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24/May/2024

Entrevista com Venilton Tadini - presidente da Abdib

Segundo Venilton Tadini, presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), o processo de transição energética em curso no mundo todo é a grande oportunidade de recuperar a indústria nacional, hoje bastante fragilizada. Isso pode colocar o Brasil novamente entre os principais players do mundo na produção industrial, que o País perdeu. O setor está numa posição bastante fragilizada, com a participação da indústria no PIB debilitada, em torno dos 10%. O Brasil tem hoje as melhores condições para liderar a transição energética global. Para isso, é preciso transformar as vantagens comparativas em vantagens competitivas capazes de elevar a capacidade da indústria para atender o mercado. O País não pode deixar escapar essa oportunidade. O setor de infraestrutura deve investir neste ano cerca de R$ 235 bilhões, 77% aportes da iniciativa privada, volume 10% maior que em 2023, quando foram investidos R$ 213 bilhões, sendo 43% no setor de energia. Segue a entrevista:

Como o sr. avalia o quadro econômico diante da grande necessidade de investimentos no País?

Venilton Tadini: Temos uma situação complexa, seja de natureza estrutural, conjuntural, institucional e política - da relação entre os Poderes. Na parte econômica, o que podemos falar é que verificamos alguns avanços importantes do ponto de vista estrutural e da nossa inserção internacional, que está na direção correta em relação às diretrizes que estão sendo colocadas pelo governo federal, que é aproveitar as oportunidades da transição energética. Nós nos colocamos como um ator importantíssimo nesse processo que o mundo está vivendo. Isso é fundamental.

E como podemos aproveitar essa oportunidade?

Venilton Tadini: Temos de transformar a vantagem comparativa das fontes limpas da nossa matriz energética em vantagem competitiva para dotar a indústria de capacidade para atender às demandas em relação à transição energética, não só das fontes renováveis como também nos processos de integração da infraestrutura. Uma questão que é fundamental: é preciso ter um norte na estratégia de desenvolvimento. Estou falando na neoindustrialização e no apoio a indústrias absolutamente novas. Isso não só pelo que vai ocorrer e está sendo enfatizado de apoio em inovação tecnológica nos segmentos existentes, como também é possível trabalhar para não ser dependente no futuro, por exemplo, de baterias, estruturas de eletrólise para fazer o hidrogênio verde e de aproveitar tudo isso no uso do hidrogênio verde. A gente tem de fazer mais do que produzir energia para exportar ‘in natura’ como commodity. Nós precisamos usar esse desenho para fazermos produtos verdes e sermos mais qualificados na concorrência internacional.

Estamos atrasados nesse processo?

Venilton Tadini: O que a gente percebe, principalmente na Europa, é que o pessoal adora falar da questão ambiental. Mas, do ponto de vista da utilização dos recursos, eles usam até hoje carvão como combustível. Nós temos condições e a possibilidade de transformar os nossos produtos com essa energia verde dando a eles maior condição de competitividade da forma que o mundo dá hoje. Mas, cada vez que a gente tem um avanço, há também um aumento da régua para dizer que o nosso produto não é tão verde assim, que há problemas na Amazônia. Essa é uma questão que a gente tem de enfrentar. Mas isso pode nos colocar novamente entre os principais atores do mundo na produção industrial, que nós perdemos. Estamos numa posição bastante fragilizada, com a participação da indústria no PIB debilitada, em torno dos 10%. Acredito que a transição energética, com a neoindustrialização e inclusão social é um desenho importantíssimo na definição da estratégia de desenvolvimento.

Como o sr. vê os investimentos na transição energética?

Venilton Tadini: Eu sempre digo que a gente tem de tomar cuidado, porque os investimentos que têm sido feitos para desenvolver hidrogênio no Brasil têm como destino o mercado externo. O objetivo é exportar commodity. Para nós, o hidrogênio verde tem de ser priorizado para a nossa neoindustrialização, para ter produtos verdes, para que a gente tenha uma inserção competitiva que os outros não têm igual o Brasil. E cada vez que a gente avançar nisso, (a concorrência) vai mudando. A Europa vai mudando as regras. A OMC vai mudando as regras. A gente já viu isso com os Estados Unidos. O álcool brasileiro não pode entrar lá. Temos uma condição ímpar nessa área. Eu fico alucinado quando começam a falar da derivada da quarta do déficit primário. Será que eles têm noção do quanto está sendo feito com o programa do Inflation Reduction Act (lei de redução da inflação, que prevê uma série de investimentos verdes com destaque para a produção de energia renovável) nos Estados Unidos? São US$ 2 trilhões com a economia aquecida. E aqui a gente tem de cravar um déficit primário para ter uma inflação anual abaixo de 3%. Aí dizem: ‘É preciso crescer e tal’. Quando você cresce, a dívida pública em relação ao PIB cai. Se toda vez se faz uma política onde meu corte de gasto público é investimento, o PIB não vai crescer. Ele cresceu o ano passado por causa do Bolsa Família e alguns auxílios específicos. O investimento foi negativo. O investimento de infraestrutura cresceu, mas a indústria precisa de demanda. (Renée Pereira)

Fonte: Broadcast Agro.