados da China.
Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (Abeeólica), o índice de nacionalização de um aerogerador chega a 80%, enquanto no segmento solar esse é o porcentual de importação. Existe uma assimetria nas condições de financiamento entre eólica e solar, porque a solar é 80% importada e a eólica é 80% nacional. Outra medida não descartada é o aumento da alíquota para importação de equipamentos chineses, o que funcionaria como uma maneira de “segurar” as compras internacionais do produto. Esse movimento já vem sendo percebido no resto do mundo, que tem adotado medidas protecionistas para conter o avanço de produtos chineses. Recentemente, os Estados Unidos anunciaram um pacote de aumento de tarifas sobre os produtos chineses ligados à tecnologia, como veículos elétricos, semicondutores, baterias, células solares, aço e alumínio. No caso dos painéis, a taxa subiu de 25% para 50%. Levantamento da consultoria Greener aponta que, no acumulado de 2023, os sistemas de geração de energia fotovoltaica ficaram quase 30% mais baratos do que em 2022.
Em janeiro deste ano, a média de preços para os sistemas residenciais de 4 quilowatts-pico (kWp) foi de R$ 3,17 e o prazo para recuperação do investimento ficou 25% menor para instalações locais e residenciais. Com isso, no primeiro trimestre houve importação recorde de módulos, alcançando a capacidade de 5,6 gigawatts-pico (GWp). Deste montante, 1,7 GWp foi para projetos de grande porte. Diante de relatos sobre a crise no setor, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) criou um grupo de trabalho para discutir a estruturação da cadeia do setor, que concluiu no meio de junho um documento com demandas e propostas da área, sob relatoria da Abeeólica. O documento, encaminhado à Casa Civil, é dividido em oito eixos, com propostas de ações para curto e médio prazos. Além das medidas citadas, o MDIC informou, em breve nota sobre o assunto, ações como a inclusão das baterias associadas a geração renovável no Leilão de Reserva de Capacidade modalidade Potência de 2024 e o fomento ao setor de serviços dedicados à indústria de instalação, comissionamento e manutenção de turbinas eólicas e aerogeradores. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.